Fotografia boa, bonita e barata

Freqüentemente, ouço que a fotografia é uma atividade cara. De fato, ela pode ser cara, mas não o é necessariamente. Geralmente o valor gasto com ela é uma opção do fotógrafo, profissional ou amador e, exceto em fins muito específicos, o custo não é uma prerrogativa para bons resultados.

Já comentei em um texto anterior como é possível montar um kit digital com pouco dinheiro. Aqui, levanto algumas possibilidades da fotografia com filme e ampliar um pouco o número de opções que se tem de lentes baratas e de ótima qualidade que podem ser usadas em câmeras digitais, mostrando uma foto feita com cada equipamento listado. Os preços são baseados no valor de lojas de usados, Mercado Livre ou eBay.

Fotografia analógica

É comum ouvir que fotografar com filme é problemático por conta dos gastos com filme e revelação. No entanto, há uma infinidade de boas câmeras de filme tão baratas que fazem valer a pena deixar alguns reais no laboratório de vez em quando.

Começando pelas rangefinders: câmeras pequenas, silenciosas e com ótimas lentes que, por conta da ausência do espelho, enfrentam menos problemas ópticos do que as objetivas de sistemas reflex. Há opções com lentes intercambiáveis (como a Kiev) ou com lentes fixas e corpo extremamente compacto (como a XA).

Kiev 4 (R$ 80)
Alf Sigaro
Alf Sigaro

Rodrigo F. Pereira
Rodrigo F. Pereira

Canonet QL17 GIII (R$ 200)

Pay No Mind
Pay No Mind

Olympus XA (R$ 150)
Zadro
Zadro

Rahen Z
Rahen Z

Também existem câmeras reflex de 35mm que vêm com ótimas lentes e custam muito pouco.

Zenit 12XP (R$ 120)
H4NUM4N
H4NUM4N

Der Kraken
Der Kraken

Pentax Spotmatic (R$ 250)
Leo Reynolds
Leo Reynolds

Bill Smith
Bill Smith

No campo das médio formato, que usam filme 120, uma ótima pedida é a Yashica Mat, que produz fotogramas quadrados (6×6). Sem contar no charme no uso de uma TLR. Tem à venda por R$ 100 no Mercado Livre.
Yashica Mat
Master of Felix

Yann G
Yann G

Fotografia Digital

A fotografia digital também pode lucrar com os baixos preços do material das câmeras de filme. A melhor forma de fazer isso é através de objetivas de foco manual. O destaque está nas lentes de rosca M42. Se você tem um corpo reflex digital marca Canon, Pentax, Olympus, Sony, Minolta, Samsung ou Panasonic, você pode comprar um adaptador que permite o uso de lentes M42 na sua câmera. Infelizmente para os usuários de Nikon a coisa não é tão simples, pois os adaptadores para essa marca usam elemento óptico para o foco no infinito, alterando a claridade da lente e a qualidade de imagem. E aí, as opções de ótimas lentes por preços irrisórios é bastante ampla. O inconveniente é o foco manual e alguns ajustes nas formas de fotometria. Algumas opções de lentes dentro desse grupo:

Mir 20-M 20mm f/3.5 (R$ 250)
Masabu
Masabu

Super-Takumar 28mm f/3.5 (R$ 200)
Geopelia
Geopelia

Super-Takumar 50mm f/1.4 (R$ 150)
I, Timmy
I, Timmy

Jupiter 9 85mm f/2 (R$ 150)
Gene Wilburn
Gene Wilburn

Jupiter 37A 135mm f/3.5 (R$ 100)
Shyha
Shyha

Pentacon 200mm f/4 (R$ 200)
Pentacon 200/4
Marco Bernadini

Todos esses são exemplos de equipamentos de qualidade por um preço muito baixo, especialmente quando comparados aos de câmeras e objetivas modernas. No entanto, a qualidade de imagem não está relacionada aos recursos e funções das câmeras e lentes, e sim às características ópticas dos materiais utilizados. E nisso os exemplos acima, apesar de antigos, não deixam a desejar. No entanto, é preciso abrir mão de alguns confortos, como o foco automático ou a captura digital. Dependendo do ponto de vista, isso também pode ser visto como uma vantagem, já que qualquer coisa que nos faça fotografar de forma diferente pode ser benéfico em termos de aprendizado.

Nota: todas as fotos que ilustram este artigo foram utilizadas sob licença Creative Commons.

Nikon F2

Um amigo comentou há algumas semanas que a boa câmera é aquela com a qual desenvolvemos uma atuação cúmplice: é fácil de obter o que queremos e ela não atrapalha a execução de uma idéia. Mesmo quando se tem diversos aparelhos, eventualmente temos preferência por um, justamente por ser o mais adequado ao que fazemos. Embora eu tenha duas câmeras digitais, a máquina fotográfica com a qual consigo minhas melhores fotos é uma velha de guerra: a Nikon F2.

A câmera foi lançada em 1971, em substituição ao modelo clássico da marca, a Nikon F, que estava no mercado desde 1959. Pelo número de série da minha, parece ser um dos primeiros modelos, do início dos anos 70. É extremamente pesada para os padrões atuais: só o corpo tem mais de um quilograma. Com uma lente acoplada, pode passar de um quilo e meio, mesmo sem uma teleobjetiva grande. Embora isso possa parecer um grande problema, o seu peso favorece muito a estabilidade. A câmera fica muito firme nas mãos.

A F2 fez muito sucesso entre amadores e profissionais na época pelo fato de manter a compatibilidade com lentes Nikkor de modelos anteriores, pela precisão e pela imensa variedade de acessórios. De fato, é possível desmontar facilmente a câmera, tirando o visor e a tela de focalização, que podem ser trocados por outros modelos com funcionalidades diferentes. Existe até um visor tipo “capuchão” para fotografar a la médio formato, olhando por cima da câmera. Além disso, há outros acessórios como motor-drives, que avançam o filme automaticamente.

Mas é o trabalho de engenharia que atraiu admiradores do mundo todo, resultando numa câmera robusta, confiável e durável. A minha tem mais de 35 anos, nunca passou pela mão de um técnico e ainda funciona perfeitamente. Cada F2 tem mais de mil componentes. O visor tipo DP-1, que acompanha a câmera que uso, é responsável pela fotometria, única função que depende de bateria. A visualização engloba 100% do quadro, o que significa que o que você vê é exatamente o que vai sair no filme. Além disso, há no visor a informação da velocidade e da abertura, que permite fazer os ajustes enquanto se mantém o enquadramento. A alavanca de avanço do filme é acionada com um ou mais movimentos curtos. Em resumo, a F2 é um ícone da engenharia mecânica das máquinas fotográficas.

