Oficina virtual de fotografia: Fotografe o que você conhece

Uma das regras que se dissemina para aqueles que querem começar a escrever é: “escreva sobre o que você conhece”. É uma boa dica, pois é mais provável que você crie uma história melhor sobre aquilo que já viveu, sentiu ou experimentou. Talvez possamos pensar na mesma ideia para a fotografia.

Temos uma ideia pré-concebida daquilo que vale a pena ser fotografado. Paisagens fantásticas, viagens extraordinárias, eventos especiais. É claro que essas coisas merecem fotografias, mas elas são uma parte muito pequena das nossas vidas. A melhor história que você pode contar com a sua câmera é aquela que você vive cotidianamente, com a qual tem intimidade e proximidade. Podemos achar que essa nossa história não tem nada de fantástico que justifique fotografar, mas é um engano: se você souber olhar, uma ida à padaria pode ser tão interessante quanto um cruzeiro marítimo.

Proponho, então uma série de exercícios a fim de direcionar o olhar e o fazer fotográfico para o familiar, o cotidiano, o simples.

Xiu Xiu
Xiu Xiu

1. Olhe a sua volta
O que faz parte da sua vida? Quais são os lugares que você frequenta diariamente? Por quais ruas você passa? Com que pessoas interage? Com quem você convive? O que você ama? O que você odeia?

Tente fazer uma lista com as respostas para essas perguntas. Apenas registre, catalogue. Passe a fotografar mentalmente conforme você vive seu dia a dia. Faça um inventário do que é fotografável do seu cotidiano. Coloque no papel, crie categorias, divida por assuntos ou temas. Leve o tempo que quiser nessa etapa. Se tiver que passar meses só olhar, que seja.

2. Reconheça
A partir das coisas que você listou fotograficamente no primeiro exercício, comece a explorar o significado dos lugares, a relação afetiva com as pessoas, os detalhes dos ambientes em que você vive. Tente pensar no que define cada pessoa, na beleza que há nos seus caminhos, na essência de cada momento. Não fotografe nada. Apenas repare, note, descubra. Olhe para seus sentimentos, suas sensações e seus pensamentos a cada momento que você reconhece algo como relevante. Depois, anote tudo isso, se quiser. Mais uma vez, leve o tempo que quiser: “cozinhe” as ideias na sua cabeça à vontade.

3. Fotografe
Agora é a hora de fotografar tudo aquilo que você passou a perceber e a valorizar nos exercícios anteriores. Aqui você pode estudar qual a melhor técnica, o melhor equipamento, a melhor luz e a abordagem que você vai usar para que a fotografia mostre as coisas que você vive tais quais você as enxerga. Pense na relação que você tem com cada lugar ou pessoa, e tente fazer com que isso esteja presente de alguma forma nas fotografias. Entretanto, seja honesto: sua vida não precisa de retoques. A questão aqui é encontrar o valor nas coisas como elas são e não criar uma reinterpretação fantástica.

4. Conte sua história
Por último, você pode criar uma série de fotos. A edição, ou seleção das fotos que entram ou saem, sempre é algo difícil. Geralmente temos problemas em dizer não para aquilo que produzimos. Mas uma série curta, que tenha força naquilo que expressa, é melhor do que uma série longa, prolixa e repetitiva. Apague sem dó. Não use a estética ou os aspectos técnicos como o principal critério para escolher as fotos. Lembre-se de que não se trata de agradar os outros ou de atestar a sua capacidade como fotógrafo, mas sim de reconhecer o valor naquilo que o cerca. As diretrizes devem ser, então, a relevância afetiva e a autenticidade. Se você vê na foto aquilo que vê na vida, a foto ficou boa. Foco, enquadramento e outros aspectos são menos importantes aqui.

Não se preocupe em criar nada extraordinário, nem com a opinião de pessoas que não façam parte da sua vida. Faça esses exercícios por você e pelo que vive. Preste uma homenagem. Use sua câmera como um instrumento de reconhecimento e valorização daquilo e de quem você escolheu fotografar. Pois são essas pessoas, espaços e lugares que compões a sua vida, é isso que você é.

