Ave Holga

A onda das Toy Cameras persiste, com cada vez mais adeptos de um tipo de fotografia que vai contra e tendência tecnológica da fotografia digital e sem defeitos que os fabricantes de câmeras convencionais oferecem atualmente. O uso das “câmeras de brinquedo” geralmente está associada a uma fotografia compromissada com aspectos distintos, e por isso faz uso das características comuns a esses equipamentos: baixa nitidez e aberrações cromáticas por conta das lentes de plástico, vazamentos de luz, duplas exposições etc.

Entre os modelos mais cultuados está a Holga 120, uma médio formato  que produz quadros de 56mm x 56mm, tem foco manual baseado em 4 posições fixas e seleções limitadas de abertura e tempo de exposição, variando de acordo com o modelo da câmera. O mais comum é que a lente tenha o diafragma fixo em f/8 e o obturador funciona em torno do 1/100 de segundo.

As principais críticas que vejo em relação às Holgas e similares feita pelos fotógrafos mais conservadores é que o seu uso não passa de um modismo é que o emprego dessas câmeras é a busca por um efeito fácil, pronto e vazio. Se é um modismo ou uma prática que veio para ficar, nas proporções em que está disseminada hoje, só o tempo dirá. E, de fato, as Holgas produzem imagens com um característica específica. Mas até aí, quando procuramos uma lente que seja extremamente nítida, também estamos procurando uma caraterística específica. Ou quando escolhemos um tipo específico de filme, de filtro ou aplicamos um recurso num programa de edição de imagens. Não é o efeito em si que é vazio ou significativo: é a coerência entre a característica técnica e o “discurso” fotográfico que dará sentido à escolha do equipamento. Procurar uma câmera que vaza luz ou uma lente com ótica perfeita é a mesma coisa quando não se sabe o que se fazer com uma ou outra.

As Holgas e suas  similares têm, no entanto, uma vantagem. A fotografia como um todo é apenas um efeito, uma ilusão. É possível produzir fotografias cujos aspectos técnicos criam uma ilusão mais bem feita (lentes com alta qualidade ótica, nitidez, sensores com cores fidedignas etc.) ou pode-se deixar de lado essa preocupação e ter uma produção que mostra claramente que a fotografia é apenas um processo de interpretação. Ao propiciar isso, a Holga liberta o fotógrafo das amarras com a “realidade” e permite que ele dialogue com o processo, com o aparelho e com as suas próprias intenções. Cada vez mais as imagens dominam o mundo, e a escolha é entre apenas deixar-se hipnotizar por elas ou olhar para a forma como são feitas, coisa que é mais fácil com as toy cameras. Vejamos, então, alguns diálogos imagéticos com as Holgas (clique para ver maior).

Holly Northrop
Holly Northrop

Holly Northrop
Holly Northrop

Holly Northrop
Holly Northrop

santacroce
santacroce

Reinis Traidas
Reinis Traidas

Stephanie Carter
Stephanie Carter

Scout Seventeen
Scout Seventeen

Laura Burlton
Laura Burlton

Todas as imagens que ilustram esse texto foram utilizadas sob licença Creative Commons.

Polaroid: linguagem agonizante

A respeito do post sobre o The Impossible Project, publicado no blog do 508: o projeto em questão é uma iniciativa para reviver os filmes fotográficos instantâneos, depois que a Polaroid abandonou a fabricação desse tipo de produto em 2008. Sempre que esse assunto é trazido à tona, fala-se na viabilidade econômica, na necessidade de adequar o produto à era digital e que o filme instantâneo morreu porque o que se consumia não eram as fotos, e sim a possibilidade de vê-las logo após a captura.

Isso tudo pode estar correto, mas para os fotógrafos, especialmente aqueles que utilizavam as Polaroids como uma forma de expressão, o que morreu foi toda uma linguagem fotográfica. A moldura branca texturizada, o formato quadrado (embora existam câmeras instantâneas que produzem fotos retangulares), cores características e, sobretudo, a tendência a uma atitude fotográfica mais descompromissada, quase como um precedente do movimento Lomo que surgiu há alguns anos.