No entanto, toda essa prolixidade técnica não justifica o gosto pela câmera. Afinal de contas, gostamos de uma câmera não pelo número de peças que ela tem, mas porque fazemos boas fotos com ela. E, no fim das contas, podemos contar nos dedos os recursos que realmente são necessários para a nossa fotografia. No meu caso, os motivos pelos quais uso a F2 são: o visor 100%, o fato dela permitir realizar múltiplas exposições com facilidade e a compatibilidade com as duas lentes Nikkor antigas que tenho. Uma delas é uma 55mm f/1.2 e a outra é uma 24mm f/2.8. São lentes excepcionais, embora usar lentes fixas e com foco manual possa parece totalmente anacrônico atualmente. O fato é que com essas duas objetivas é possível fazer muita coisa, de forma que é praticamente impossível esgotar as suas possibilidades.

A grande maioria das câmeras digitais reflex (exceto as profissionais de primeira linha) destruiu um dos maiores trunfos técnicos que havia na fotografia até pouco tempo atrás: as lentes normais, de 50mm (ou com pequenas variações pra mais ou pra menos). Com essa distância focal, é possível fazer de tudo. Ou seja, temos um objetiva extremamente versátil, extremamente clara, extremamente barata e de extrema qualidade ótica. Só que isso só é possível no filme, já que uma 50mm “vira” uma 75mm numa reflex digital, o que acaba com sua versatilidade. Portanto, usar uma normal com câmera de filme, pra mim, é uma das poucas necessidades técnicas que tenho.

Uma outra necessidade técnica é um fotômetro que me dê ao menos uma referência, e a F2 faz isso tranqüilamente quando acoplada ao visor DP-1. Não me lembro de nenhuma vez que alguma foto tenha saído com problemas na exposição. Obviamente, isso também é facilitado pela tolerância dos filmes negativos. No entanto, mesmo com cromo, que aceitam menos os erros, obtive bons resultados.

Um outro aspecto aparentemente menor mas que pode fazer a diferença é que a F2 é claramente uma câmera obsoleta e antiga, de forma que chama pouca atenção na rua. Dá pra fotografar sem a preocupação que temos quando se está com um equipamento digital de dois ou três mil reais. Fiquei surpreso de ver alguns anúncios no mercado livre em que o preço médio da câmera é de R$ 1000. Acho esse valor um pouco exagerado. Nas lojas do centro de SP é possível encontrá-las por R$ 600 ou R$ 700. Ainda assim, é um valor alto por ser uma câmera “clássica”. Há ótimas máquinas mecânicas por cerca de R$ 300, com lente.

Todo esse texto é um tentativa de explicar porque quando saio com uma idéia, escolho a F2 na maior parte das vezes. Estamos numa época em que precisamos nos justificar constantemente. No entanto, o fato é que me sinto bem usando a F2 e me sinto bem quando vejo os resultados que consigo com ela. É difícil acreditar que esse simples motivo não seja o único que realmente importa aqui. Como foi disso no começo, uma boa câmera é aquela com a qual nos damos bem. O fato é que, talvez pelas razões descritas ou talvez por outras que eu nem perceba, me dou bem com a F2, e é apenas isso o necessário para que eu diga que a considero uma boa máquina fotográfica.

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Canonet QL17 GIII

dscn9415.jpgA Canonet QL17 GIII é uma rangefinder compacta, com uma lente fixa de 40mm e aboertura máxima f/1.7. Foi fabricada pela Canon entre 1972 e 1982 e teve mais de um milhão de cópias vendidas. Era a top de linha da série Canonet, iniciada em 1961 e que teve, ao todo, 14 modelos, que podem ser vistos no museu da Canon. As primeiras da série eram maiores e tinham fotômetro de células de selênio. Houve versões com lentes de 45 e 40mm, com aberturas máximas de 1.7, 1.9, 2.5 e 2.8. A sigla QL presente em algumas versões significa quick loading, ou seja, com mecanismo de carregamento rápido de filme, e o número que vem em seguida corresponde à claridade da lente (17 = f/1.7).

A 17 GIII tem muitos aficionados por reunir, num corpo compacto e relativamente barato na época, uma ótima lente e recursos avançados. Entre eles estão: o sistema de carregamento rápido de filme, rangefinder acoplado, modo automático de prioridade de velocidade, modo manual (sem medição), temporizador, velocidades entre 1/500 e B, sapata para flash, contato PC, obturador Copal extremamente silencioso, com sincronismo em todas as velocidades, célula do fotômetro dentro da rosca do filtro e correção de paralaxe.

A qualidade das imagens e os recursos eram tão completos que esse modelo chegou a ser comparado com rangefinders clássicas como Leica e Contax. Embora a Canonet não possibilite a troca de lentes, a distância focal de 40mm, a claridade da abertura 1.7 e a nitidez obtida mesmo com a abertura máxima contavam a seu favor, como pode ser visto em algumas imagens feitas com a câmera:

phdstudent
Durian – phdstudent

Mike Webkist
Nails – Mike Webkist

Toby Keller
Grocery Store – Toby Keller

Em seguida, algumas fotos da câmera com as respectivas funções e componentes:

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Um dos inconvenientes desse modelo é que há a necessidade de uma bateria que não existe mais: a 625px, de mercúrio, com voltagem de 1,35. Felizmente, há um modelo de bateria alcalina 625 (sai por R$ 5 nas lojas do centro de SP) que substitui a antiga. No entanto, a voltagem é diferente: 1,5. Isso pode causa uma pequena variação na leitura do fotômetro, que deve fazer muito pouca diferença no uso de negativos. Se isso for realmente um problema, é possível pedir ao técnico de confiança que altere a câmera para que a fotometria funcione adequadamente com a corrente de 1,5 volts.

Aliás, o modo de medição da Canonet merece destaque: embora ele só funcione no modo de prioridade de velocidade, há uma indicação de qual abertura a câmera “recomenda” para aquela cena. Isso permite o uso como referência para o modo manual, já que basta observar a relação de abertura e velocidade no modo automático, passar para o manual e fazer as devidas compensações.

Outro problema é que não há como desligar o fotômetro: ele permanece funcionando enquanto há luz atingindo a célula de medição. Isso faz da tampa da lente um item essencial, já que sem ela a bateria seria gasta rapidamente. O diâmetro da tampa é de 50mm, de forma que a melhor saída é comprar uma que já venha com a original. A minha veio sem, mas felizmente achei uma na loja do Pretti da galeria 7 de abril. No modo automático, a Canonet tem outra vantagem: não permite que a foto seja feita com a tampa na lente, erro muito comum em rangefinders, já que o visor é independente da objetiva.

