Notas sobre um workshop de fotografia de família com Irmina Walczak

Em fevereiro de 2020, me dei de presente um workshop sobre fotografia de família com a Irmina Walczak. Irmina e seu marido, Sávio, são conhecidos de longa data. Ela polonesa e ele brasileiro, por um tempo viveram em Brasília, época em que nos conhecemos. Seu livro “Retratos para Yayá”, para o qual fiz uma pequena contribuição ao escrever prefácio, gerou bastante atenção e reconhecimento. Outros projetos fotográficos do casal, como os que tratam de maternagem e amamentação, também receberam destaque.

A oficina da qual participei foi parte de uma série de encontros realizados em várias cidades do Brasil. No dia, eu era o único que não era um fotógrafo profissional ou que tivesse pretensões de ganhar dinheiro com a fotografia. Minha motivação era bastante pessoal: desde que meu filho nasceu, há quase dois anos, minhas fotos têm sido muito mais familiares do que qualquer outra coisa. Ainda assim, tenho vontade de explorar esse campo afetivo de uma maneira particular, e sentia falta de ter trocas sobre fotografia. O fato de não ter a preocupação com a utilidade comercial da fotografia me permitiu aproveitar o workshop de uma maneira bastante descompromissada: não havia nada específico que eu buscasse tirar dele.

Ainda assim, a Irmina se esforçou bastante para atender às preocupações práticas do grupo, falando sobre temas como financiamento de projetos, cobrança, valores. Falou sobre o “caminho das pedras” de uma maneira bem prática e pouco idealizada, recomendando a busca por empresas, patrocinadores e apoios governamentais.

O maior interesse, no entanto, estava na forma em que ela e o Sávio fazem sua fotografia profissional. A sua proposta de fotografia familiar, chamada de Trocas Orgânicas, envolve o convívio da família deles (com três filhos) e a família fotografada, por dois ou três dias. Ao longo dessa convivência, os dois retratam cenas da vida familiar. Esse modelo gerou bastante curiosidade: como é a abordagem? Como as famílias reagem? Quanto tempo é necessário para que as trocas sejam realmente orgânicas? E, a principal dúvida dos fotógrafos: como apresentar e vender um formato de ensaio fotográfico que é tão distante do convencional? Afinal de contas, na proposta das trocas orgânicas, não há muito espaço para as fotos posadas de famílias sorridentes.

Acho que é importante ressaltar que o modelo da atuação profissional da Irmina e do Sávio condiz muito com a sua forma de viver. Hoje eles vivem em um motorhome na Europa, e a vida com um certo desprendimento está ligada à forma como buscam se conectar com as famílias e fotografar. Talvez o projeto seja algo muito natural para eles, e um pouco mais difícil de colocar em prática quando não se está tão aberto, de fato, a trocas com outras pessoas e famílias.

Sobre como fotografar em si, anotei alguns pontos interessantes. Acho que o que mais me marcou foi o fato de não haver nenhum fetiche em si em relação ao realismo ou à espontaneidade de fotos familiares: as cenas podem ser naturais ou montadas. A Irmina dá muita importância à luz: “nenhuma cena justifica uma luz ruim”, ela diz. Ela também comenta que busca um certo tipo de “estranhamento” nas imagens, o que fica evidente quando vemos seus trabalhos. Esse estranhamento, para mim, é o que dá o tom de verdade nas suas fotos, pois, no fim, a vida é bem estranha mesmo. Por fim, ela defende fotos nada espetaculares: cenas cotidianas, bem iluminadas e que não levam a grandes questionamentos sobre como foram feitas. São apenas coisas que aconteceram.

Para mais sobre o trabalho da Irmina e do Sávio: https://www.panoptesfotografia.com/ e https://www.instagram.com/irminawalczak/

Escolhi, para ilustrar esse texto, algumas fotos que fiz antes e depois do workshop e que acredito terem um pouco da ideia dessa proposta.