Fotografia contemplativa

A fotografia é uma atividade que envolve uma série de processos mentais. Pensamos no que fotografar, em que ângulo, com que luz, qual lente, que abertura, velocidade etc. Com isso, ao fotografar, temos em nossas mentes uma série de filtros, regras, expectativas e concepções. Tudo isso ocorre porque fotografamos querendo um certo resultado. A partir dessa expectativa, elaboramos todo um quadro mental de como obter esse resultado. Geralmente, acreditamos que temos que buscar algo fora do comum, que seja impressionante, impactante, chocante.

Embora seja necessária quando se fotografa profissionalmente, quando a fotografia é apenas um hobby toda essa atividade mental pode nos fazer facilmente perder o contato com o momento. Nos voltamos demais para dentro das nossas mentes, o que nos impede de viver de fato. Há uma proposta, entretando, que vai justamente na contramão desse estado de espírito ao fotografar: a fotografia contemplativa. Continue lendo “Fotografia contemplativa”

Pense antes de fotografar

A ideia que a maior parte dos amadores têm sobre fotografar é levar a câmera consigo e produzir imagens aleatórias a partir daquilo que se vê, seja em situações cotidianas ou viagens. É uma espécie de loteria: procura-se algo interessante, escolhe-se um ângulo e dispara-se, na tentativa de produzir algo relevante. Algumas vezes dá certo, e há muitos bons fotógrafos que criam ótimos trabalhos dessa forma. Mas precisamos reconhecer que em 99% das vezes o resultado é apenas mais do mesmo: imagens triviais, desinteressantes, pouco expressivas. Pudera: neste exato momento há milhares de pessoas por aí tentando fazer boas fotos exatamente dessa forma.

E aí, é muito comum que se apresentem essas fotos com a pergunta: “como eu poderia melhorar essa foto?” E a maior parte dos conselhos ficam na própria foto, na sugestão de melhores enquadramentos, de um tratamento diferente etc. Entretanto, a análise não devesse se limitar à imagem em si, e englobar a ação do fotógrafo antes mesmo dele pegar a câmera. As boas fotos começam a ser feitas na cabeça do fotógrafo. A pergunta chave é: “existe um bom motivo para que eu faça essa foto?” Se você se abster de fazer fotos medianas, não precisará se preocupar em melhorá-las.

Veja esses ensaios (clique nas fotos para abrir):

West, de Matthias Heiderich
West, de Matthias Heiderich
Last Suppers, de James Reynolds
Last Suppers, de James Reynolds
Bodyscapes, de Jean-Paul Bourdier
Bodyscapes, de Jean-Paul Bourdier

O que eles têm em comum? Eles não são compostos por fotografias feitas aleatoriamente. Antes de mais nada, foi desenvolvido um conceito. E pode-se perceber que os conceitos ali foram muito bem trabalhados: o assunto, o recorte, a forma de fotografar, a visão do fotógrafo – e consequentemente a visão do espectador. Só depois disso tudo estabelecido é que as fotos foram de fato feitas. Repare que os autores não incluem nada que não esteja estritamente dentro da proposta. O desenvolvimento da ideia prevalece sobre o ato de fotografar em si, da mesma forma que um escritor pode passar mais tempo pesquisando do que escrevendo o seu livro.

Um bom trabalho de arte fotográfica envolve várias dimensões. Conceito, simbolismo, estética. Um trabalho completo, significativo, forte carrega uma história, uma mensagem, uma ideia. Fotografar a esmo esperando acertar em todos esses elementos não é a forma mais sensata de buscar um bom resultado. Também é inútil tentar basear apenas na estética uma foto sem conteúdo – isso é feito o tempo todo – e a foto, além de insossa, cansa rapidamente. O caminho, então, é justamente o oposto. Dentro de uma perspectiva conceitual, fotografar significa usar mais papel e lápis do que a câmera.

