Oficina O Nome das Coisas no Espaço F/508 de Fotografia

No próximo dia 21 de agosto, estarei novamente no Espaço F/508 de Fotografia, em Brasília, para coordenar a oficina O Nome das Coisas. A proposta do curso é trabalhar o problema do significado na fotografia, com exercícios relacionados ao fazer fotográfico, ao olhar e à construção de significado.

Será minha quarta ida ao F/508. Em 2007, estive pela primeira vez no espaço para um debate sobre fotografia. Em 2011, realizamos a oficina “Interpretação, Realidade e Desconstrução”, baseada nas obras de Arlindo Machado e de Flusser. Em 2013, foi a vez da Fotografia Contemplativa. E agora o tema será a relação entre o texto e a imagem.

Início: 21 de agosto

Horários

Quinta-feira (21): das 19h às 21h
Sexta-feira (22): das 19h às 22h
Sábado (23): das 9h às 12h e das 14h às 17h

Total: 03 aulas
Carga horária: 12 h/aula

Professor: Rodrigo Fernando Pereira

Rodrigo Fernando Pereira é psicólogo, com mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Universidade de São Paulo. Sua atuação clínica tem fundamentos na teoria comportamental, associada a práticas de atenção plena (mindfulness), aceitação e contato com o momento presente. Desde 2007, mantém o blogCâmara Obscura, voltado a reflexões sobre a fotografia. Nesse mesmo ano, iniciou sua colaboração com o f/508, na forma de um bate papo informal. O trabalho conjunto continuou na forma de publicações (Sentido Vago e Transformações) e na oficina Fotografia: Desconstrução, Realidade e Interpretação, realizada em 2011.

Sobre o Curso

A fotografia é um campo aberto: é documento, é arte, é narrativa. Ao mesmo tempo, não é nada disso. Todas as tentativas de definir ou classificar a fotografia falharam. Por isso, a fotografia pode ser qualquer coisa que o autor quiser. Por outro lado, também será qualquer coisa que o observador quiser. Como fica o significado no meio de tudo isso? É possível transmitir uma mensagem através da fotografia? Qual é a relação que se estabelece entre a imagem e as palavras? A oficina “O Nome das Coisas” propõe um mergulho nessas perguntas, procurando as pontes que ligam fotografia e texto, imagens e conceitos.

Atividade intra e extra-classe ao longo do curso: construção de significado na fotografia

Programa

1. Forma (quinta, 21, das 19h às 22h)
O que é a fotografia?
Desconstrução do modo de fotografar
Há significado na forma?
 
2. Conteúdo (sexta, 22, das 19h às 22h)
Onde está o significado na fotografia?
Reflexão sobre o significado do fazer pessoal
Técnicas de desconstrução do olhar
 
3. Produção (sábado, 23, das 9h às 12h)
Exercícios: “leitura” através da experiência
Análise da produção de Hiroshi Sugimoto
Criação de textos e narrativas
 
4. Apresentação (sábado, 23, das 14h às 17h)
Apresentação dos trabalhos de fotografia e texto
Evocação de significados
Discussão: como o significado é transportado pela fotografia?

Inscrições e mais informações no site do f/508.

Experimentar. Sentir. Fotografar.

Entre os dias 23 e 25 de agosto, foi realizada no Espaço f/508 de fotografia, em Brasília, a Oficina Fotografia Contemplativa: A Beleza do Simples. Ministrada por Rodrigo Fernando Pereira, editor do Câmara Obscura, o curso teve como objetivo estimular nos participantes a flexibilidade, o mindfulness, o retorno ao presente e a aceitação, tendo como instrumento a fotografia. Através de técnicas como meditação, relaxamento e desconstrução da linguagem, criou-se o clima propício para uma saída de fotografia contemplativa no parque Olhos D’Água. A oficina contou ainda com a elaboração de haicais, uma forma de poesia oriental que leva ao contato com o aqui e o agora.