Oficina O Nome das Coisas no Espaço F/508 de Fotografia

No próximo dia 21 de agosto, estarei novamente no Espaço F/508 de Fotografia, em Brasília, para coordenar a oficina O Nome das Coisas. A proposta do curso é trabalhar o problema do significado na fotografia, com exercícios relacionados ao fazer fotográfico, ao olhar e à construção de significado.

Será minha quarta ida ao F/508. Em 2007, estive pela primeira vez no espaço para um debate sobre fotografia. Em 2011, realizamos a oficina “Interpretação, Realidade e Desconstrução”, baseada nas obras de Arlindo Machado e de Flusser. Em 2013, foi a vez da Fotografia Contemplativa. E agora o tema será a relação entre o texto e a imagem.

Início: 21 de agosto

Horários

Quinta-feira (21): das 19h às 21h
Sexta-feira (22): das 19h às 22h
Sábado (23): das 9h às 12h e das 14h às 17h

Total: 03 aulas
Carga horária: 12 h/aula

Professor: Rodrigo Fernando Pereira

Rodrigo Fernando Pereira é psicólogo, com mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Universidade de São Paulo. Sua atuação clínica tem fundamentos na teoria comportamental, associada a práticas de atenção plena (mindfulness), aceitação e contato com o momento presente. Desde 2007, mantém o blogCâmara Obscura, voltado a reflexões sobre a fotografia. Nesse mesmo ano, iniciou sua colaboração com o f/508, na forma de um bate papo informal. O trabalho conjunto continuou na forma de publicações (Sentido Vago e Transformações) e na oficina Fotografia: Desconstrução, Realidade e Interpretação, realizada em 2011.

Sobre o Curso

A fotografia é um campo aberto: é documento, é arte, é narrativa. Ao mesmo tempo, não é nada disso. Todas as tentativas de definir ou classificar a fotografia falharam. Por isso, a fotografia pode ser qualquer coisa que o autor quiser. Por outro lado, também será qualquer coisa que o observador quiser. Como fica o significado no meio de tudo isso? É possível transmitir uma mensagem através da fotografia? Qual é a relação que se estabelece entre a imagem e as palavras? A oficina “O Nome das Coisas” propõe um mergulho nessas perguntas, procurando as pontes que ligam fotografia e texto, imagens e conceitos.

Atividade intra e extra-classe ao longo do curso: construção de significado na fotografia

Programa

1. Forma (quinta, 21, das 19h às 22h)
O que é a fotografia?
Desconstrução do modo de fotografar
Há significado na forma?
 
2. Conteúdo (sexta, 22, das 19h às 22h)
Onde está o significado na fotografia?
Reflexão sobre o significado do fazer pessoal
Técnicas de desconstrução do olhar
 
3. Produção (sábado, 23, das 9h às 12h)
Exercícios: “leitura” através da experiência
Análise da produção de Hiroshi Sugimoto
Criação de textos e narrativas
 
4. Apresentação (sábado, 23, das 14h às 17h)
Apresentação dos trabalhos de fotografia e texto
Evocação de significados
Discussão: como o significado é transportado pela fotografia?

Inscrições e mais informações no site do f/508.

Entrevista para o blog Frame

O Peri, que mantém o blog Frame, sobre fotografia, gentilmente me convidou para um entrevista sobre esse assunto que os blogs têm em comum. Embora já trocássemos ideias em diversos “locais” pela internet, foi uma ótima experiência falar diretamente sobre o tema, e tê-lo como um interlocutor real. Agradeço ao Peri pela oportunidade de conversa e pelas ótimas perguntas, que me ajudaram a rever minha própria trajetória e organizar minhas concepções sobre a fotografia.

A entrevista completa pode ser acessada no Frame. Seguem alguns trechos:

Frame: Você tocou num ponto interessante que é a mudança de sistema de fotografia.
Enquanto a maioria foca no upgrade de seus equipamentos, atualizando sistemas e adquirindo novos materiais, você vai no caminho inverso e reduz o seu, ficando como você mesmo disse, apenas com uma compacta e uma câmera de filme.
A que conclusão você chegou com esta mudança?