Sete dicas para fazer boas fotos com qualquer câmera

Quando começamos a fotografar mais seriamente, somos tentados a pensar que a qualidade das nossas fotografias está relacionada ao tipo de equipamento que usamos. Nos preocupamos com câmeras, lentes, tripés e outras bugigangas e não raro nos sentimos frustrados porque o dinheiro gasto não se reverte em fotos melhores. Isso acontece porque apenas uma pequena parte da qualidade das fotos tem a ver com o equipamento. Existem algumas condições muito específicas nas quais a câmera usada fará uma diferença significativa. No entanto, na maior parte do tempo, os resultados serão semelhantes independentemente do equipamento.

O que faz a diferença, então? Boas fotografias não são fotografias perfeitas tecnicamente. As boas fotografias podem ser agradáveis esteticamente, com conteúdo impactante ou eloquentes em suas mensagens. E isso tem a ver com a sensibilidade e criatividade do fotógrafo. Podemos listar algumas possibilidades de aprimorar as fotos que podem ser exploradas com qualquer tipo de câmera. Para ilustrar os pontos, escolhi fotos que não tem nenhum aspecto técnico especial, poderiam ser feitas com qualquer máquina sem grandes diferenças; seu diferencial está na exploração de aspectos que pouco têm a ver com o equipamento.


Derrick Tyson

1. Entenda a luz. A luz é o elemento fundamental de qualquer fotografia. Toda câmera é capaz de captá-la e transformá-la numa imagem bidimensional. Portanto, é útil entender a luminosidade e como ela altera cores, texturas, sombras e formas. Um bem exercício é posicionar um objeto qualquer, como um vaso, e fotografá-lo em diferentes condições de luminosidade, como, por exemplo, deixá-lo sob iluminação natural e fazer fotografias em diversas horas do dia.


Rie Lee

2. Explore o assunto. O que fotografar é a primeira pergunta que todo fotógrafo se faz. Não adianta ter a câmera mais moderna e arrojada do mercado, se vai se fotografar apenas as flores do jardim de casa. Se enxergamos a fotografia como um mero registro, as possibilidades são limitadas. Fotografar é como escrever, e o tema de um texto é mais importante do que a forma como se escreve. Então, o fotógrafo pode ir mais longe se perguntando “o que eu gostaria de contar hoje?”. Certamente você tem ao seu redor coisas muito interessantes a serem transformadas em relatos visuais.


Caesar Sebastian

3. Fortaleça a composição. Ao fotografar, temos uma moldura quadricular na qual podemos organizar, da maneira que quisermos, elementos do mundo que nos cerca. Dependendo de como realizamos essa organização, a mensagem visual pode variar muito. Faça experiências alterando objetos de plano, a posição em que aparecem no quadro, alterando a perspectiva. Perceba como essas mudanças alteram a percepção que temos da cena.


Adam Barlow

4. Use as cores. Ou não. Veja se, para o objetivo da sua fotografia, faz sentido usar as cores ou fotografar em preto e branco. As cores podem ser protagonistas de uma imagem, e podemos construi-la justamente para que isso aconteça. Mas quando queremos dar destaque para formas, texturas e jogos de luz e sombra, pode fazer mais sentido deixá-las de lado. A escolha é sua.


Okinawa Soba

5. Organize as formas. Uma vez que a fotografia é um plano, tudo que está contido nela são formas bidimensionais. Um treino interessante é transformar mentalmente os objetos que vemos no mundo tridimensional nas formas planas em que eles se convertem nas fotografias. Essas formas podem ser arranjadas de maneira a criar contrastes, equilíbrio ou desequilíbrio, harmonia ou incômodo.


Seyed Mostafa Zamani

6. Elabore mensagens. A fotografia é uma forma de comunicação poderosa, uma linguagem visual com a qual praticamente todas as pessoas estão habituadas. Portanto, ela também pode ser usada para expressar diretamente certos conceitos e ideias, muitas vezes com menos limitações do que a linguagem falada ou escrita. Montar mensagens visuais através da fotografia pode ser interessante. No entanto, é desafiador conseguir unir isso à uma estética que não deixem o conceito raso ou banal demais.