“A fotografia sempre ocupa um lugar que não o seu. Quando fotografamos uma viagem, a fotografia ocupa o lugar por onde passamos, quando fotografamos um evento, ela ocupa a memória daquele momento, quando fotografamos uma série, ocupa o lugar do “EU”. Hoje, assistindo a oficina “Fotografia contemplativa: a beleza do simples”, realizada no f/508 pelo Rodrigo Fernando Pereira, percebi que nesse momento a fotografia ocupou o seu próprio lugar: a poesia.”
Humberto Lemos

Confira alguns dos trabalhos realizados pelos participantes durante a oficina.

Desconstrução da ilusão fotográfica

A fotografia é uma construção humana, uma forma artificial de produzir representações através de um aparelho. Através da programação desse aparelho, são determinadas as formas como a luz refletida por objetos tridimensionais é descrita num plano retangular. Por conta de questões culturais e históricas, a fotografia assumiu, na nossa sociedade, o papel de atestado da verdade, de que algo houve – o “isto foi” de Barthes. Alguns usos da fotografia dependem muito desse mito, como o jornalismo e a publicidade. Entretanto, um exame mais próximo do processo de construção de uma foto – o desvendamento da caixa preta – mostra que essa concepção é um grande engodo.

Esse exame mais próximo foi a proposta do workshop Fotografia: Desconstrução, Realidade, Interpretação, realizado durante o último fim de semana no Espaço de Fotografia F/508, em Brasília. A base teórica do curso foi construída a partir de três obras: Filosofia da Caixa Preta, de Vilém Flusser, A Ilusão Especular, de Arlindo Machado (PDF para download, 90MB) e O Universo das Imagens Técnicas, também de Flusser. Sugeriu-se, então, que os participantes produzissem imagens que denunciassem o processo de funcionamento da câmera: movimento, desfoques, cortes, sobreposições e distorções. O objetivo era o impedimento da leitura automática da foto: dessa forma, o observador não pode olhar direto para a cena, ignorando a existência de um aparelho em funcionamento e um autor por trás dele.

Participaram do workshop Adriana Camilo, Antônio Nepomuceno, Edmílson Pinto, Bete Coutinho, Fred Cintra, Jean Peixoto, José Renato da Silva, Júlia Salustiano, Marco Antônio Gonçalves, Rafael Dourado e Vania Almeida. O grupo pôde, na saída fotográfica realizada na Vila Planalto, exercitar a desconstrução através do programa das câmeras ou criando formas de subverter o funcionamento dos equipamentos, produzindo resultados iniciais que podem servir de subsídio para novas linhas de pesquisa pessoal. Uma vez que se amplia a forma de fotografar, incorporando métodos distintos, cria-se um repertório mais diversificado que fortalece a representação de intenções, emoções e conceitos através da arte fotográfica. Além disso, ao compreender os conceitos presentes na construção da imagem fotográfica, aprimora-se também na produção da fotografia convencional.

Abaixo, segue uma galeria com os trabalhos dos participantes. Fred Cintra foi além da fotografia estática e criou um vídeo com a produção resultante do workshop.

Todas as fotos têm direitos de reprodução reservados a seus respectivos autores.

A escolha do assunto

Podemos pensar na fotografia de acordo com os seguintes elementos: o referente, ou aquilo que é fotografado; o fotógrafo; o aparelho fotográfico; a fotografia como resultado e/ou objeto; e o observador. Uma das relações que mais me intriga é entre o fotógrafo e o referente. Contudo, é o uso da fotografia, ou seja, aquilo que o fotógrafo procura no seu resultado, a fim de provocar uma reação no observador — ainda que este seja ele mesmo — que determina a escolha do assunto.

A maior parte das pessoas, quando fotografa, segue a ideia de obter um registro. Em viagens, em festas, em reuniões familiares. Por isso, a escolha do referente é quase óbvia: retratam-se os pontos turísticos, os amigos, os familiares em situações importantes.