Rodrigo: Acho que a redução do equipamento veio junto com uma mudança de estilo de vida, em que reduzi muitas outras coisas, como livros, roupas, eletrônicos… Numa tentativa de viver mais com o essencial. E na fotografia foi a mesma coisa. Eu não precisava de cinco ou seis câmeras. Depois vi que não precisava mais de uma reflex digital. Poderia até deixar de fazer algum tipo específico de foto, mas isso não compensava o “estorvo” de um monte de trambolhos para serem guardados, carregados, consertados. Associado a isso, percebi que poderia fazer a maior parte das fotos que já fazia usando uma compacta, ou até mesmo um celular. Depois dessa mudança, confirmei a hipótese de que eu precisava de muito menos do que eu achava. Não sinto falta, pois procuro pensar naquilo que eu posso fazer com o que tenho em mãos, e não no que poderia fazer se tivesse um outro equipamento.

Frame: E, a fotografia no mundo atual com toda esta velocidade tem deixado de ser “obra” para ser mera produção visual sem um aprofundamento adequado?

Rodrigo: Essa é uma pergunta interessante. Penso que ninguém é obrigado a saber fotografar, do mesmo jeito que ninguém é obrigado a saber preparar um suflê. Quem quiser se aprofundar em um desses assuntos pode ir fazer um curso de fotografia ou de culinária, mas quem não quiser pode simplesmente fotografar no celular (em que o aparelho toma as decisões técnicas para a pessoa) ou ir a um restaurante (em que o cozinheiro prepara o suflê para a pessoa). Não acho que exista um jeito certo ou adequado de produzir fotografias. Todos os jeitos são válidos, porque partem da função que a fotografia tem para cada pessoa. Pode apenas ser o de mostrar um momento como pode ser um hobby, um objeto de estudo ou um trabalho. Cada pessoa pode encará-la da forma que quiser e seria estranho dizer que uma é melhor do que a outra, ou que uma é mais adequada do que a outra. Se a fotografia cumpriu a função que tinha para a pessoa que a fez ou que a viu, ela é válida.

Experimentar. Sentir. Fotografar.

Entre os dias 23 e 25 de agosto, foi realizada no Espaço f/508 de fotografia, em Brasília, a Oficina Fotografia Contemplativa: A Beleza do Simples. Ministrada por Rodrigo Fernando Pereira, editor do Câmara Obscura, o curso teve como objetivo estimular nos participantes a flexibilidade, o mindfulness, o retorno ao presente e a aceitação, tendo como instrumento a fotografia. Através de técnicas como meditação, relaxamento e desconstrução da linguagem, criou-se o clima propício para uma saída de fotografia contemplativa no parque Olhos D’Água. A oficina contou ainda com a elaboração de haicais, uma forma de poesia oriental que leva ao contato com o aqui e o agora.

“A fotografia sempre ocupa um lugar que não o seu. Quando fotografamos uma viagem, a fotografia ocupa o lugar por onde passamos, quando fotografamos um evento, ela ocupa a memória daquele momento, quando fotografamos uma série, ocupa o lugar do “EU”. Hoje, assistindo a oficina “Fotografia contemplativa: a beleza do simples”, realizada no f/508 pelo Rodrigo Fernando Pereira, percebi que nesse momento a fotografia ocupou o seu próprio lugar: a poesia.”
Humberto Lemos

Confira alguns dos trabalhos realizados pelos participantes durante a oficina.

Desconstrução da ilusão fotográfica

A fotografia é uma construção humana, uma forma artificial de produzir representações através de um aparelho. Através da programação desse aparelho, são determinadas as formas como a luz refletida por objetos tridimensionais é descrita num plano retangular. Por conta de questões culturais e históricas, a fotografia assumiu, na nossa sociedade, o papel de atestado da verdade, de que algo houve – o “isto foi” de Barthes. Alguns usos da fotografia dependem muito desse mito, como o jornalismo e a publicidade. Entretanto, um exame mais próximo do processo de construção de uma foto – o desvendamento da caixa preta – mostra que essa concepção é um grande engodo.