Natasha Mileshina

7. Crie. A fotografia não precisa ser só um mero registro. Ela pode ser uma atividade de expressão e satisfação pessoal. A liberdade é total, você pode fotografar o que quiser, como quiser. Portanto, pense em tudo que você quiser dizer, em tudo que quiser mostrar. Sua fotografia é o seu mundo: não haverá nenhuma outra igual. Faça dela a sua cara, sem se prender a padrões estéticos, normas ou regras. Daqui a 20 anos, um horizonte torto ou um pouco de ruído não terão a menor importância; o que importará é o que a sua fotografia diz.

Direitos autorais e direito à imagem

Muitos fotógrafos, especialmente os que estão iniciando na carreira, têm dúvidas sobre os direitos relacionados à cessão de fotos e à exploração da imagem de outras pessoas. Há muita confusão entre direito autoral e direito à imagem, que são coisas totalmente diferentes. Para tirar dúvidas mas específicas, elaborar contratos ou resolver algum caso de desrespeito a esses direitos, o ideal é consultar um advogado. Mas podemos dar uma olhada nas leis que regem os direitos de fotógrafos e fotografados.

A lei que engloba os trabalhos artísticos, como o fotográfico, é a lei de direitos autorais, nº 9610/98.

O artigo 7º diz que “São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro” e o inciso VII fala especificamente da fotografia: “VII – as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia;”

Vejamos o que diz o artigo 22 sobre a natureza dos direitos de autor:

“Art. 22. Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou.”

Ou seja, os direitos autorais dividem-se entre morais e patrimoniais. Os direitos morais, entre outros, são os de ser reconhecido como autor da obra e ter seu nome publicado na utilização da obra, ou seja, a de receber o crédito na publicação das fotos. Os direitos morais são “inalienáveis e irrenunciáveis”, o que quer dizer que você não pode vender a autoria da foto e o seu nome, como autor, sempre deve constar dos créditos, mesmo que a foto tenha sido vendida ou copiada da internet. Caso alguém publique sua foto sem os devidos créditos, ou com o crédito como “divulgação”, há uma quebra do seu direito de autor.

O artigo 79 fala especificamente da fotografia:

“Art. 79. O autor de obra fotográfica tem direito a reproduzi-la e colocá-la à venda, observadas as restrições à exposição, reprodução e venda de retratos, e sem prejuízo dos direitos de autor sobre a obra fotografada, se de artes plásticas protegidas.

§ 1º A fotografia, quando utilizada por terceiros, indicará de forma legível o nome do seu autor.

§ 2º É vedada a reprodução de obra fotográfica que não esteja em absoluta consonância com o original, salvo prévia autorização do autor.”

Quando você vende uma foto, na verdade está cedendo, total ou parcialmente, os direitos patrimoniais sobre a foto, mediante pagamento. Isso envolve o direito de utilizar, reproduzir, publicar, editar ou adaptar, entre outros. Você pode especificar no contrato de cessão de direitos patrimoniais qual a utilização está sendo cedida, para que fim, por quanto tempo etc. Quem compra não passa a ser dono da foto e sim passa a ter uma espécie de licença para o uso acordado entre as partes. Os direitos de autor cessam 70 anos após a morte, de forma que as obras passam a ser de uso público.

Mais um ponto interessante:

“Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser representadas livremente, por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais.”

Ou seja, você pode fotografar livremente obras que estejam na rua, por exemplo, como estátuas, edifícios, shows abertos etc.

Há uma iniciativa para a revisão da lei de direitos autorais, que envolve inclusive uma consulta pública. Para acompanhar o processo da revisão, basta acessar este site. Existem, ainda, aqueles que são contra a existência da propriedade intelectual, como o pessoal do Partido Pirata. Ou seja, a questão dos direitos autorais é polêmica e está sempre mudando, especialmente considerando nosso momento histórico de sociedade baseada na informação e de avanço muito rápido de tecnologias de comunicação e transmissão de dados.

Pois bem, os direitos autorais não se confundem com os direitos à imagem. O direito à imagem é um dos direitos à personalidade, referindo-se ao direito de um indivíduo sobre a sua própria imagem. O artigo 20 do Código Civil diz:

“Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.”

Ou seja, não se pode usar comercialmente a imagem de uma pessoa sem autorização. Há na internet vários modelos de contratos de cessão de uso de imagem que podem ser utilizados nessas situações. O uso não comercial da imagem, a fotografia de pessoas em locais públicos ou celebridades parece ainda ser objeto de controvérsia, já que as leis não abordam especificamente esses pontos.