Por conta da desvalorização dos equipamentos analógicos após a popularização da fotografia digital, a Canonet é mais uma opção para quem quer ótima qualidade de imagem por um preço irrisório. Embora seja um pouco difícil de achar no Brasil — diz-se que quem tem não vende — há inúmeras delas no eBay, custando em torno dos US$ 50, o que dá menos de cem reais. Comprei a minha através desse site e, assim que ela chegou, mandei para uma revisão completa na Anatec (R. 7 de abril, 125, 1º andar). Veio como nova e agora anda na bolsa da minha esposa, que queria uma câmera pequena, mas de qualidade, para fazer fotos do Centro de São Paulo.

Como montar um kit digital de qualidade com menos de dois mil reais

A fotografia digital exacerbou a onda de equipamentos descartáveis e recursos duvidosos na briga pelo consumidor de material fotográfico. Ainda assim, há câmeras e lentes com preços astronômicos que muitas vezes são justificados pela necessidade de corrigir problemas que a própria tecnologia digital impõe. Objetivas custam mais caso foquem em uma fração menor de segundo ou se tiverem um pouco menos de aberrações que são facilmente corrigidas no computador. Será que para fotografar bem em digital é necessário embarcar nesse turbilhão insano de lançamentos, especificações e preços altos?

É perfeitamente possível fazer uma boa fotografia digital, com um bom conjunto de lentes com menos de dois mil reais. No entanto, uma séria advertência: essa recomendação é válida apenas para aqueles cuja fotografia dispense recursos como o foco automático e o zoom. Se, para o seu modo de fotografar, esses recursos são indispensáveis, melhor parar de ler esse texto e procurar os lançamentos mais novos no DPReview. Agora, se você considera usar uma lente fixa e o foco manual virtudes do ato fotográfico, este artigo é voltado para você.

Um outro ponto a se ressaltar é que para esse empreendimento você precisará de um cartão de crédito internacional e uma boa dose de paciência. Os preços levados em conta aqui são de lojas com envio e desembaraço alfandegário para o Brasil, mercadorias do eBay, Mercado Livre e lojas de usados no centro de São Paulo.

Bom, para montar nosso kit, precisaremos de:

  • Um corpo reflex digital
  • Um adaptador para lentes M42
  • Uma lente grande-angular (equivalente a 28mm no filme)
  • Uma lente normal (equivalente a cerca de 50mm no filme)
  • Uma meia-tele (equivalente aos 85mm no filme)
  • Um cartão de memória

Com esse conjunto, será possível cobrir praticamente qualquer necessidade que se tenha. E é importante que as lentes sejam claras e de qualidade. Isso é possível por tão pouco? Sim, pois ao se abrir mão do foco automático, pode-se optar por lentes incríveis que são vendidas a preço de banana.

O corpo

Nosso corpo digital precisa ser compatível com lentes antigas, como as de rosca M42. Isso já deixa de fora as Nikon, cuja baioneta não permite adaptações sem ótica, que destrói a qualidade que perseguimos. Ficamos com duas opções de custo baixo: a Canon Rebel XT e a Pentax K100D, cujos preços são exatamente os mesmos. Embora a Canon tenha 8 megapixels contra 6 megapixels da Pentax, esta última tem algumas vantagens, como a redução de vibração e confirmação de foco com lentes de foco manual. Este item é essencial, pois os visores minúsculos das reflex digitais não são feitos para focagem manual, sendo necessária a verificação eletrônica. A Canon não tem estabilização no corpo e a confirmação de foco só é possível através de um adaptador mais caro. Pode-se então escolher entre mais megapixels ou mais recursos com lentes mecânicas.
Custo: por volta de R$ 1200.

Adaptador para lentes M42

Facilmente encontrados no eBay. Atenção: para a Pentax, apenas aqueles que não tem a borda “larga” em volta da rosca realmente permitem o foco no infinito. Para as Canon, além do foco no infinito, há os adaptadores que propiciam a confirmação de foco.
Custo: de R$ 50 a 140 reais

Grande-angular

O grande problema da maioria das reflex digitais é o fator de corte. Como a distância focal real da lente é multiplicada por 1,5, isso significa que para ter o equivalente aos 28mm, precisamos de uma lente de 18mm. Para isso, há duas opções: a própria lente do kit que vai de 18 a 55mm ou uma Zenitar 16mm 2.8, que tem versões para Pentax e Canon.
Custo: R$ 400
Giacomo Macis

Silence – Giacomo Macis – Canon 300D e Zenitar 16mm

Normal

No filme, uma normal tem 50 ou 55mm. Ou seja, precisamos procurar uma lente de 35 ou 37mm. Uma boa opção é a russa Mir 1-V de 37mm, também encontrada em abundância no eBay. Esse é um bom exemplo de uma ótima lente com custo baixíssimo, pela falta do foco automático. Melhor para quem não se importa em focar no anel.
Custo: R$ 120
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Dead Flowers (crop) – Ivan de Almeida – Mir1V em Canon 300D

Meia-tele

Aqui está a maior pechincha do sistema, pois para essa função podemos usar as normais do filme. Há uma infinidade de lentes claras, bem construídas e baratíssimas. Vamos ficar com uma Helios 44M, que acompanhava as Zenits. A distância focal de 58mm terá o ângulo de visão de 87mm. O benefício que se tem por esse preço é totalmente desproporcional. Essa pode ser encontrada no mercado nacional tranqüilamente.
Custo: R$ 50.

AlexVs P.o.S.
Ira#1 – AlexVs P.o.S. – Zenit – Helios 44M

Cartão de memória

Custo: R$ 70.

Total: R$ 1890 ou R$ 1980.

Temos então o nosso kit completo, com três lentes e um corpo digital. Sabendo que o corpo ficará obsoleto rapidamente, vale a pena pagar o mínimo possível e aproveitar as vantagens de se encontrar equipamento antigo a preço de banana. O que importa, para a qualidade da fotografia é a lente, e esta qualidade não está na tecnologia, e sim nas características do vidro e da construção, em que objetivas de trinta anos ou mais são excelentes.

Agradeço ao Ivan de Almeida e ao Fernando Aznar pelas conversas sobre lentes russas, adaptadores, a Pentax e as compatibilidades.

Kiev 4

Ao término da Segunda Guerra Mundial, iniciou-se o processo de divisão da Alemanha e de apropriação de seu parque industrial por parte dos aliados para compensar as despesas da guerra. Uma das fabricas que teve seu maquinário confiscado foi a Zeiss Ikon, fabricante das câmeras Contax. O equipamento foi transferido para a fábrica Arsenal, em Kiev, na Ucrânia. A então União Soviética passou a produzir clones das Contax tendo como marca o nome da cidade em que a fábrica estava localizada.