Esse exame mais próximo foi a proposta do workshop Fotografia: Desconstrução, Realidade, Interpretação, realizado durante o último fim de semana no Espaço de Fotografia F/508, em Brasília. A base teórica do curso foi construída a partir de três obras: Filosofia da Caixa Preta, de Vilém Flusser, A Ilusão Especular, de Arlindo Machado (PDF para download, 90MB) e O Universo das Imagens Técnicas, também de Flusser. Sugeriu-se, então, que os participantes produzissem imagens que denunciassem o processo de funcionamento da câmera: movimento, desfoques, cortes, sobreposições e distorções. O objetivo era o impedimento da leitura automática da foto: dessa forma, o observador não pode olhar direto para a cena, ignorando a existência de um aparelho em funcionamento e um autor por trás dele.

Participaram do workshop Adriana Camilo, Antônio Nepomuceno, Edmílson Pinto, Bete Coutinho, Fred Cintra, Jean Peixoto, José Renato da Silva, Júlia Salustiano, Marco Antônio Gonçalves, Rafael Dourado e Vania Almeida. O grupo pôde, na saída fotográfica realizada na Vila Planalto, exercitar a desconstrução através do programa das câmeras ou criando formas de subverter o funcionamento dos equipamentos, produzindo resultados iniciais que podem servir de subsídio para novas linhas de pesquisa pessoal. Uma vez que se amplia a forma de fotografar, incorporando métodos distintos, cria-se um repertório mais diversificado que fortalece a representação de intenções, emoções e conceitos através da arte fotográfica. Além disso, ao compreender os conceitos presentes na construção da imagem fotográfica, aprimora-se também na produção da fotografia convencional.

Abaixo, segue uma galeria com os trabalhos dos participantes. Fred Cintra foi além da fotografia estática e criou um vídeo com a produção resultante do workshop.

Todas as fotos têm direitos de reprodução reservados a seus respectivos autores.

Workshop “Fotografia: desconstrução, realidade e interpretação”

Fotografia: desconstrução, realidade e interpretação
Workshop com Rodrigo F. Pereira

De 20 a 22 de maio
Período de matrículas: até 04 de maio

Sexta-feira: das 19h às 22h
Sábado: das 9h às 12h; e das 14h às 17h
Domingo: das 10h às 13h

Duração: 3 dias
Carga horária: 12 h/aula

Professor: Rodrigo F. Pereira

Rodrigo Fernando Pereira é formado em psicologia, com mestrado e doutorado na mesma área pela Universidade de São Paulo. Fotógrafo experimental, dedica-se ao estudo da fotografia enquanto disciplina teórica e mantém o site Câmara Obscura. Organizou duas publicações em conjunto com o Fotoclube f/508: Sentido Vago e Transformações. Continue lendo “Workshop “Fotografia: desconstrução, realidade e interpretação””

Digipix se recusa a imprimir portfólio de Gal Oppido

A Digipix, empresa que atua no ramo da impressão fotográfica, com destaque para a produção de fotolivros, se recusou a imprimir 200 fotos do portfólio do fotógrafo Gal Oppido, por conta do conteúdo das imagens, que contém nus. A informação é da coluna de Monica Bergamo, da Folha de São Paulo:

Ditadura
Depois de ter exposto suas obras no MAM, no MIS, na Pinacoteca e no exterior, o fotógrafo Gal Oppido teve suas imagens -muitas delas com corpos nus- censuradas. O veto veio da Digipix, contratada para imprimir cerca de 200 fotos do artista em um livro-portfólio, que seria apresentado a galerias de Nova York. A empresa se recusou a entregar o trabalho por considerar as imagens de ‘conteúdo indevido’, que poderia ‘ser considerado ofensivo, pornográfico, obsceno (…) que venha a ferir a ética, a moral, os bons costumes’. E afirma que ‘não analisa as imagens com base em critérios artísticos’.

INQUISIÇÃO
Oppido, que teve de viajar sem seu portfólio impresso, avalia o ocorrido como ‘um evento com tons medievais, lembrando a malfadada aventura inquisitória’.”