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Fotografias que as digitais (baratas) não fazem

Uma pessoa pergunta num fórum de fotografia: “quando teremos uma câmera digital compacta com sensor full-frame”? Pois é. Câmeras compactas são as digitais mais comuns, pequenas, leves, não trocam lentes e são voltadas ao fotógrafo amador casual. Fotógrafos amadores avançados geralmente usam câmeras reflex, maiores, mais caras e pesadas e que trocam suas objetivas. Uma das maiores diferenças entre as compactas e as reflex é o tamanho do sensor, sendo que as últimas os têm maiores.

Quais as principais implicações de um sensor mais amplo? Primeiro, a qualidade de imagem tende a ser melhor, especialmente em fotos com pouca luminosidade, pois há uma concentração menor dos pixels que captam a luz para formar a fotografia. E o outro, que está mais relacionado à linguagem fotográfica, é que a profundidade de campo tende a ser menor, ou seja, é mais mais fácil desfocar o fundo de uma foto, por exemplo.

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O Party Shot da Sony: fotografia (totalmente) automática

Vamos imaginar uma festa de aniversário há 20 anos atrás, em 1989. Convidados, bolo, bebidas e uma câmera fotográfica compacta de plástico. Daquelas com apenas um botão. Funciona com pilhas, tem flash e foco automáticos e está carregada com um rolo de Kodak Gold de 24 poses comprado no supermercado. O anfitrião, animado por registrar o evento, pega a câmera e pede que todos se reúnam na hora de cortar o bolo. Faz uma foto com todos juntos, uma no momento em que as velas são apagadas e outras ao longo da festa, especialmente dos parentes e amigos que não se vê há algum tempo. Provavelmente, precisará tirar algumas fotos aleatórias no dia seguinte para acabar com o filme e mandar revelar (a câmera só rebobina o rolo quando ele termina).

A fotografia é um ato quase solene. Lança-se mão da câmera apenas nos momentos chave, em que o registro é essencial. A maior parte das pessoa posa para as fotos, já que é indesejável perder um quadro do negativo ou queimar o filme por algum outro motivo. A fotografia é a confirmação do que se passa.
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Fotografia amadora e consumo

Não é novidade para ninguém que o atual modelo econômico é baseado no consumo. Essa característica vem se acentuando nos últimos cinquenta anos, atrelando o desenvolvimento a níveis cada vez maiores de produção de bens e escoamento desse material. Isso leva a uma necessidade cada vez maior de que os consumidores comprem novos produtos. Existem algumas técnicas empregadas pelos fabricantes para atingir este objetivo.

Uma das formas mais eficazes é a obsolescência programada. Isso significa que um produto é desenhado para durar um determinado período de tempo e, após esse período, quebrar ou parar de funcionar de forma adequada. Isso é bastante comum entre produtos de baixo custo, que quando dão problema compensa mais trocar por um novo do que mandar consertar, por exemplo. Com isso, o consumidor mantém a roda da produção e do escoamento girando. Uma câmera fotográfica simples tende a durar muito menos do que uma câmera profissional, pois é como se você fosse obrigado a arcar com um custo extra para ter um produto que não terá que trocar depois de um tempo. De um jeito ou de outro, depois de um tempo, você acaba gastando uma quantidade semelhante de dinheiro para usar um produto (ou vários com a mesma função) por um determinado período de tempo.

No entanto, a obsolescência programada pode ser arriscada para a empresa, pois o consumidor pode mudar de marca por conta da quebra do produto. A técnica é efetiva quando o período é suficiente para que o consumidor compre outro produto, mas ao mesmo tempo permaneça satisfeito com a marca.

Uma técnica muito mais empregada em equipamentos eletrônicos não é fazer com que os produtos quebrem, mas que pareçam obsoletos, o que é chamado de obsolescência percebida. A maior parte dos fotógrafos não troca de câmera porque o seu equipamento quebra, mas porque acreditam que ele ficou antiquado e não atende mais as suas necessidades. As necessidades, é claro, são criadas pelo próprio mercado que precisa gerar um nível de insatisfação no consumidor suficiente para que ele troque de equipamento, a fim de atender as necessidades que ele não tinha antes. Esse é um processo contínuo, alimentado pelas “inovações” oferecidas pelo fabricante. Sobre esse tema, há no Multiply um ótimo texto do Ivan de Almeida.