A Kiev 4 é um clone da Contax II, sendo possível usar lentes e peças de uma em outra. a câmera faz parte da família das rangefinders, na qual o enquadramento é feito através de um visor independente da lente e a focalização consiste em sobrepor duas imagens projetadas por um sistema de espelhos. As rangefinders têm como características o tamanho e peso reduzidos, a operação mais silenciosa pela ausência de espelho atrás da lente e a questão da paralaxe, em que o que se vê no visor não é a mesma imagem produzida pela lente sobre o filme, ponto que praticamente inviabiliza o uso de teles longas.

A Kiev tem velocidades de operação de B a 1/1250, temporizador, fotômetro de selênio acoplado, operação manual, focalização extremamente precisa por conta da distância de 9 cm entre os visores do rangefinder e contato para flash. Originalmente vem com lente Jupiter-8M de 50mm e abertura máxima de f/2. Foi produzida entre 1958 e 1980, sendo que os dois primeiros dígitos do número de série indicam o ano de fabricação. A minha foi fabricada em 74, segundo essa lógica.

As Kiev 4 podem ser encontradas, em boas condições, por cerca de US$ 50 no eBay.

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Algumas fotos feitas com a Kiev (e da Kiev) no Flickr.

Fontes:
Camerapedia.org
Photoethnography.com
Manual online no DVD Technik

Porque você não precisa trocar sua câmera

Chega um momento na trajetória de todo fotógrafo amador em que a insatisfação com o equipamento atinge um nível insuportável. Geralmente isso ocorre quando ele começa a aprender mais sobre fotografia e suas diversas técnicas e percebe que o seu equipamento não dá conta de realizar essas operações. O usuário chega então à conclusão de que precisa de um novo equipamento. Os motivos mais comuns por trás dessa iniciativa são: ruído e ISOs altos; lentes e alcance de distâncias focais; resolução e qualidade de imagem.

A idéia toda, então, é aumentar as possibilidades. No entanto, é provável que essa troca tenha um efeito contrário para o fotógrafo. Será que o aumento das possibilidades está realmente no equipamento? Para responder essa pergunta, voltemos mais uma vez ao Flusser, autor de Filosofia da Caixa Preta. Flusser coloca, basicamente, que cada aparelho fotográfico tem um programa, ou um modo de funcionamento. Neste programa estão inscritas todas as suas possibilidades de funcionamento. Por exemplo, sua câmera pode ter uma lente fixa com zoom de 3X, ou um ISO que vai de 200 a 3200. Tudo isso faz parte do programa, que determina e limita o funcionamento do aparelho dentro de suas especificações. Quando trocamos de equipamento, estamos optando, na verdade, por um programa diferente, que tem limitações e possibilidades diferentes.

O problema é que a fotografia, para ser séria, não pode ser apenas a utilização quase automática de um programa. Flusser é radical a ponto de dizer que só há criação quando o programa é subvertido e alteramos o equipamento para que ele funcione fora daquilo que foi programado para fazer. No entanto, não precisamos ir tão longe. Podemos nos contentar com a utilização plena de um programa, ou seja, fazer com o equipamento tudo aquilo que ele é capaz e encontrar dentro de suas possibilidades os meios para desenvolver uma linguagem própria.

Para entender melhor, vamos voltar ao momento em que o fotógrafo se sente insatisfeito com o seu equipamento, ao perceber que ele não dá conta das tarefas que ele vê em revistas, galerias, fóruns etc. Há duas escolhas básicas: trocar o equipamento por um que lhe possibilite fazer todas essas coisas ou resignar-se com sua câmera e tentar extrair dela tudo que é possível. Qual das duas opções favorecerá a capacidade criativa do fotógrafo? Não trocar o equipamento.

Primeiro, porque a motivação para a troca do equipamento é, geralmente, a possibilidade de seguir certos padrões já utilizados. Em outras palavras, para copiar o que já existe. O fotógrafo troca o equipamento e se satisfaz em conseguir fazer o que outros conseguem. Não há mérito ou criatividade aí. Em segundo lugar, porque a mudança de programa cria a falsa ilusão de que ele está sendo criativo. Não está, só está fazendo coisas diferentes das que fazia antes, mas iguais às de todo mundo.

Ao permanecer com o equipamento, o fotógrafo tem a chance de dar um passo em direção à real criação, pois se verá forçado a explorar novas possibilidades dentro do mesmo programa, ou até inventar outras maneiras de fotografar que não estão inscritas na máquina. Através dessa experimentação, ele encontra o caminho para que o aparelho e o programa sejam subordinados à sua vontade, e não o contrário.

No entanto, é extremamente difícil ver alguém que resista à tentação consumista e de status e permaneça com um mesmo equipamento por muito tempo, especialmente no meio digital, em que as máquinas são praticamente descartáveis (e são planejadas para isso). É preciso que o fotógrafo amador inserido nesse meio rejeite uma série de pressupostos e preconceitos da comunidade e tenha tutano suficiente para buscar sua própria linguagem, abandonando os problemas que não são seus e envolvendo-se apenas com o que importa, que é a criação.

Esta criação pode ser feita até mesmo com uma câmera de celular, como nos mostra o fotógrafo Carlos Costa na exposição Gesto, com imagens feitas a partir de telefones móveis. A proposta encontra-se no MAC do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no Ceará. Não à toa, a mostra faz parte do projeto Sala Experimental. E é justamente a questão experimental de que estamos tratando aqui. Seguem algumas fotos, que para a exposição foram ampliadas em 20×26,5cm.

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© Carlos Costa

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© Carlos Costa

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© Carlos Costa

Na verdade, a questão nem é se você troca de câmera ou não. Quando a criação por parte do fotógrafo é plena, ela quase se desliga do equipamento, de forma que é possível fazer fotos com qualquer coisa. O aparelho passa a ficar em segundo, terceiro plano e o fotógrafo já nem se preocupa mais com ele. A dúvida sobre a câmera já nem passa pela sua cabeça; há coisas mais importantes com as quais se ocupar.

Os médios formatos

MC GlasgowHá três principais categorias de filmes, em relação ao tamanho dos fotogramas que produzem: o 35mm, o médio formato e o grande formato, que usa chapas individuais para cada foto. No entanto, apesar de usar sempre o mesmo filme, há diversos tamanhos de médio formato, bem como uma diversidade de câmeras que usam os negativos de 6cm.

O filme 120 tem sempre 6cm de largura. Ele não tem furos como o 35mm, pois geralmente não se avança e depois se rebobina o filme: ele passa de um cassete para outro no interior da câmera. Ele tem duas tiras de papel preto antes e depois do filme, de forma que este só seja exposto quando está dentro da câmera. Dependendo do formato utilizado, um rolo de 120 rende de 4 a 16 fotos. O filme 220 não tem esse papel, portanto rende o dobro de fotos por rolo.