Esse é um acontecimendo que causa estranheza por três motivos: primeiro, é curioso ver que uma empresa do ramo de impressão fotográfica, que passa por um momento de crise, se recusa a fazer um trabalho. Parece que a Digipix anda bem das pernas, provavelmente pelo sucesso dos fotolivros, que tem garantido a sobrevida desse setor. Não sei até que ponto existe algo na legislação que obriga a empresa a atender o cliente, mas essa é uma questão menor. O segundo motivo de estranheza é a seleção prévia pela qual passam os trabalhos enviados à empresa, no qual aparentemente se verifica se o conteúdo do fotolivro é condizente com os padrões morais da Digipix. É uma situação no mínimo desconfortável, para um fotógrafo, ter que submeter o seu trabalho a um crivo que dirá se ele é digno ou não de virar um fotolivro. O terceiro motivo é a afirmação de que a Digipix “não analisa as imagens com base em critérios artísticos”. Ora, a fotografia é uma arte, e para se trabalhar com arte é preciso ter sensibilidade suficiente para entendê-la, em vez de julgá-la. E isso porque estamos falando do trabalho consagrado de um fotógrafo de renome. Essa sensibilidade significa entender também que a imposição de padrões morais é incompatível com produção artística — e isso deveria ser sabido especialmente por quem lucra com ela.

Felizmente, existe a concorrência. Vamos esperar que outras empresas que trabalham com fotografia a tratem com o devido respeito.

Atualização (15/1/09): resposta da Digipix publicada no Portal Photos

“Sobre a nota “Ditadura” (Mônica Bergamo, Ilustrada, 9/1), a Digipix esclarece que se dá o direito de não produzir material que possa ser considerado pornográfico, como claramente descreve o termo de uso com o qual todos os clientes são obrigados a concordar antes de contratar seus serviços. Para isso, são adotados critérios objetivos, um dos quais prevê a não produção de imagens com genitais expostos. A Digipix não analisa as imagens com base em critérios artísticos, função que não lhe cabe, e não se trata de censura, já que não fica impedida a exposição ou a produção por terceiros de tais imagens. Por operar on-line, a Digipix adota antecipadamente critérios claros de atuação e só tem acesso ao conteúdo dos materiais após eles serem processados. Ao contratar o serviço, a representante de Gal Oppido, Kátia Kuwabara, manifestou-se ciente e concordou explicitamente com o termo de uso da empresa, que apenas o fez valer.”

Atualização (16/1/09): depoimento de Ignácio Aronovich (do Lost Art) no BrFoto:

“Postei uma mensagem na lista Fototech em 09/01 reproduzindo a nota na coluna da Monica Bergamo sobre o caso do Gal, que não pode imprimir o seu livro na Digipix.

Na semana seguinte li inúmeras mensagens e posts em listas e foruns de pessoas manifestando-se sobre o assunto.

O que mais me chamou a atenção é que *ninguem* ligou para a Digipix para ouvir o lado deles da história.

Liguei e conversei hoje com a Sandra Bizutti (11_ 3612-5730), da area comercial da Digipix.

Ela me explicou que:

-o pedido do Gal entrou dia 24/12, com prazo apertadissimo e não foi feito por ele, mas por uma assistente dele (livro Super A3)

-o livro foi barrado na produção, por conter genitália visível, o que vai contra os termos de uso da política da empresa.

Como o livro não ficou pronto, e não há havia prazo hábil para produzir outro, o Gal foi prejudicado.

De acordo com a Sandra, não há nada de subjetivo na política da Digipix: se genitália aparece, o livro não será impresso.

Perguntei se eu poderia publicar um fotolivro com fotos minhas de Florença, onde aparece uma imagem da escultura de Davi, de Michelangelo, onde genitália está visível. A Sandra alegou que eu estava comparando “alhos com bugalhos” e que trata-se da genitália humana, mas que a foto da escultura poderia ser impressa em fotolivro.

Sandra explicou, “arte tem nu, é natural, nada esta sendo questionado, o problema é pessoa juridica é uma opção da Digipix não aceitar publicar imagens de genitália visível, mas pode passar, se tiver uma ou duas fotos no meio, é possível que passe.”