É fundamental ao fotógrafo profissional ou que queira se profissionalizar o conhecimento dessas leis, seja para garantir que seus direitos sejam respeitados no exercício de sua atividade como para saber os limites que a fotografia têm, como a questão do uso da imagem alheia. Vale a pena conferir as leis na íntegra e acompanhar o processo de revisão da lei de direitos autorais para saber como isso pode afetar o seu trabalho.

Editado em 17/2/14 para atualização dos links.

RawTherapee

Já havia ouvido falar bastante do RawTherapee (RT), mas nunca tinha experimentado. Nesses dias, viajei e fiquei só com o laptop. Geralmente uso o conversor de RAW que veio com a minha arcaica câmera digital de seis megapixels e é baseado no SilkyPix. Pois bem, havia formatado o computador e esqueci de instalar o tal programa. Como não consigo me acertar com o Lightroom e muito menos o ACR, fui em busca de outro conversor. Parênteses: um conversor de RAW é um programa que transforma arquivos nativos da câmera (RAW) em arquivos visualizáveis ou imprimíveis, como JPEG e TIFF. Para saber mais, acesse o ABC da Fotografia em RAW. Fim do parênteses.

Entrei no site do RT e a primeira boa notícia: gratuito. Baixei, instalei e abri um lote de fotos. Fiquei impressionado com a interface inteligente e completa, junto com uma grande quantidade de recursos, bem mais do que o do meu antigo conversor. O programa inclui vários comandos para equilíbrio de tons e luminância (e curvas separadas para esses dois ajustes), misturador de canais, recuperação de altas luzes, redução de ruídos, ajuste de nitidez e diversos outros recursos que são comuns aos conversores, mas dispostos de uma maneira bastante acessível e fácil de utilizar.


Interface do RT

Ele não é tão completo em relação às operações de lote como o Lightroom, e vem apenas com dois perfis de ajustes de fábrica (não tem todos aqueles padrões bregas do LR). Mas é possível salvar os perfis e aplicar a um lote de fotos, agilizando o trabalho, especialmente para profissionais. Resumindo, é um conversor decente, com opções avançadas numa interface simples de usar. A versão atual é a 2.4.1, mas o Guaracy já deu a dica de que vem aí a 3.0. O RT passou a ser minha opção para tratamento dos RAWs, e em contrapartida já fiz uma doação através do site, um ótimo modelo de comercialização de programas, diretamente com o autor.

Para saber mais, é só acessar o site o RawTherapee.

Técnica e linguagem: Enquadramento

Uma das maiores decisões no processo de criação de uma fotografia tem pouco a ver com a operação da câmera. Todas as fotografias são quadrados ou retângulos, e é esse retângulo que o fotógrafo sobrepõe ao mundo e faz um recorte mais ou menos amplo que serve de base para o processo fotográfico. A grande escolha é o que colocar dentro desse quadro, o que mostrar.

Tão importante quanto aquilo que é mostrado, é também aquilo que opta por não se mostrar. O que está fora-do-quadro pode ser apenas inferido, imaginado, suposto. Esse jogo entre o que há e o que não há, entre o que é mostrado ou não, entre o claro e o obscuro, quando bem explorado, pode criar trabalhos extremamente interessantes ou instigantes. Nem sempre vale a pena mostrar tudo, de forma explícita.

Fica claro que há poucos aspectos técnicos envolvidos. Um deles pode ser a distância focal. As mais curtas, com maior ângulo de visão, permitem incluir mais elementos no quadro, criando um recorte mais amplo. Já as lentes mais longas levam a enquadres mais fechados, caracterizando um corte mais agressivo. O recorte não precisa ser pensado antes da captura ou se subordinar à distância focal da lente. O fotógrafo pode, através de programas de edição de imagens, realizar o recorte que quiser a partir de um arquivo gerado pela câmera. Abaixo seguem alguns exemplos de fotografias em que há o jogo entre o que é mostrado e o que está fora-do-quadro.