Há diversos tipos de câmera que usam o médio formato. Há as TLR, como a Rolleiflex, que usam duas lentes, uma para visualização e outra para efetivamente fazer a foto. Há as SLR, como a Hasselblad 500, em que se visualiza a imagem no visor capuchão. Há outras SLR que são como uma câmera de 35mm gigante, nas quais a composição é feita por um visor prismático. E há as rangefinders, como a Mamiya 7, em que o visor é independente da objetiva. Muitos modelos, como a Mamiya 645, possuem acessórios intercambiáveis que mudam o aspecto da câmera.

O mais interessante, no entanto, são os diversos formatos que cada sistema produz, pois isso afeta diretamente a experiência de fazer e ver as fotos. O médio formato é extremamente versátil por conta disso. Vamos a cada um dos tamanhos.

6×4,5
645
© Stephen Stills

A proporção 6cm por 4,5cm é de 4×3, similar a grande parte das câmeras digitais atuais. É como as telas de televisão e de monitores não-widescreen. Embora seja o menor médio formato, a área do negativo ocupada por uma foto é três vezes maior do que num filme de 35mm, já possibilitando ampliações maiores. Cada rolo de 120 rende 16 fotos.

6×6
6x6
© Martina Lanotte

O mais clássico e popular dos médios formatos. A foto é quadrada, o que altera muito a forma de compor a imagem e geralmente traz resultados muito interessantes, como pode ser visto neste grupo do Flickr. É um formato democrático, pois está presente em diversos equipamentos, desde a toy-camera Holga até as Hasselblad mais incrementadas, passando pelas TLR. Cada rolo rende 12 fotos.

6×7
6x7
© Tommy Oshima

É um formato “quase” quadrado, com a largura um pouco maior do que a altura. Muito utilizado por fotógrafos profissionais, por ter uma grande área de filme utilizado, resultando em melhor qualidade em ampliações e por ter uma proporção aplicável em uma série de tamanhos de papel. Rende 10 fotos por rolo.

6×8 e 6×9
6*9
© Bill Stilwell

Atualmente resistem com maior destaque em câmeras da Fuji, mas foram utilizados em câmeras dobráveis da década de 50. O formato 6×9 tem proporção igual ao filme 35mm. Rendem 8 fotos por rolo.

6×12
6x12
© Ross Orr

Formato panorâmico, em que a largura é o dobro da altura. Usado mais comumente com adaptadores em câmeras grande formato, embora haja alguns modelos específicos para essa proporção de fotograma, como a Linhof Technorama 612. Seis fotos por rolo.

6×17
6x17
© Toru Aihara

Um formato panorâmico ainda mais extenso, que permite apenas 4 fotos por rolo de filme 120. Traz resultados bastante interessantes também se utilizada na vertical.

Há um modelo de câmera, a Glide, que reúne todos os formatos desde o 6×6 até o 6×17, através de uma cortina de tamanho variável.

Fotografar com médio formato, seja qual for, geralmente é ainda mais lento e pensado do que usar filme 35mm. Pelo fato das lentes serem mais longas, há menor profundidade de campo. O tamanho e peso das câmeras muitas vezes obriga o uso de tripé. A visualização das cenas, especialmente nas câmeras com visor capuchão, é bastante diferente. Ou seja, é um formato que não se sustenta apenas pela maior qualidade de ampliação, mas sim pelo desejo de uma experiência fotográfica diferente.

Fontes
Flickr
Ken Rockwell
Luminous Landscape
Photo.net
Wikipedia

Foto do topo: © MC Glasgow

Todas as fotos desse texto foram utilizadas sob licença Creative Commons.

HP Scanjet G4050

HP Scanjet G4050Sempre relutei em comprar uma reflex digital por uma série de fatores, sendo o mais relevante o fator de corte. Entretanto, sempre me ressenti de não poder somar as possibilidades das câmeras reflex mais o processamento digital de imagens plenamente. Isso pelo fato dos serviços de escaneamento de negativos dos laboratórios que conheço deixarem a desejar, tanto pela qualidade como pelo preço.

Por isso, resolvi comprar um scanner de mesa que fosse relativamente bom no escaneamento de negativos, produzindo imagens que, após tratamento, pudessem ser ampliadas em tamanhos razoáveis. Escolhi o HP Scanjet G4050. Lançado recentemente, o modelo tem como chamarizes a resolução ótica de 4800 dpi, uma tecnologia de escaneamento exclusiva de 6 cores, a possibilidade de escanear, de uma vez, 30 quadros de filme 35mm ou 16 slides montados, além de remoção de riscos e pontos por hardware.

Paguei R$ 659, com frete grátis, na Mania Virtual. Recebi em um dia e comecei a fazer alguns testes. O primeiro ponto a ressaltar é que o scanner é enorme quando comparado aos modelos de mesa mais simples com os quais estamos acostumados. Ocupa um bom espaço e é bastante alto. A caixa vem com o scanner em si, cd de instalação, cabos e três adaptadores de transparências: um para filmes 35mm, um para os diapositivos e outro para filmes médio formato. Na tampa, há quatro botões para acesso rápido.

A instalação, no Windows XP, é tranqüila. O programa instala os drivers, os programas de escaneamento, gerenciamento de imagens e OCR, além de procurar por atualizações. A interface de escaneamento da HP, no entanto, não é das melhores. Muitas configurações não são guardadas, obrigando o usuário a repetir as operações a cada utilização. As opções mais avançadas soa de difícil acesso. Contudo, de forma geral, ele permite o que se deseja do dispositivo: configuração de resolução, nitidez, remoçar de riscos, ajustes de cor e exposição, formato de arquivos (tif, jpeg, bmp, pdf) etc.

Um outro ponto importante é a velocidade. O scanner é extremamente lento. Se você seleciona a opção de escanear negativo com a resolução máxima, no modo de seis cores e com remoção de sujeira e riscos, certamente levará mais de dez minutos por quadro, já que a leitura é feita três vezes. Se a idéia for escanear um lote de 30 quadros, com todas essas opções ligadas, é melhor pegar um cinema entre o início e o fim da operação. Contudo, provavelmente você não utilizará essa configuração o tempo todo, já que terá arquivos muito grandes, que raramente justificam sua criação. Um ponto positivo é que o programa identifica cada quadro automaticamente e salva arquivos diferentes, o que com certeza é uma dor de cabeça a menos.

Vamos ao que interessa: os resultados. Escaneei três quadros de filmes 35mm, sendo um negativo colorido, um cromo e um negativo preto e branco, todos na resoluçãode 4800 dpi e modo de 6 cores (exceto o preto e branco), salvando em jpeg de alta qualidade. Seguem os arquivos reduzidos e crops em 100% dos arquivos originais (clique para ver maior).