Perguntei se eu poderia publicar um fotolivro com o trabalho “Second Skin” da minha esposa, Louise Chin, que fotografou modelos nuas em estudio e depois convidou 33 artistas para pintarem prints de seus corpos nus. Em algumas fotos os artistas cobriram parcialmente a genitália, em outros não, mas trata-se de um trabalho claramente não pornográfico e que foi exposto em galerias (SP e Italia) sem qualquer tipo de restrição de idade/acesso.

http://www.lost.art.br/2ndskin.htm

Sandra explicou que “se for algo coberto, que nao apareca, tudo bem”, perguntei se havia como consultar, a Digipix ANTES de entrar com os arquivos, e ela disse que “nunca alguem fez esse questionamento. é passivel de ser barrado, depende do conteúdo”.

Perguntei se ela poderia receber imagens para avaliação ANTES do pedido, para ver o livro seria aceito ou não, e ela me explicou que poderia verificar caso a caso se houvesse alguma dúvida, para evitar os problemas de prazo que ocorreram com o Gal.

Perguntei se ela poderia me indicar outro lugar para imprimir fotolivros com nudez/genitália visível e ela não soube me indicar.

A Sandra explicou que os termos de uso são claros, quem envia material aceita os termos, e que não entende porque tanta polêmica, que “seria como ir a um restaurante vegetariano e pedir carne, a regra é clara e vale para todos.” “Tem agencia que nao faz publicidade de cigarro e nao vai fazer e pronto, é a postura da empresa.”

Perguntei sobre a postura da Digipix em relação a quem usa MAC. A Sandra disse que em reuniões com fotógrafos sempre “é trucidada por não ter versão para MAC.”

Explicou que ainda estão tentando aperfeiçoar e melhorara o sistema para PC, que se existe um plano para atender quem usa MAC é para longo prazo, e que todo mundo que usa MAC consegue enviar os arquivos via PC. Perguntei se haviam instruções para quem usa MAC no site da Digipix e ela me disse que não.

Perguntei se havia algo no site explicando o ocorrido com o Gal e ela me disse que não, mas que existe uma resposta enviada via e-mail para o Gal e para a Folha de S. Paulo.

Sandra concluiu dizendo que “nao acho que um fato pontual possa manchar que fizemos em 5 anos.”

A descrição acima não é nada “oficial”, trata-se apenas de um relato meu após ver pessoas manifestarem-se há dias sobre algo ocorrido sem dar-se ao trabalho de checar a fonte.

Tentei falar com o Gal mas não consegui (acho que esta em NY), mas a versão dele (e-mail) já está disponível em inúmeras listas e foruns.

Da minha parte, NUNCA usei serviços da Digipix, porque uso MAC. Costumamos trabalhar com produtores gráficos que utilizamos regularmente para as nossas necessidade de impressão.

Se tiver alguma dúvida adicional, sugiro ligar para a Sandra.

abrazos,

ig”

