Polaroid fecha fábricas

A Polaroid anunciou que pretende fechar duas fábricas de filme sediadas em Massachusetts, Estados Unidos. As fábricas, que já tiveram 15 mil empregados nos anos 1970, mantinham 150 funcionários. Nos locais eram fabricados filmes profissionais de grande formato.

Os filmes dirigidos ao mercado consumidor são fabricados na Holanda, em uma linha de produção programada para ser desativada ainda este ano. Após interromper a produção de câmeras instantâneas que tornaram seu nome famoso, a empresa agora encerra a produção de filmes.

A companhia quer se dedicar à fotografia digital e a televisores. Os executivos afirmam que pretendem vender o direito de fabricar filmes para outra companhia. No entanto, se não houver interesse no negócio, os amantes das fotos instantâneas ficarão a ver navios.

Fonte: Boston Globe

Slideshow Ausências

Meu amigo Fernando E. Aznar criou um slideshow com os dípticos da sua série Ausências. As fotos fazem parte da seleção do Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre, em sua edição de 2008. A montagem eletrônica conta com trilha de Andrea di Carlo.

As fotos mostram diversas faces da passagem humana pro diversos lugares, e o jogo entre a presença e a ausência daqueles cujas atitudes dão significado às imagens, como os bancos vazios, as placas enferrujadas e os bilhetes deixados nas portas.

Quem for ao festival terá uma ótima oportunidade para ver esta série em tamanho grande. Para ter um gostinho com o vídeo, basta acessar esta página do Croqui de Luz.

Bate-papo em Brasília

Depois de duas semanas de inatividade, o Câmara Obscura volta a ser atualizado. Esse período de recesso foi ocasionado por uma viagem e uma virose das bravas, que derrubou o autor. A viagem, no entanto, foi muito interessante, pois foi marcada por um bate-papo com o pessoal do Fotoclube F/508 em Brasília. Pude me reunir com cerca de 15 membros da organização em sua sede na cidade, para uma conversa pouco formal sobre o que é a fotografia e seus aspectos filosóficos.

Além disso, o papo também girou em torno de questões atuais como a digital e o filme, manipulação de imagens, montagem de cenas e os clichês. Minha impressão sobre o clube continuou muito boa, por ver que há uma preocupação real com a fotografia de qualidade e o seu bom uso, tanto num sentido pessoal quanto como ferramenta social.

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Agradeço aqui o Humberto Lemos (à direita na foto), coordenador do clube, pelo convite, ao Fábio Watanabe, pela disponibilidade e a todos que estiveram presentes, pela possibilidade de uma ótima conversa.

Infelizmente não tive tempo de conhecer a cidade “de verdade”, fora do eixo central, que é a que me interessava. Espero que ainda haja outra oportunidade.

O fotoclube F/508

marca-baixa.jpgAparentemente, o fotoclubismo no Brasil tem ganhado força nos últimos anos por conta da popularização da fotografia digital. Muitas pessoas têm interesse em aprofundar o conhecimento na área ou de se reunir em grupos para trocar idéias e fotografar. A Confoto, entidade que reúne parte dos fotoclubes existentes, tem mais de 40 filiados.

Além de estarem distribuídos em várias regiões do Brasil, os fotoclubes apresentam formações e propostas heterogêneas. Um dos clubes que têm atividades diferenciadas, por inclinar-se à fotografia autoral e no trabalho com a comunidade, é o fotoclube F/508, de Brasília.

Entre os projetos sociais, o clube realizou o “Retratando com a Alma”, oficina com deficientes visuais e “Espelho da Memória”, que tem como objetivo a inclusão visual dos habitantes da periferia de Brasília. Atualmente, o grupo está engajado no retrato das dificuldades enfrentadas por deficientes físicos e idosos no cotidiano, proposta denominada “Corpo Cidadão”.

Dentro dos projetos internos do clube há exposições e um livro, o “Ensaios Um”, que me foi enviado pelo coordenador do clube, Humberto Lemos. A publicação reúne trabalhos dos fotógrafos Camila Martins, Cristiano Peçanha, Flora Egécia, Janaína Miranda e Rodrigo de Oliveira. As séries, todas em preto e branco e com apoio em texto poético, demonstram afinidade pela exploração conceitual da fotografia. Por e-mail, Lemos explica os porquês da proposta diferenciada e da produção de qualidade do 508:

O f/508 nasceu há dois anos em decorrência de um curso bastante extenso que ministrei na época. Talvez o seu diferencial seja exatamente esse, ter nascido da união de pessoas que queriam continuar aprendendo e não de fotógrafos já profissionais. O F/508 não discrimina uma cybershot ou pessoas que querem somente ter o prazer de fotografar.