Há um aspecto marcante entre os fotógrafos amadores avançados, visível em comunidades virtuais ou fóruns de discussão: embora haja um conhecimento técnico e tecnológico gigantesco, há pouquíssimo desvio da fotografia como registro. Poder-se-ia continuar fotografando eternamente as mesmas coisas, embora com técnica apurada, caso não fosse a fotografia digital. Continue lendo “A escolha do assunto”

Precisamos de novos modelos

Bons fotógrafos profissionais tendem a ter uma série de nomes consagrados que usam como modelos para o seu trabalho, geralmente dentro de sua área. Fotógrafos de moda, de casamento, publicitários costumam estudar o portfólio de quem tomam como norteadores. Procuram assimilar as técnicas, buscar os mesmos recursos e obter resultados semelhantes, aprimorando, assim a sua própria fotografia. Quando se é profissional e quando se trabalha numa área específica, é mais fácil ir atrás dessas referências, em sites, revistas especializadas, agências etc.

Já o fotógrafo amador não tem uma direção clara, já que ele pode simplesmente fazer de tudo. Então, em quem se espelhar, quem ter como modelo? Ao buscar a sua referência, o fotógrafo amador geralmente se depara com duas armadilhas que o levam a uma prática deficiente: se espelhar em profissionais cujo sentido do trabalho é totalmente distinto do seu ou se fechar em apenas uma vertente de possibilidades e nomes — e comumente as duas coisas acontecem juntas.

O amador pode, então, tomar emprestados aspectos da fotografia profissional que não fazem sentido na sua prática. Ele pode, por exemplo, não fazer pós-processamento em suas fotos por essa ser uma prática pregada por veículos jornalísticos. No entanto, há um sentido nessa exigência dentro do contexto profissional, que é preservar a credibilidade das informações. Para o amador, a menos que ele tenha algum tipo de blog investigativo, ou alguma outra justificativa, não faz sentido atuar assim. Ou seja, aquele que não fotografa profissionalmente deve adequar a sua prática às suas intenções e ao seu objetivo na fotografia em vez de apenar imitar preceitos que não lhe dizem respeito.

txiribiton
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Ao longo da sua história, a fotografia deve ter tido centenas ou milhares de grandes fotógrafos. Pessoas que conseguiram mostrar um lado surpreendente do mundo, encantar com composições surreais, usar o processo fotográfico em prol da estética ou simplesmente retratar a poesia do cotidiano. No entanto, muitos amadores parecem ter um certo fetiche por três nomes: Henri Cartier-Bresson, Ansel Adams e Sebastião Salgado. Três ícones, sem dúvida, mas que ao se estabelecerem no imaginário do fotógrafo amador avançado como referências arquetípicas, ofuscam a significância de muitas outras referências importantes e que, se fossem consideradas, abriram horizontes para os amantes da fotografia.

Salgado e Bresson são, basicamente, fotojornalistas, ainda que suas fotografias tenham adquirido status de arte (coisa que provavelmente não tenha dominado suas preocupações). Ou seja, a sua prática é ir ao mundo e mostrá-lo como tal, como um observador não participante, que não interfere. Embora seus trabalhos sejam fantásticos, quantos amadores têm um subsídio financeiro para flanar por Paris? Quantos visitarão um terço dos lugares pelos quais Salgado passou? Para completar, quantos carregam Leicas a tiracolo? Então, qual é o sentido de fechar os olhos para outros referenciais que podem tanto mostrar outras possibilidades com a fotografia como envolver práticas mais condizentes com suas realidades?

Já Adams fotografava pela estética, levada a um extremo técnico de câmeras de grande formato e um sistema complexo de captura e revelação.  E voltamos à pergunta, quantos amadores andam por aí com suas máquinas 4×5 e tem a sorte de ter acesso regular a um parque nacional como Yosemite?

É claro que é possível usar esses nomes como fontes de inspiração, mas ter fotógrafos com práticas tão distintas como única referência levará o amador a uma simples mímica, a um arremedo. Cada um precisa construir uma prática condizente com as suas possibilidades e, nesse caminho, buscar referenciais palpáveis, sejam eles grandes nomes ou não.

E aqui vão algumas ótimas fontes das quais pode se beber dos mais diversos tipos de fotografia. O grupo Young Photographers United reúne novos talentos de todas as partes do mundo. O site Fotografia Contemporânea reúne na página Fotografias de Autor ensaios para todos os gostos. No Brasil, temos grupos como o coletivo fotográfico Púnctum e o F/508, este último tendo revolucionado o fotoclubismo nacional. E viva a multiplicidade de possibilidades que a fotografia nos dá.