Atualização: 21/1/09 – Resposta do Gal Oppido ao e-mail da Digipix

UM CIDADÃO INDEVIDO

É exatamente como me sinto, após a interdição de meu acesso a produto intelectual gráfico de minha autoria, portanto de minha responsabilidade, já pago e impresso pela empresa Digipix.
Desde as minhas primeiras experiências ligadas à expressão por imagens, através de desenhos e/ou fotografias, sempre foi claro que estas ferramentas me possibilitariam discutir inquietações latentes que poderiam ser socializadas no sentido de fornecer mais critérios de análise, e deste modo me instrumentalizando mais para a prática da vida.
O corpo nu para mim funciona como uma folha em branco, pois cada traço que pousa nesta folha instantaneamente ganha significado, o mesmo acontece com o corpo na sua solidão cósmica e material, quando a ele se agrega vestes, intervenções cirúrgicas, a força da gravidade e outros acessórios instalados mediante um número infinito de ações e imposições; sejam elas de ordem moral, religiosa, de proteção orgânica, de ostentação de valor e poder, etc.
O corpo revela a história de sua humanidade.
Estes ensaios ora censurados, alguns deles, fazem parte da Coleção MASP- Pirelli, dos acervos do MAM e do MIS, foram expostos na França, Holanda, Alemanha, Portugal, Angola, Cuba e Colômbia representando o Brasil em mostras coletivas, mereceram o Prêmio APCA de Melhor Fotografia em 1991, participaram de publicações internacionais sobre fotografia Latino-Americana, foram motivo de palestras em universidades, fundações de ensino e espaços culturais, são expostos por TV educativas e foram objeto no último dia 06 de dezembro de 2008, de palestra e material didático para professores de arte da rede pública estadual.
Sou professor na área de artes visuais desde março de 1973 e há oito anos ministro curso de linguagem e conteúdo em fotografia no MAM; neste último semestre decidimos documentar os trabalhos desenvolvidos em formato de livro impresso similar ao produto da empresa acima citada.
Meus alunos compartilharam imediatamente da idéia sugerida pelo mesmo motivo que me levou a encadernar os meus primeiros desenhos: possibilitar desta forma dividir coletivamente as experiências desenvolvidas.
O livro pós-barrado e que há três meses estamos preparando sua edição foi o suporte escolhido para expor meu trabalho junto a galerias da cidade de Nova York.
O material foi enviado dia 23 de dezembro de 2008 com garantia de entrega dentro do prazo, até dia 2 de dezembro de 2008.
Fui comunicado da censura e intenção da destruição do mesmo na tarde do dia 30 de dezembro de 2008 pelo fornecedor, impossilitando assim de dar prosseguimento ao meu projeto, uma vez que viajo hoje dia 3 de janeiro de 2009.
Fica a questão:
Jerôme Bosch, Leonardo da Vinci, Pablo Picasso, Gustav Klimt, Egon Schiele, Jeff Koons, Robert Mapplethorpe e meus alunos teriam livros impressos pela Digipix?
É possível uma empresa que lida com imagens ter conhecimento tão limitado a respeito do universo a qual está inserida? Pois no momento em que ela julga e condena, presume-se que hajam critérios elementares sobre o objeto e autor em questão. Afinal para tal decisão seria plausível um mínimo de ponderação e consulta pois me atinge moral e profissionalmente.”
Gal Oppido

Fotoclube f/508 lança Coletivo 2008

O Fotoclube F/508 anunciou a publicação do seu esperado livro anual com a produção de alunos dos cursos oferecidos pelo clube. Confira o release:

“As relações entre fotografia, arte e sociedade são fundamentais para entender a evolução do pensamento e da criação contemporânea. Considerando o panorama da criação, da técnica, edição, crítica, teoria e pensamento é que temos por objetivo assegurar um amplo espectro na formação da cultura fotográfica de nossos alunos. Nossa ênfase está na produção consciente, ética e criativa.

Tendo estes princípios como ponto de partida, o f/508 lançará em 12 de dezembro de 2008 o segundo volume de sua série de publicações voltadas aos novos talentos da fotografia. Foram selecionados onze ensaios autorais para compor a publicação, os quais trazem questões como memória, utopias, temas poéticos, ensaios bem-humorados e abordagens mais formalistas. Bianca Starling, Carol Matias,Cíntia Magalhães, Érika Esteves, Gabriela Freitas, Ida Svendsen, Joana Machado, Leonardo Bites, Manoela Neves, Mauro Nogueira e Silvio Sá são os autores que ora nos brindam com uma produção permeada de sutileza, humor e talento.”


Detalhe da foto: Gabriela Freitas

Fonte: http://www.fotoclubef508.com/post.php?id=198

Sentido Vago vira slideshow no : · c r o q u i · d e · l u z · :

O Fernando Aznar colocou uma página no seu site sobre o Sentido Vago, livro virtual lançado ontem pelo Câmara Obscura. Mais do que isso, as fotos do livro ganharam formato de slideshow, que podem ser conferidos no : ·  c r o q u i · d e · l u z  · :

Sentido Vago é um livro eletrônico gratuito com ensaios fotográficos produzido pelo Grupo Câmara Obscura e por membros convidados do Fotoclube F/508. Os autores têm em comum o interesse pela fotografia e especialmente o uso da fotografia como ferramenta para expressão de pontos de vista sobre a vida, a cidade, o passado, a sociedade. O arquivo em PDF pode ser baixado gratuitamente aqui.