Negativo colorido:

Foto inteira

Crop

Cromo

Foto inteira

Crop

Negativo preto e branco

Foto inteira

Crop

Os arquivos originais, tinham resolução de 6800 por 4600 pixels e podem facilmente ultrapassar os 20 mb de tamanho, dependendo do formato e qualidade escolhidas. Com isso seria possível uma ampliação de cerca de 60 por 40cm sem interpolação. Contudo, essa resolução já não capta mais detalhes dos filmes, sendo um exagero utilizá-la. O tratamento, especialmente de nitidez, é necessário. O programa da HP vem com algumas opções, mas felizmente é possível desativá-las e tratar a imagem em programas mais robustos como o Photoshop, da Adobe.

Um aspecto positivo foi o controle de cor dos negativos. Embora seja preciso acertar o balanço de branco, o programa já fornece um ponto de partida bastante equilibrado. Quem já tentou converter um negativo colorido para positivo sabe como é complicado acertar os tons, e o programa do scanner faz todo o trabalho.

Considerei a qualidade das imagens boa, comparando com escaneamentos de laboratório, sendo ótima para imagens para web e possivelmente boa em ampliações, embora ainda precise fazer algumas experimentações para saber até que ponto a resolução e os detalhes ainda são bons no papel. Ainda não fiz testes para verificar se a tecnologia de 6 cores em vez de 3 realmente faz diferença.

Resumindo:
• Boa qualidade de imagens
• Scanner não é só para negativos
• Preço razoável se comparado com outros scanners para filmes
• Boa capacidade nos adaptadores de transparências
• Escaneamento de lento a lentíssimo
• Programa da HP tenta simplificar e dificulta o uso avançado
• Tamanho avantajado

Tipos de câmeras analógicas e digitais

Image Hosted by ImageShack.usMilhares de modelos de câmeras fotográficas foram produzidos e vendidos desde a invenção da fotografia por Niépce em 1826. Contudo, podemos agrupar todos esses modelos em algumas categorias principais, cada uma delas com suas características específicas.

Ainda assim, todas as câmeras seguem o mesmo princípio da camara obscura: são caixas escuras que permitem a entrada da luz apenas por um orifício, que projeta a imagem refletida dos objetos no seu interior. Essa imagem projetada é captada por uma superfície fotossensível, que pode ser um filme ou um dispositivo digital. Esse princípio está presente em todas a câmeras que veremos a seguir.

Pinhole

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Foto: Douglas Whitaker

A lata de aveia que você vê acima é uma câmera fotográfica. A câmera mais simples que pode ser feita usa apenas o material básico necessário para produzir uma fotografia de acordo com o princípio da camara obscura e pode ser feita em casa. Consiste numa caixa ou numa lata com um furo que permite a entrada de luz, que sensibiliza um filme colado em seu interior. O nome pinhole vem do inglês pin (alfinete) e hole (furo), descrevendo o furo feito com um alfinete feito na lata para permitir a passagem de luz. Na verdade, o furo não é feito na lata, dura demais para isso, mas num papel colado a ela que permita fazer a menor abertura possível. Podemos ver um exemplo de pinhole feita com uma lata de aveia na imagem abaixo.

Grande Formato

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Foto: Danny Burk

As câmeras mais antigas que costumamos ver em filmes, com o fotógrafo se posicionando atrás da cortininha preta entram nessa categoria. São máquinas que produzem negativos grandes, em forma de chapas únicas que são trocadas a cada foto. Ainda hoje são feitas e utilizadas, pois o tamanho amplo de seu negativo permite uma definição grande de detalhes. Por isso, usa-se muito em fotos de paisagens, por exemplo. As câmeras desse tipo tem, entre a lente e o plano onde a imagem se forma, um fole (geralmente uma lona sanfonada). A flexibilidade trazida pela fole permite que se varie a distância focal, bem como se façam correções de perspectiva e do plano de foco. O inconveniente desse tipo de câmera é, obviamente, o seu tamanho e peso.

Médio Formato: Twin-Lens Reflex (TLR)

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Foto: Kenn Kiser

Com o tempo, o processo fotográfico foi se aperfeiçoando e outros formatos de filme foram surgindo. Com isso, também surgiram câmeras menores e mais compactas. Os filmes vendidos em rolo tiveram dois formatos muito populares, existentes até hoje. Um deles é o 120, chamado de médio formato. Na verdade o médio formato tem diversos tipos de aproveitamento do rolo de filme 120, dependendo do tipo de câmera usada. Há as que produzem negativos quadrados, enquanto outras criam imagens retangulares, de diferentes proporções. Um dos tipos de camera mais popular na primeira metade do século passado era o TLR. Essas câmeras tinham duas lentes: na de cima, a lente direcionava a imagem para um espelho (daí o nome reflex) que a refletia para a parte de cima da câmera, por onde o fotógrafo via a imagem. A lente de baixo, no entanto, era a que realmente fazia a foto, já que projetava sua imagem no filme quando o obturador era acionado, conforme mostra o diagrama abaixo:

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Diagrama: Ted Ellis

Médio Formato: Single-Lens Reflex (SLR)

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Mais simples do que ter duas lentes numa câmera é ter uma só. O sistema reflex se aperfeiçoou fazendo com que o espelho, fixo nas TLR, se movimentasse, permitindo que o fotógrafo visse a imagem pela mesma lente que realizaria a captura. O que se via, era, então, exatamente o que apareceria na foto: é o sistema chamado de através-das-lentes, ou TTL (through-the-lens). Esses sistema permitiu não apenas ver pela lente que realmente fazia a foto, mas também medições mais precisas nos fotômetros incorporados nas câmeras e facilitou muito a troca de objetivas. Em outros sistemas, o enquadramento era dificultado quando se trocavam objetivas, já que era preciso ajustar o campo de visão à distância focal da lente que se usava. Nas SLR, como sempre se vê através da própria lente, esse problema não exisitia. O funcionamento de uma SLR é parecido com o de uma TLR, com a diferença que o espelho reflete a imagem para cima enquanto o fotógrafo compõe a cena e sobe quando se pressiona o disparador, deixando a luz passar direto para o filme e descendo novamente em seguida.

35mm: Single-Lens Reflex (SLR)

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O formato de filme (e conseqüentemente de câmeras) mais popular até hoje é o 35mm. Inventado na década de 30, usado no cinema, ainda permanece nas caixinhas penduradas ao lado das registradoras dos supermercados. O sistema SLR (assim como o TLR) também foi amplamente utilizado no formato 35mm, sendo a categoria de câmera mais utilizada por amadores avançados e profissionais durante a segunda metade do século passado. A maior parte das SLR de 35mm tem como característica, além do espelho, o uso do prisma, que permite olhar no visor a imagem refletida no espelho de forma correta e não invertida como ocorre no médio formato quando se olha diretamente por cima da câmera. O diagrama abaixo mostra o corte de uma típica câmera SLR de filme mecânica.