Entre o lançamento de duas câmeras topo de linha da Nikon, a F (1959) e a F2 (1971), se passaram 12 anos. Entre as mais recentes topo de linha da mesma marca, a D2X e a D3, se passaram 3 anos. Só um ano separou o lançamento de duas câmeras profissionais da Canon, a 40D e a 50D. Como fazer com que os usuários troquem rapidamente de equipamento para manter esse sistema rodando cada vez mais rápido? Dizendo: você precisa de mais megapixels, mais qualidade, mais resolução, mais botões. Sua câmera já era, mas não se preocupe, pois temos uma nova. É só passar no caixa.

É claro que se olharmos de perto, vamos ver que pouquíssima coisa muda nos produtos e que as tais inovações são meramente cosméticas ou muitas vezes apenas um nome sofisticado. “Processador de quinta geração”, “foco ultrassônico”, “super estabilizador” e por aí vai.

Nesse momento, podemos pensar que não é possível que as pessoas não percebam isso e caiam nessa armadilha. Especialmente na fotografia, que afinal se trata de arte, não de consumo. Então vamos até uma lista de discussão sobre o assunto e argumentamos que as novas tecnologias não são mais que nomes bonitos ou no máximo algo para atender uma necessidade que não temos. A resposta de alguns é de que somos retrógrados, não aceitamos o novo, que as inovações são importantíssimas, fundamentais e que graças aos céus temos fabricantes tão preocupados com o nosso bem-estar. Vemos inclusive que os consumidores defendem com unhas e dentes essas mesmas companhias que os colocam num estado permanente de insatisfação e angústia com o único propósito de manter os seus lucros. E aí temos que admitir que as agências de publicidade fazem um baita de um bom trabalho.

A propaganda é a chave, pois é através dela que o consumo é incentivado. E ela não está apenas nos comerciais. Está nos filmes, nos jornais, nos discursos políticos. Lembro bem das minhas aulas de psicologia do consumidor, em que o truque era bem explicado: você tem que fazer o cara se sentir realmente mal com o que ele tem (mesmo que seja com o que você falou para ele comprar na semana passada), e em seguida mostrar que a solução está no shopping mais próximo. Basta abrir a carteira e levar mais uma caixa pra casa e você se sentirá ótimo. Pelo menos por meia-hora (ou até inventarem mais uma necessidade). E a coisa funciona muito bem.

Quando dei aulas de marketing numa escola técnica, lembro das definições dos livros: marketing é atender as necessidades dos consumidores com a geração de lucro. Eu não sabia exatamente por quê, mas aquilo não parecia se encaixar muito bem. Que necessidades são essas? De onde vêm? E o lucro? Pode ser criado infinitamente? Logo em seguida, já havia uma defesa dos marketeiros, dizendo que eles não criavam necessidades, apenas atendiam os anseios genuínos das pessoas. Dá quase para verter uma lágrima frente a tanta nobreza. Mas aí, lembramos: eles são publicitários! Fazer propaganda positiva da própria publicidade faz parte do negócio.

Nem é preciso dizer que esse modelo não é viável por conta da finitude dos recursos naturais do planeta (se você ainda não viu, confira o vídeo A História das Coisas). Além disso, provoca um impacto social fortíssimo em comunidades menos favorecidas, para bancar uma produção que é sustentada pela constante insatisfação e infelicidade das pessoas.

