Recentemente, diminuí a quantidade de fotos próprias postadas na internet, tanto em galerias como o Flickr como em fóruns e outros espaços. Concomitantemente, passei a ampliar uma quantidade maior de fotos. Meu formato preferido é o 15×21, um tamanho razoável mas que ainda é fácil de transportar e manipular. Para fotos mais importantes ou para montagens em molduras e painéis, uso o 20×30. Para isso, costumava usar o serviço de um laboratório para o qual enviava minhas fotos pela Internet e as recebia de volta pelo correio.
Embora a cópia em papel fotográfico feita em minilab tenha resultado satisfatório em relação à resolução da imagem, esse processo tem alguns inconvenientes. O primeiro — e mais importante para mim — é a falta de controle no processo. Por mais que os bons laboratórios aceitem as solicitações para não alterar as imagens no que se refere às cores, contraste ou cortes, muitas vezes a própria calibração da máquina já leva a um resultado diferente do esperado. O segundo é o tempo que se tem para receber as fotos, ou a necessidade de levá-las e buscá-las fisicamente na loja. E o terceiro é o custo: ainda que pequeno quando consideramos quantidades reduzidas, pode se tornar alto quando fazemos da ampliação uma rotina. Para efeitos de comparação, podemos ter em mente o preço de um laboratório bom e barato: R$ 1,60 para a cópia em 20×30 e R$ 4,00 para uma ampliação em 20×30.
Nunca tinha pensado em imprimir fotos na minha multifuncional Epson CX4900, um modelo já velhinho, com quatro cartuchos (ciano, magenta, amarelo e preto), até que um amigo me enviou pelo correio algumas de suas fotos, impressa uma Epson da mesma geração. Os resultados eram surpreendentes em termos de resolução e bastante vívidos no contraste e nas cores. Resolvi fazer o teste. Comprei algumas folhas de papel especial para impressão em alta resolução (que é chamado de papel fotográfico para impressoras jato de tinta) e mandei alguns arquivos digitais para a multifuncional. Mesmo sem nenhum tipo de calibração, as impressões me surpreenderam. Boa nitidez, cores e contrastes ótimos. E o melhor de tudo, sem ter ninguém interferindo no meu processo: fotos feitas diretas de arquivos Tiff de 16bits geradas a partir de RAW. Nada de compressão de JPEG pelo caminho.
Rapidamente fiz mais de 10 fotos em folhas A4, que é quase o tamanho de uma cópia em 20×30. O software que vem com a impressora permite escolher o perfil de cor ou selecionar simplesmente o modo Adobe RGB para calibração das cores. Tentei algumas fotos PB, que saíram um pouco colorizadas. Usei uma opção de usar apenas tinta preta, que resolveu a questão da cor, mas gerou fotos muito escuras. Foi preciso alguns ajustes e algum tempo até acertar o nível de contraste que levava a impressões mais fidedignas. Felizmente é possível ajustar níveis de brilho, contraste e de cada cor da impressora individualmente e salvar os resultados dentro do seu próprio programa. Todo esse processo pode ser um pouco frustrante, mas de forma geral é divertido, pois passamos a buscar o resultado quase de forma alquímica. É quase a mesma satisfação de ampliar quimicamente as próprias fotos e conferir o resultado surgindo no papel.
Mas, quando conseguimos obter a qualidade desejada na impressão, surge a questão dos cartuchos. Esses da Epson tem apenas 7ml de tinta e, como é possível imaginar, não agüentam muitas folhas A4 cobertas de tinta em qualidade máxima. E com cada cartucho custando cerca de R$ 25, esse sistema não seria muito econômico, além de pouco prático. Passei então a pesquisar formas alternativas.
Um sistema de tinta contínua (continuous ink system), também chamado de bulk ink, parecia ser a solução para os meus problemas. Pesquisei e comprei um desses industralizados, com chips que enganam a impressora e apontam estar cheios independentemente da quantidade de tinta nos cartuchos. Os recipientes não têm as esponjas dos originais e são alimentados continuamente pelos reservatórios que ficam ao lado do equipamento, através de mangueiras de silicone. A instalação foi um pouco suja, e a parte de puxar a tinta para os cartuchos com a seringa, com cuidado para evitar a entrada de ar é a mais complicada.
Impressora com bulk ink instalado
Logo depois de instalado, o sistema parece falho: as impressões não saem 100% e aquele teste de impressão de linhas para verificar a necessidade de limpeza não fica bom, por mais que se faça o procedimento de limpeza das cabeças. Após um ou dois dias e algumas impressões depois, a coisa fica muito boa. Imagens perfeitas e sem falhas. Parece que é preciso de algum tempo para a tinta “assentar” ou para algum resquício de ar ser eliminado.