Hoje somos um grupo de 20 fotógrafos, com alguns em vias de se profissionalizar. Em nossas reuniões semanais discutimos alguns projetos sociais e culturais, antropologia visual, semiótica aplicada à fotografia, desconstrução do olhar, imersões técnicas.

Ou seja, a qualidade das atividades do fotoclube se baseiam no perfil dos membros que, por não serem profissionais e por terem se formado em um curso, podem estar mais abertos à experimentação, a usos alternativos da fotografia — inclusive como ferramenta de atuação social — e a um desenvolvimento da linguagem. Além disso, o clube parece funcionar com pouca burocracia e uma imersão na fotografia que se dá tanto pela prática como por estudos teóricos.

Para conhecer o F/508, acesse www.fotoclubef508.com.

A Gravura de Iberê Camargo – Estudos, Estados e Expansão

carreteisiberecamargod.jpgDesde quinta-feira, 31 de maio, está aberta no Instituto Tomie Ohtake a exposição Iberê Camargo – Gravuras. Curada por Mônica Zielinsky, a mostra conta com 70 trabalhos que demonstram o amadurecimento artístico do autor.

Artista de rigor e sensibilidade únicos, Iberê Camargo é um dos grandes nomes da arte do século XX. Autor de uma obra extensa, que inclui pinturas, desenhos, guaches e gravuras, Iberê nasceu em Restinga Seca, no interior do Rio Grande do Sul, em novembro de 1914, tendo passado grande parte de sua vida no Rio de Janeiro.

Reconhecido por seus carretéis, ciclistas e idiotas, o artista nunca se filiou a correntes ou movimentos. Desde a juventude, mostrou-se atraído por personalidades independentes, como Guignard e Goeldi. Na Europa, estudou com mestres como Giorgio de Chirico, Carlos Alberto Petrucci, Antônio Achille e André Lothe.

Horário: De ter. a dom., das 11h às 20h; até 29/7
Local: Instituto Tomie Ohtake (av. Brigadeiro Faria Lima, 201, SP, tel. 0/xx/ 11/2245-1900)
Preço: entrada franca

Imagem: Carretéis com Equilíbrio (1959)

Fontes:
Folha de S. Paulo
Fundação Iberê Camargo

O vácuo da mediocridade

Temos quatro fóruns grandes sobre fotografia na internet brasileira. São eles, em ordem de tamanho, pelo número de usuários registrados até o dia 5/4/07:

Digiforum – 15.359
Mundo Fotográfico – 7.669
BrFoto – 6.520
Fotografia Brasil – 2.060

Já participei ou participo de todos, embora mais freqüentemente do Digiforum, onde posto alguns artigos. Na verdade, a freqüência média de postagem minha por lá e de mais ou menos 1,5 mensagem por dia. Ou seja, leio muito mais do que escrevo.

Todos os fóruns têm desafios e propostas distintas. O Digiforum, embora seja o que mais tem usuários novos, que entram geralmente buscando informações sobre compra de câmeras, é também o que busca abrir um espaço consistente para a discussão, o aprendizado e a crítica de fotos. Exemplos disso são a sala de colunistas e a sala Foto Crítica, em que se colocam fotos para serem apenas criticadas, sem bajulação.

Outros fóruns também têm iniciativas semelhantes, como a Galeria Polonesa no BrFoto e a sala Filosofia e Linguagem Fotográfica no Fotografia Brasil. Contudo, esses espaços estão relativamente parados, especialmente pela falta de moderação ou de um formato que fomente a troca de idéias.

Em vez disso, o foco fica no papo sobre equipamentos e outros assuntos estritamente técnicos relativos à fotografia. Poucas pessoas se aventuram e se aproveitam da facilidade de comunicação da web para debater idéias. E o debate, quando ocorre, muitas vezes não é civilizado.

No excelente artigo Repensando Flusser e as imagens técnicas, Arlindo Machado questiona a necessidade do operador da câmera fotográfica, o funcionário de Flusser, conhecer de fato o funcionamento do dispositivo a fim de validar a arte com ele produzida. Complementa que a imagem técnica produziu uma legião de operadores não-artistas, e sim tecnólogos e cientistas.

Flusser desconfia de que a tecnologia se converte hoje numa forma de constrangimento para o criador, numa preocupação, no sentido heideggeriano de Sorge (envolvimento concentrado e exclusivo), que muitas vezes o desvia de sua perspectiva radical e retira a força de seus trabalhos. Na verdade, não é preciso muita filosofia para verificar isso. Basta observar qualquer congresso de arte eletrônica, de música digital ou de escritura interativa, ou folhear qualquer revista dedicada a essas especialidades, para se constatar que o discurso estético, o discurso musical e o discurso literário foram completamente substituídos pelo discurso técnico, e que questões relativas a algoritmos, hardware e software tomaram completamente o lugar das novas idéias criativas. O resultado é um panorama extraordinariamente rico de máquinas e processos técnicos que se aperfeiçoam sem cessar, mas o que se produz efetivamente com esses dispositivos, com raras e felizes exceções, é limitado, conformista e encontra-se abaixo do nível mediano.