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Fonte: Encarta

Na década de setenta começaram a surgir as primeiras câmeras com componentes eletrônicos. Com isso, as câmeras passaram a ter automatismos no foco e no controle da exposição, tornando a fotografia ainda mais fácil de ser feita. Além disso, também surgiu o motor drive, que avançava o filme rapidamente, permitindo fazer fotos em seqüência.

35mm: Rangefinders

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Mas não era apenas de reflex que vivia o formato 35mm. Durante muito tempo o domínio nesse segmento foi das câmeras tipo rangefinder, na qual a visualização da foto era feita por um conjunto de visores e espelhos independentes da lente. Por não terem espelhos, eram câmeras menores e mais silenciosas. Alguns modelos permitiam a troca de objetivas, mas pela separação entre o sistema de focalização e a objetiva, muitas vezes isso requeria acessórios a parte. Ao longo do tempo, essas câmeras foram perdendo espaço, mas nunca deixaram de ser feitas. Até hoje existem novos modelos, como a Leica M8, já digital.

35mm: Compactas (aponte-e-dispare)

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A partir do molde das rangifinder surgiu a classe de compactas de filme, câmeras mais baratas e populares. É provável que você tenha até mais de uma câmera desses empoeirada em alguma gaveta de sua casa. Embora se pareçam com rangefinders, elas não têm a mesma sofisticação técnica. Geralmente não permitem ajuste de foco, exposição ou abertura. O único controle é o do botão de disparo e do flash embutido, muitas vezes automático. O visor tem uma cobertura diferente da que a lente cobre ao fazer a foto, o que causa um erro chamado de paralaxe: o que se vê não é exatamente o que sai na foto, especialmente em distâncias curtas, por causa dessa separação entre o visor e a objetiva. Por conta desse despojamento tecnológico, junto com o corpo de plástico, seu preço é tão reduzido.

Digitais compactas

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As câmeras digitais de tamanho compacto são parecidas, mas têm diversas “sucategorias” e diferenças importantes para quem tem mais conhecimento na operação dos equipamentos. Em comum, o fato — óbvio — de funcionarem com um sensor digital no lugar do filme e a possibilidade de visualizar as fotos antes e depois da captura pelo lcd. Algumas delas seguem o princípio das compactas de 35mm e são extremamente simples: tem poucos comandos e tudo funciona automaticamente, no melhor estilo aponte-e-dispare.

Outras, no entanto, tem recursos avançados que permitem maior controle sobre a forma como se fotografa e sobre o resultado final. Entre esses elementos, estão o lcd rotativo, capacidade de fotografar em formato RAW, controle manual de abertura e exposição, fotos em série, etc. Algumas delas, como a câmera abaixo, têm também lentes com uma faixa grande na variação de distância focal, ou, em outras palavras, um grande zoom. Há câmeras capazes de uma grande aproximação com o assunto, com zoom de mais de 12x. Por isso, a escolha de uma câmera desse segmento necessita de bastante pesquisa sobre os recursos que se deseja.

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Digitais Single-Lens Reflex (DSLR)

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As digitais SLR são muito parecidas com as SLR de filme eletrônicas que se mutiplicaram no mercado fotográfico nas décadas de 80 e 90. As únicas diferenças sensíveis são o fato de utilizar o sensor digital no lugar do filme e o uso do lcd para ver as fotos após serem batidas. A composição da foto continua sendo feita através do visor que recebe a imagem do espelho e a câmera continua tendo uma cortina que recobre o sensor até que se faça a foto. Como é possível ver no diagrama abaixo, pouca coisa mudou na arquitetura das câmeras:

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As DSLR também permitem a troca de objetivas como suas irmãs de filme. Na verdade, a maior parte dos fabricantes manteve a compatibilidade, ou seja, é possível usar as mesmas lentes das câmeras de filme nas atuais câmeras digitais, salvo algumas exceções que podem ser resolvidas com adaptadores.

Há outros tipos de câmera que não foram abordadas nesse texto, mas sua utilização é mais restrita, como as estereoscópicas, TLR de 35mm, rangefinders médio formato, digitais de médio e grande formato. As categorias apresentadas, no entanto cobrem a grande maioria do equipamento utilizado por amadores e profissionais.

Tipos de câmeras e suas linguagens

Freqüentemente, vejo as pessoas perguntarem qual a melhor câmera, ou se a melhor opção é uma compacta ou uma reflex, qual a melhor lente etc. É importante que se tenha em mente que para dizer que uma coisa é melhor é preciso que haja uma classificação subjetiva a partir de uma referência. Essa subjetividade, que é individual, significa diferença de opiniões: o que é melhor para um não é melhor para outro.

No processo de escolha de uma câmera, geralmente toma-se algumas dessas referências (resolução, lentes, iso, preço, tamanho) e tenta-se criar uma hierarquia de acordo com aquilo que é desejado. O que acho que falta um pouco nessas discussões são reflexões sobre as diferentes linguagens ligadas a cada tipo de equipamento. Quando se fala “se você puder, compre uma DSLR”, deixa-se de lado uma série de aspectos importantes. Nenhum tipo de câmera é melhor em termos absolutos.

A idéia para esse texto surgiu com esse tópico postado pelo Ivan no Mundo Fotográfico, somado a outras discussões que já tive sobre o tema no Digiforum e com outros amigos. Quais as diferenças, em termos de linguagem, entre os diferentes tipos de equipamento fotográfico? Para saber isso, precisamos conhecer suas características técnicas, mas não nos limitarmos a ela, e sim transportá-las para o universo da linguagem. Falo aqui apenas dos tipos de câmeras que já usei.

Compactas digitais

São câmeras pequenas, com sensores pequenos e lentes fixas. Embora sejam um pesadelo para os fanáticos por tecnologia avançada, podem ser muito bem aproveitadas na mão de fotógrafos criativos. O pequeno sensor e, conseqüentemente, a curta distância focal das lentes produzem uma enorme profundidade de campo mesmo quando não se usam aberturas tão fechadas. Além disso, por não terem espelho, não tremem na hora da foto e podem ser utilizadas em velocidades realmente baixas, como 1/8 ou 1/4 com as mãos bem firmes. A falta de isos altos é compensada pelo ganho de profundidade sem necessidade de fechar o diafragma e pela possibilidade de fotografar em velocidades menores de 1/30, impensável numa reflex sem tripé.