No entanto, para a impressão de fotos, há dois aspectos importantes com os quais a preocupação é contínua: a tinta e o papel. Há dois tipos de tinta, a corante e a pigmentada. A corante tem cores mais vivas, mas diz-se que desbotam com o tempo. Fala-se que a pigmentada é mais resistente, mas pode entupir as cabeças de impressão. Em ambos os casos, há fabricantes afirmando que suas tintas corantes não apagam com o tempo e suas pigmentadas são finas o suficiente para não causa entupimentos. Minha experiência não permite dizer se isso são mitos ou verdades. Estou usando tinta corante Formulabs, que é uma das marcas com maior referência de qualidade. É importante que o fornecedor seja idôneo e de fato entregue a tinta que promete. Desconfie de preços muito baixos.
O papel também é fundamental. Há diversos tipos e qualidades, de forma que o uso pode determinar qual tipo comprar. A gramatura é um ponto importante: quanto maior, mais denso é o papel, portanto mais firme e geralmente mais espesso. Geralmente há as opções de glossy (brilhante) e matte (fosco), mas esse último é diferente do fosco que estamos acostumados em laboratório, que se assemelharia mais ao semi-glossy para impressão em jato de tinta. Há outros com texturas e acabamentos especiais, como o canvas. Há material desenhado especialmente para fine art e portanto com valor compatível. Eu optei, para o uso diário, pelo Studiolab 270 g/m² e acabamento semi-glossy. O custo é relativamente baixo (R$ 1,45 por folha A4) e a qualidade é boa, recebendo bem a tinta. Papéis mais baratos dão a impressão da tinta estar depositada em blocos sobre o papel, enquanto nesse a tinta parece estar incorporada, parecida com uma fotografia por processo químico.
Fotos 15×21 impressas com o sistema
Considerando que 400ml de tinta saem por R$ 40 (enquanto um cartucho original sai por R$ 25, com 7ml) e se estimarmos, bem por alto, que com isso dá pra fazer pelo menos umas 100 fotos (embora deva ser bem mais), podemos estabelecer um custo de R$ 0,40 por impressão. Ou seja, temos um gasto de R$ 1,85 por foto A4 em qualidade máxima, contra R$ 4,00 de uma ampliação 20×30 no laboratório. Tenho feito também muitas impressões em 15×21, colocando duas fotos em uma mesma folha A4 e depois refilando com estilete. O custo, nesse caso, é de no máximo R$ 0,92 por impressão.
Quando se altera o papel ou a tinta, pode ser necessário refazer o acerto de cores e de contraste, de forma que é interessante salvar as preferências de acordo com os tipos de insumo utilizados para não perder tempo a cada mudança. O ideal é manter o mesmo tipo de papel e o mesmo fornecedor de tinta para não se preocupar com isso.
É importante ressaltar, no entanto, que na Internet há muitos relatos de pessoas que não se deram bem com o sistema. Impressões de baixa qualidade, problemas nas cabeças de impressão e até mesmo inutilização dos equipamentos. O bulk ink invalida a garantia da impressora, então é melhor instalar apenas após o período coberto pelo fabricante. Há algumas empresas que fazem a instalação do sistema e dão garantia do mesmo, o que pode ser uma boa alternativa para quem quer diminuir os riscos.
A conclusão é de que a impressão caseira, mesmo em impressoras simples, atinge um nível de qualidade suficiente para a maior parte das aplicações. Tenho pensado que as fotos devem ser objetos e não permanecer apenas na tela do computador, como fotos “fantasma”. Essa experiência muda a concepção que temos sobre a própria produção, pois só uma foto viva, em suporte físico de tamanho razoável permite dizer se de fato o que estamos fazendo é bom ou não. E o sistema de tinta contínua é um ótimo caminho para que isso possa ser feito rotineiramente sem a preocupação com os gastos com tintas originais. A qualidade pode ser ainda maior com modelos mais novos e robustos de impressora, que empregam 6, 8 ou até mais cartuchos. A fotografia digital permitiu que o fotógrafo assumisse grande controle sobre as suas obras, e a última parte do processo, a impressão, também pode também fazer parte do seu fluxo de trabalho, propiciando a cada foto um sentido de autoria ainda maior.
Agradeço aos amigos Ivan de Almeida e Fernando Aznar pelas dicas e conversas sobre o assunto durante as últimas semanas.