Mas será que todo esse modelo é compatível com a produção artística — em um nível pessoal, não mercadológico, ou cairemos no mesmo esquema — na qual a fotografia amadora séria está inserida? O que percebo, no entanto, é cada vez menos essa fotografia como expressão de ideias, sentimentos, estética e criação e cada vez mais como uma expressão desse consumismo. É preciso justificar para si mesmo o consumo, e quando o consumo é de equipamento fotográfico, é preciso fotografar. E, de preferência, de uma forma que seja convincente de que todo o gasto (sem o falso eufemismo de chamar isso de investimento) com esse material se justifica por fotos melhores. Fotografo uma textura para mostrar como a resolução da minha máquina é boa, um objeto em movimento para justificar a lente com foco ultrassônico, um pássaro preto à meia noite para ver como o ISO alto funciona e por aí vai. Ou seja, esse modelo é tão vicioso (embora incrivelmente eficiente) que ele contamina até mesmo a forma de fotografra, que deveria estar relacionada apenas à expressão livre e pura da alma do fotógrafo.

Não é fácil fugir disso, já que estamos envoltos totalmente por essa forma de fazer as coisas funcionarem. Mas podemos ao menos ser um pouco mais conscientes. Não aceite que uma propaganda diga qual é a sua necessidade, descubra você mesmo o que de fato você precisa. Não seja ingênuo a ponto de defender um fabricante, a única coisa que o move é o lucro, e fazer você acreditar que ele se preocupa com você é apenas mais uma forma de continuar obtendo esse lucro. Faça sua fotografia valer pelo conteúdo. Uma boa fotografia não depende de quinhentos megapixels nem de focos ultrassônicos, depende de alguém que use a câmera (seja ela qual for, é o que menos importa) com paixão, com vontade de dizer algo, de mostrar ao mundo qual é o seu ponto de vista. Com isso, você garante que ao menos a sua fotografia será um pouco mais livre.

Câmeras telemétricas (rangefinders)

Os dois principais sistemas de câmeras fotográficas, reflex e rangefinder (ou telemétricas), surgiram mais ou menos na mesma época, os anos 30 do século passado. Esses dois tipos de máquinas conviveram por cerca de 40 anos, até que as reflex assumiram definitvamente o porte de equipamento profissional e as telemétricas perderam as suas características para dar lugar às compactas baratas utilizadas pela maior parte dos amadores. Ainda assim, fotógrafos renomados como Sebastião Salgado e Ralph Gibson continuam a usar esse sistema, notadamente as câmeras Leica, de altíssima qualidade e tradição. O que há, então, nessas câmeras que não permitiram que caíssem no ostracismo, carregando ainda uma legião de admiradores?

As câmeras reflex dominaram o mercado de amadores avançados e profissionais por resolverem muito bem três problemas técnicos da fotografia: o foco, a medição de luz e o erro de paralaxe. Ao colocar no visor, através de um espelho móvel, exatamente a imagem que vai sair na foto, permitindo ao usuário visualizar o enquadramento com precisão, o foco e a profunidade de campo, além de medir a luz não do ambiente, mas a que passa pela objetiva e efetivamente sensibilizará o filme ou sensor, esses equipamentos criaram uma maneira prática, intuitiva e eficiente de fazer fotos. As reflex logo vão completar 100 anos e ainda são o modelo para as modernas câmeras digitais de alta performance.

Fed 2 rangefinder camera - Jimmy Smith
Fed 2 - Jimmy Smith

Já as câmeras telemétricas solucionavam o problema do foco de uma maneira menos prática. Rangefinder significa medidor de distância e se traduz por telêmetro, que é um dispositivo óptico que serve para verificar a distância entre o aparelho e um determinado ponto, sendo utilizado para muitas aplicações, como a topografia. Ele foi acoplado às câmeras fotográficas para que fosse possível, de forma fácil, verificar a distância entre a câmera e o objeto fotografado. Essa distância era lida no telêmtro e transferida para o anel de foco da objetiva utilizada. Em câmeras mais modernas, o telêmetro foi integrado ao sistema de foco, sendo que, ao utilizá-lo, a câmera era automaticamente ajustada para focalizar naquela distância. O esquema abaixo demonstra o seu funcionamento.