Portanto, a linguagem da câmera compacta relaciona-se a fotos com muitos elementos no foco, fotos de rua ou outras situações em que uma câmera discreta é fundamental, facilidade em fotos macro, uso de baixas velocidades sem borrões, entre outras coisas. Um exemplo de uso das qualidades de uma compacta é a foto do Luiz Fonseca nessa página.

Reflex digitais

O que mais me chama a atenção nas reflex digitais é a combinação híbrida entre um sensor de alta tecnologia com um modelo de câmera que existe há quase um século. As reflex não mudaram em nada na sua maneira de funcionamento, exceto pela substituição do filme pelo sensor. E, se antes o corpo da câmera era o que menos importava, agora isso é diferente, pois o sensor está “grudado” nele para sempre. Como resultado desse modelo híbrido, temos a complicação do fator de corte (exceto nas Canon topo de linha), muito bem explicado pelo Caetano em sua coluna. Ou seja, para ter uma lente que funciona como “normal” numa DSLR, precisamos de uma lente de cerca de 37mm, que não têm as mesmas características das 50mm, mais baratas e geralmente mais claras. Com isso, essas câmeras são um pesadelo para quem gosta de grande angular, pois é necessário investir em lentes caríssimas para se obter com qualidade o efeito do amplo ângulo de visão que antes se obtinha com uma simples lente de 24 ou 28mm. Por outro lado, isso tudo é contrabalanceado pelo ganho que se tem no uso das teleobjetivas, que têm seu ângulo de cobertura diminuído, numa equivalência a multiplicação da distância focal por 1,5x ou 1,6x. O sensor maior permite o uso de isos mais altos (em parte para compensar a perda que se tem com o espelho) e a profundidade de campo é menor, permitindo o uso do desfoque com mais facilidade.

Por isso, as reflex digitais geralmente estão associadas a uma linguagem com o uso de teleobjetivas ou meias-teles, com possibilidade de uso criativo do desfoque. Ainda que maiores do que compactas, não são tão grandes e têm certa mobilidade para se fotografar na rua. A possibilidade de troca de lentes e a variedade de acessórios aumenta sua flexibilidade, embora ter uma reflex que faz tudo consome rios de dinheiro, especialmente em boas lentes GA. Com isso, o uso das lentes do kit geralmente é interessante. Apesar de não serem tão claras, já permitem o uso das vantagens do sistema reflex a um custo baixo. Um exemplo é uma de minhas fotos feitas com a 300D + Kit.

Reflex de filme

Dentro dessa categoria, temos tanto as antigas reflex mecânicas como as modernas eletrônicas com sistemas de medição e automatismos complexos, que só se diferenciam das DSLR pelo sensor. Ao contrário das irmãs digitais, as reflex de filme têm no corpo sua parte menos importante: no momento em que a cortina abre, o que faz a foto é a lente e o filme. O corpo só trará mais ou menos recursos. Portanto, uma das vantagens do filme é poder escolher o “sensor” de acordo com os interesses. Pode-se ter uma foto em PB verdadeiro, usar um cromo, um negativo vencido, e por aí vai. Com isso a variação de possibilidades é grande. Além disso, a maior parte das objetivas que existem hoje são feitas para o formato 35mm, ou seja, elas vão funcionar da forma “original”. Isso traz vantagens no uso de grande angular e a perda correspondente nas teles no sistema digital.

As reflex de filme também são grandes, dificultando um pouco a fotografia de rua. O espelho, além de barulhento, também provoca a trepidação na câmera, impedindo o uso de velocidades baixas sem tripé. O sensor de 35mm reduz a profundidade de campo, fazendo com que seja possível ter apenas um olho focado num retrato feito com uma 50mm clara. Permite um aproveitamento interessante em grande angular sem necessidade de distância focal extremamente curta, como nessa foto feita com uma 24mm.

Rangefinders

São câmeras sem espelho e, por isso, usam um visor independente da objetiva. As mais avançadas são equipadas com telêmetro e correção de paralaxe, o que permite o ajuste do foco com precisão e evitam que o que se veja no visor não corresponda ao que sai na foto. Além disso, os modelos mais avançados também permitem a troca de objetivas. Se inserem nessa categoria as clássicas Leicas série M. Pelo fato de não terem espelho, as objetivas podem ocupar mais espaço dentro do corpo da câmera, diminuindo seu tamanho.

As rangefinders são muito parecidas com as compactas em relação à portabilidade, já que têm tamanhos parecidos. Também são bastante silenciosas: o único som é o da cortina. Além disso, como o visor é independente, as fotos podem ser tiradas sem que haja o corte provocado pela subida do espelho, possibilitando manter contato ininterrupto com o assunto. Sãos as câmeras para fotografia de rua “por excelência”, consagradas por mestres como Cartier-Bresson. Fotos com Leica M:
http://www.flickr.com/photos/spacelion/314384885/in/pool-36302872@N00/
http://www.flickr.com/photos/21618643@N00/312236889/in/pool-36302872@N00/

Médio Formato

Rolleiflex, Hasselblads estão entre essas. O médio formato inclui uma série de proporções diferentes de negativos. As câmeras são mais utilizadas em estúdios, já que os negativos (ou backs digitais) maiores permitem ampliações maiores, ideais para uso em publicidade. São câmeras de tamanho maior, a maioria das mais antigas não tem fotômetro (no estúdio é mais comum o uso do fotômetro de mão) e podem ter uma ou duas lentes (Single Lens Reflex ou Twin Lens Reflex).

Há dois aspectos relativos à linguagem que acho os mais interessantes. O primeiro é que essas câmeras permitem a focalização olhando-as de cima, ou seja, a câmera fica na altura da barriga. Isso quebra um pouco a agressividade que se tem ao apontar uma reflex para uma pessoa, “escondendo-se” atrás da máquina. Pode-se fotografar enquanto a pessoa olha para o seu rosto, tornando o contato entre fotógrafo e fotografado muito mais leal e confortável para este último. Além disso, as fotos feitas em médio formato, na maioria dos casos, são quadradas, o que muda totalmente a forma de compor e enquadrar. Alguns exemplos:
http://www.flickr.com/photos/shaunroberts/313580777/in/pool-mediumformat/
http://www.flickr.com/photos/janeway/315789014/in/pool-mediumformat/
http://www.flickr.com/photos/je-ne-suis-plus-ici/309758419/in/pool-mediumformat/

Existe uma imensa variedade de equipamentos no mercado. Nem tudo é DSLR. Cada um desses equipamentos tem suas características e seus elementos de linguagem. Não há melhores ou piores câmeras em termos absolutos. Há possibilidades diferentes. Antes de mudar de equipamento, talvez seja interessante tentar “esgotar” as possibilidades daquilo que se tem em mãos. E, com criatividade, é possível que um só equipamento nunca se esgote.

Foto: Alfonso Romero