Aurelio Asiain
Aurelio Asiain

Conor Ogle
Conor Ogle

purplemattfish
purplemattfish

Romolo Milito
Romolo Milito

Laura Burlton
Laura Burlton

Técnica e linguagem: Movimento

Como já comentamos antes, a operação da câmera deve ser subordinada às ideias e intenções do fotógrafo, para que o processo criativo envolvido na fotografia seja mais completo. A manipulação da câmera de acordo com o conceito permitirá obter os resultados esperados e é o que pode fazer do ato fotográfico uma forma de expressão. Conhecer a técnica é útil para construir um discurso eloquente através da linguagem característica das câmeras.

Podemos abordar, como exemplo, uma questão simples. As câmeras fotográficas têm uma forma particular de lidar com o movimento. Projetadas para construir suas imagens a partir de frações ínfimas de tempo, a fotografia tem, geralmente, a característica de congelamento, necessário para produzir fotos nítidas e fáceis de entender. Quando não há condições para esse efeito de congelamento (e.g. falta de luz suficiente), o que está em movimento aparece na fotografia como um borrão. Continue lendo “Técnica e linguagem: Movimento”

E essa tal de técnica?

A técnica é provavelmente um dos assuntos mais discutidos entre fotógrafos, especialmente os amadores. No entanto, esse termo engloba muito mais do que os ajustes da câmera, alcançando um status quase mítico entre aqueles que se debruçam sobre a fotografia. Mas o que é, afinal, a técnica? E como ela se relaciona com outros aspectos da produção de imagens?

A técnica é o input, ou seja, o conjunto de instruções que damos ao equipamento, a forma de operar a máquina. Essa máquina pode ser a câmera fotográfica, um equipamento de iluminação ou um computador realizando o pós-processamento. Geralmente, quando se fala de técnica fotográfica, o assunto é a manipulação da câmera, notadamente ajustes de abertura, velocidade, ISO, distância focal, entre outros.

O que eu percebo é que a técnica é vista de forma distorcida, de diversas formas. Uma delas é a sobrevalorização. Acredita-se que saber fotografar é igual a dominar o input, ou seja, a apertar os botões.  Confunde-se o domínio da operação do equipamento com o domínio da fotografia como um todo, e frequentemente o fotógrafo amador se frustra ao conhecer todos os aspectos técnicos mas ainda assim não conseguir produzir fotografias de qualidade. Geralmente os cursos, sites e fóruns de fotografia destacam muito o desenvolvimento da operação do equipamento, deixando de lado outros aspectos do fazer fotográfico que são tão ou mais importantes do que a técnica.

Akshay Mahajan
Akshay Mahajan

Outro aspecto no qual ocorre distorção é a dicotomia entre técnica e criatividade. Acredita-se que existe uma técnica correta, única, e portanto limitadora de um fazer mais criativo. Algumas pessoas valorizam a não-técnica como uma expressão mais livre. No entanto, se há fotografia, é porque houve input. Se há input, há técnica. Mesmo que o input seja apertar o disparador segurando a câmera numa determinada altura virada para uma determinada direção, há algum técnica. Não se pode fugir disso.

Uma vez que a falácia da técnica correta é amplamente difundida, é natural que alguns fotógrafos busquem fugir disso, usando técnicas “erradas”. No entanto, essa é uma armadilha e o resultado provavelmente será tão inócuo quanto os obtidos pelos fotógrafos esmerados em produzir uma foto tecnicamente perfeita. Continua-se obedecendo cegamente a um preceito técnico, só que de forma inversa.

Camil Tulcan
Camil Tulcan

Se considerarmos que: a) sempre existirá uma técnica; b) não há técnica correta e c) a técnica não é é limitadora da criatividade, qual o real lugar da técnica na fotografia? A técnica, o modo de fazer, a operação, o input, são importantes, mas devem ser secundários e subordinados à intenção do fotógrafo, à ideia, à motivação que leva ao ato fotográfico. A técnica deve ser aliada do desejo do fotógrafo em expressar algo que está no mundo.