O mesmo pode ser dito dos fóruns de fotografia e as produções fotográficas neles inseridas, com raras e felizes exceções, como diz o texto. A lacuna entre essa produção e a produção de qualidade que habita galerias e museus foi descrita pelo Fernando Aznar como vácuo da mediocridade.

Alguns grupos ou fóruns inteiros funcionam como mantenedores de um padrão estético pobre, onde a inovação não deve se dar por novas abordagens ou formas experimentais de manipulação do aparelho — que pra Flusser é uma das saídas frente a sua programação limitada — mas sim pela confirmação e repetição de um uso conservador que leva o cliché a escalas estratosféricas. Não é permitido denegrir o aparelho ou a produção conformista, sobre risco de ser segregado do grupo.

Um exemplo disso ocorreu no Fotografia Brasil. Frente a uma série banal de fotos em silhueta, o Ivan de Almeida denunciou esse funcionamento que enaltece o medíocre. Como era de se esperar quando se ataca um dogma grupal, seus argumentos foram rechaçados e ele foi praticamente “excomungado” da comunidade, retirando-se dela antes que fosse expulso. Para acompanhar o ocorrido, basta clicar aqui.

Ironicamente, outros usuários postaram fotos semelhantes, em forma de apoio ao autor das silhuetas. É interessantíssimo como se pode perceber o funcionamento grupal em processos típicos do que Freud descreveu como mecanismos de defesa mesmo através da internet. Ao negar a própria deficiência, ou enaltecer o medíocre e ao temer a mudança, o grupo se comporta de forma infantil e caricata.

O problema de Flusser em relação à tecnologia na arte envolvia apenas a relação entre operador e aparelho. E aqui vemos que essa relação sofre influência de outra relação operador-aparelho, com o computador e as redes sociais virtuais, que podem ser extremamente poderosas. Infelizmente para os seus usuários, esse poder é expresso na maioria das vezes no aumento do conhecimento técnico mas num distanciamento cada vez maior dos reais problemas da arte.

Casa Bandeirista do Itaim Bibi

Nesses dias digitalizei, a pedido do Sr. Helcias de Pádua, do Grupo de Memórias do Itaim Bibi, algumas imagens da Casa Bandeirista. A casa, construída no século XVIII, localiza-se num terreno entre a Rua Iguatemi e a Av. Brigadeiro Faria Lima. Por estar no coração de um dos centros comerciais de São Paulo, numa área altamente valorizada, sofreu nas últimas décadas com a especulação imobiliária e os interesses comerciais. Mesmo com a área sendo tombada pelo Condephaat, recentemente a Secretaria do Verde e Meio Ambiente autorizou a derrubada de árvores no terreno, suspensa pela ação dos moradores do bairro, já que a ação não tinha o respaldo da Secretaria da Cultura, mas foi “espertamente” solicitada na Subprefeitura.

Atualmente, o que restam são apenas ruínas. Algumas colunas do projeto original resistem, protegidas por sacos plásticos. O projeto para sua reconstrução e revitalização existe há décadas, mas pouco foi feito até o momento.

A casa em 1985, três anos depois do tombamento (hoje há muito menos do que isso):

“Beirando a Nova Faria Lima, vizinhos de um estacionamento e de uma igreja estão alguns tijolos remanescentes da primeira ocupação do bairro do Itaim, a sede da antiga fazenda. Tombado pelo Condephaat na década de 1980, o local é o único sítio histórico do bairro reconhecido, fora o Parque do Povo.
(…)
‘Ninguém tem dúvidas de que esse casarão de taipa com mais de dois séculos foi sede de uma fazendo muito anterior à Chácara do Itaim.’ (O Estado de S. Paulo, 4/10/84)
(…) a propriedade passou por diversos donos até que em 1982 foi tombada. Desde então, deixada de lado pelos órgãos públicos: a casa foi paulatinamente depredada. Hoje está reduzida a um pedaço de parede e parte do terreno é utilizado agora como estacionamento(…).”
Fonte: Santa Rosa, T.S. (2004). Verticalização e espaços de uso público na Vila Olímpia. Trabalho final de graduação, Centro Universitário Belas Artes, São Paulo.

Mais informações em: http://www.memoriasdoitaim.com.br/casabandeirista.htm