Perplexidade

É da nossa natureza buscar respostas. Quando fazemos perguntas, queremos soluções, definições, regras. Qual a melhor câmera? Como fazer esse tipo de foto? Que tipo de fotógrafo eu sou? Do que gosto mais? Qual o jeito certo de tratar uma imagem? Quando encontramos respostas para as nossas perguntas, anotamo-nas com satisfação no nosso livro mental de regras e dogmas e seguimos em frente, consultando-as sempre que necessário e raramente as alterando.

Ter o nosso livro de regras conforta. Sentimos que as coisas são estáveis, estabelecidas e seguras. Sabemos o que queremos, para onde vamos e o que nos agrada. É claro que ter clareza sobre o que fazemos pode ser muito útil, especialmente quando trabalhamos com fotografia e precisamos ser eficientes no cumprimento das demandas do dia a dia. Ainda assim, não podemos deixar de considerar o outro lado da nossa busca por respostas definitivas.

A desvantagem mais óbvia de estabelecer uma forma rígida de ver e fazer a fotografia é que isso mina a criatividade. Criar envolve, necessariamente, a experimentação, a tentativa e o erro, a utilização de métodos alternativos. Quando pensamos invariavelmente que “retratos devem ter fundo desfocado”, “paisagens devem ser nítidas”, “cores devem ser reais”, restringimos enormemente as possibilidades que a fotografia oferece. Considerando, ainda, que com o digital a experimentação não custa nada, não tentar o diferente praticamente não faz sentido. Temos dificuldade em experimentar porque se abalarmos nossas regras, abalaremos nossa concepção de mundo, o que nos gera desconforto. Nossa tendência é permanecer naquilo que acreditamos ser seguro.

A partir disso, podemos ir um pouco mais fundo e questionar a nossa própria maneira de questionar. Por que precisamos necessariamente de respostas? Por que buscamos sempre a afirmativa? Talvez a alternativa mais relevante para mudar e nos permitir ser mais criativos seja justamente conseguirmos ficar mais confortáveis com a incerteza. Até porque, se pensarmos bem, apenas criamos ilusões de certeza e estabilidade. As coisas mudam o tempo todo e o controle que exercemos é ínfimo, quando não é nulo.


Konstantin Merenkov

Então, podemos experimentar nos contentar com as questões, sem perseguir e nos prender em respostas definitivas.

– Qual a melhor maneira de fazer tal foto?
– Existem infinitas maneiras e nenhuma é melhor.

– Qual a melhor câmera?
– Qualquer câmera é boa.

– De que tipo de fotografia eu gosto?
– Hoje é uma, amanhã será outra.

– O que torna uma foto boa?
– Não há boas fotos. Nem fotos ruins.

Acredito que a fotografia depende do espanto com o mundo, com a perplexidade. Nosso olhar para as coisas é uma grande pergunta. A resposta que acreditamos encontrar é, na verdade, uma limitação. Fotografar é uma forma de lidarmos com essa questão, com essa perplexidade, com o encanto que as coisas nos provocam. Não precisamos definir nada. Podemos apenas contemplar e transformar nossas perguntas em imagens, abrindo mão das palavras.