Se a ideia é apenas mostrar algo que existe, aquilo que é tido como técnica “correta”, que faz com que a fotografia seja bastante parecida com a realidade, é suficiente. Se a ideia é mostrar bagunça, movimento, então pode-se usar procedimentos para gerar fotos borradas, sobrepostas. Sensações de amplitude ou achatamento são obtidas através do uso de distâncias focais mais curtas ou longas. Subexposições ou superexposições são úteis para criar certas atmosferas de escuridão ou grande luminosidade. Ou seja, a fotografia apresenta uma enorme gama de possibilidades de expressão. Para isso, no entanto, o carro não deve ser colocado na frente dos bois, e os recursos técnicos não podem ser vistos como fim em si mesmos. Quando se consegue estabelecer um processo criativo em que se sabe o que quer e a técnica é bem empregada a fim de se obter aquilo que quer, os resultados são melhores e a fotografia se torna um processo mais completo e integrado.

Acertando os tamanhos de impressão de fotos

Nos tempos do filme, ampliar fotos era uma tarefa mais simples. Não havia muita preocupação com cortes, pois a foto não existia antes de estar no papel. Agora, com as fotos digitais, geralmente vemos os arquivos antes de mandar para o laboratório e podemos comparar com o que foi impresso. E, se você for como eu, quer que a foto saia exatamente do jeito que está na tela, especialmente se você fez um enquadramento bem feito e um tratamento cuidadoso. Mesmo que você não seja tão preciosista, o mínimo que vai querer é que as imagens não saiam totalmente cortadas ou com faixas brancas nas laterais. Como evitar isso?

Antes de mais nada, é preciso entender que as câmeras digitais fotografam em dois formatos o 3×2 e o 4×3 (algumas também fazem imagens em 16×9, mas como essas são mais digiridas à visualização em TVs e monitores widescreen, não vamos nos ater a ele). A proporção 3×2 significa que para três centímetros que se tem no lado maior, haverá 2 no lado menor. É o formato utilizado pelas câmeras de filme e pela maior parte das câmeras digitais reflex e profissionais. Já o formato 4×3 tem, para cada quatro centímetros no lado maior, três do lado menor. É uma proporção mais “quadrada”, presente na maior parte das câmeras compactas e algumas reflex, como as da Olympus.

Sabendo disso, é preciso identificar qual o formato que a sua câmera utiliza. Algumas permitem que se escolha a proporção, então você pode selecionar essa opção através dos menus. Outras não tem essa facilidade. Para saber se a sua câmera fotografa em 3×2 ou 4×3, abra uma pasta que contenha alguma das suas fotos. Passe o mouse por cima dela, e o Windows lhe informará a resolução. Caso não apareça, clique com o botão direito em propriedades e detalhes avançados. Divida o número maior de pixels pelo número menor (por exemplo, 3008 por 2008). Se o resultado for próximo de 1,5, sua câmera fotografa em 3×2. Se for próximo de 1,33, sua câmera fotografa em 4×3.

A partir daí, você pode escolher o tamanho de papel que melhor se ajusta ao formato que a sua câmera produz. Abaixo há uma tabela com os tamanhos mais comuns separados pelo formato mais adequado. Tomei como referência o laboratório Capovilla, que tem alguns tamanhos muito interessantes que não estão disponíveis em outros lugares, como o 12,7 por 19cm, ótimo para uma ampliação no formato 3×2.

O que podemos ver na tabela é que o formato 3×2 tem mais opções para impressões em grandes tamanhos. Mas é bom lembrar que há aí uma padronização. Nesses casos, nada impede de fazer uma impressão que gere faixas brancas e pedir para que o laboratório as refile. Mas outra coisa importante é que muitos tamanhos populares, como o 13×18 (arredondando), o 15×21 e o 25×30 não são adequados para nenhum dos dois formatos, gerando cortes ou perdas em ambos.

Outra informação importante é que poucos tamanhos se adaptam exatamente ao formato da foto. Na maior parte dos casos, será preciso algum tipo de corte, ainda que de milímetros. A melhor forma é enviar para o laboratório já no tamanho certo, para que você decida sobre o corte e não o laboratorista. A ferramento crop do Photoshop permite inserir o tamanho do papel em centímetros, gerando um arquivo no tamanho adequado.