: · c r o q u i · d e · l u z · : informação e formação em fotografia, * o fazer e o pensar *, atualizado diariamente com:
=¬ releases das exposições na cidade de São Paulo, palestras, cursos, slide-shows, bate-papos, eventos, oficinas e lançamento de livros na seção sampAgenda,
=¬ artigos, notícias, ensaios, críticas, projetos, entrevistas, premiações, e tudo que possa interessar ao apreciador de imagem na seção gillettePrress.

“Competição é competição”

Todo ano, a Confoto organiza um concurso nacional de fotografia. Em formato de Bienal, há uma alternância entre edições com fotos coloridas e em preto-e-branco. Esse ano é vez de PB, no evento que será realizado dia 28 de junho em Blumenau, SC. Os fotoclubes de todo o Brasil brigam para conseguir um bom número de pontos e, conseqüentemente, uma boa posição na classificação final. Circula internamente em alguns fotoclubes um e-mail com as diretrizes de como se dar bem no concurso. Segue o conteúdo:

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“…Mas, como a Bienal P&B está muito próxima e não dá tempo para mudar a cultura fotográfica dos associados, gostaria de apresentar algumas sugestões que poderiam melhorar a classificação geral do grupo no concurso.

1) – pedir para trazerem o maior número possível de fotos coloridas e p&b. Evidentemente as coloridas de boa qualidade serão transformadas em P&B;

2)- criar um comitê, com pessoas de fora, para escolher as fotos que irão para a Bienal. Se a quantidade de fotos for boa, fazer a reclassificação pelo menos 3 vezes;

3)- pedir para um associado com capacidade técnica para tratar das imagens, não só cosméticas, mas com intervenções brutais, se necessárias. Competição é competição, o que interessa é o resultado final.

4)- localizar um bom laboratório para ampliar as fotos. Alguém do fotoclube deverá acompanhar de perto as ampliações para não terem problemas com o ‘fio’*. Como as fotos p&b são impressas em papel colorido, deverão primeiramente saber qual o tipo de luz que existe no local do julgamento lá em Blumenau. Com esta informação, fazer testes para acertar o filtro do Noritsu ou da Frontier, que compensará a cor na ampliação das fotos para não apresentar divergências no P&B, como normalmente acontece.

5)- aconselho, se possível, fazer as fotos em impressora jato de tinta e papel opaco, como o Velvet e o Textured, da Epson, o Infinity Matte, da Arches, o Fine Art, da Bergger e ainda, os sofisticados German Etching e William Turner, da Hahnemühle. Com estes papéis não haverá problema com qualquer tipo de iluminação;

6)- como as fotos serão julgadas isoladamente, elas deverão conter algo que atraia atenção dos membros do júri instantaneamente. Eles deverão julgar mais de 2.000 obras. Além da excelente impressão, que é um dos primeiros motivos para desclassificação, porque se o autor é relaxado na impressão de suas fotos, elas não merecerão maiores atenções, as fotos deverão transmitir emoção, curiosidade, exuberância, etc. etc.

7)- A melhor linha a seguir é fotografar gente. Retratos e ‘candid camera’, mas que conte alguma história que possa chamar a atenção do júri. Trabalhar muito com sombras, contra-luz, contrastes, e lá vem mais etc. etc.

Abraços

PS. ‘fio’ é o fio da p. que opera a impressora que custa Us$ 100,000.00 e ele ganha só R$ 340,00 por mes, portanto…”

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A mensagem é polêmica porque dá à “arte” fotográfica um caráter extremamente operacional e dirigido exclusivamente ao resultado da competição. Por outro lado, descreve muito bem a realidade dos concursos, que privilegiam um determinado tipo de linguagem. A pergunta que fica, no entanto é: que tipo de fotografia a maioria dos fotoclubes têm incentivado seus membros a produzir?