Esquema de funcionamento de câmera rangefinder - Tati Schilaro
Esquema de funcionamento de câmera telemétrica - Tati Schilaro

Uma câmera telemétrica tem um visor, pelo qual se compõe a foto. No visor, há a sobreposição das imagens vindas de duas janelas (1 e 2). A imagem da janela 2 passa por um sistema de prismas e espelhos que projeta, no centro do quadro, uma parte da imagem sobreposta à que vem da janela 1. O foco é ajustado fazendo com que as duas imagens coincidam. Quanto maior a distância entre a janela 1 e 2, mais preciso será o foco.

Simulação de imagem fora de foco no visor de uma rangefinder
Simulação de imagem fora de foco no visor de uma telemétrica
Simulação de imagem no foco em câmera rangefinder
Simulação de imagem no foco em câmera telemétrica

No esquema apresentado, os traços vermelhos representam a luz que passa pela objetiva e sensibilizará o filme ou sensor, ou seja, mostra a captura que a câmera faz para efetivamente gerar a foto. Percebe-se que ela não corresponde ao que é visto pelo visor, fazendo com que às vezes o que é visto não corresponda exatamente ao que sai na foto. Este problema, mais freqüente quando o assunto está próximo da câmera, é chamado de erro de paralaxe. Algumas câmeras mais modernas apresentam um reticulado móvel, que se move junto com o sistema de foco, para tentar corrigir esse problema e permitir um enquadramento preciso.

O terceiro problema das telemétricas era a medição da luz. A maior parte das câmeras de meados do século 20 ou não tinha um fotômetro, obrigado o fotógrafo a usar um aparelho externo de medição ou tabelas, ou tinham um fotômetro acoplado. Alguns utilizavam células de selênio. As Contax e Kiev, por exemplo, tinham um fotômetro que indicava a exposição correta por uma agulha. Esse valor indicado precisava ser transportado para a câmera manualmente. Câmeras mais modernas colocaram um fotômetro integrado, inclusive controlando a exposição automaticamente. No entanto, apenas as mais recentes apresentam medição TTL (ou through the lens), que usam a luz que passa pela própria objetiva para determinar o valor de exposição.

Fotômetro acoplado em uma Kiev 4
Fotômetro acoplado em uma Kiev 4

As telemétricas se dividiram em dois grandes grupos: as com objetivas intercambiáveis, como as Leica, Contax, Canon e Nikon, de ótima qualidade de construção e preços mais altos; e as com objetivas fixas, mais baratas e chamadas de Leica dos pobres, como as Minolta Hi-Matic, as Olympus 35 SP e as celebradas Canonet. Estas últimas, no seu modelo mais avançado, o QL17 GIII, são consideradas ótimas no custo-benefício, pois possuem lentes claras (40mm e f/1.7) e nítidas, exposição automática (priorodade de velocidade) com opção de controle manual e correção de paralaxe.

Embora todos os modelos sobre os quais falei são de filme 35mm, há câmeras telemétricas em outros formatos, como o médio. A Mamiya 7 é um exemplo de telemétrica que usa filme 120. E, embora seus tempos áureos tenham ficado para trás, há telemétricas digitais, como a Epson R1 e a Leica M8, que pode usar toda a gama de objetivas de alta qualidade projetadas ao longo de toda a série M da fábrica alemã.

Leica M8 - Takuhito Sotome
Leica M8 - Takuhito Sotome

Mas qual o motivo pelo qual as telemétricas conseguiram enfrentar de frente as reflex, ganhando preferência de muitos amadores e fotógrafos consagrados, e conseguem se manter vivas até a era digital? Provavelmente um dos principais motivos está no seu tamanho e discrição. Por não contarem com o espelho móvel das câmeras reflex, elas são menores e fazem muito menos barulho. As objetivas ficam mais perto do plano do sensor ou do filme, permitindo menor profundidade e qualidade óptica invejável. São certamente menos agressivas do que as câmeras do outro sistema, permitindo uma fotografia mais humana, menos invasiva. Não é a toa que Bresson fazia suas fotografias de rua com uma Leica.

Tenho duas telemétricas: uma Kiev 4 de 1960, cópia russa das Contax alemãs, com uma ótima lente Jupiter-8 (50mm f/2) e uma Canonet QL17 GIII. Câmeras como esses hoje são encontradas a preço de banana em sites como o eBay. Acho que vale a pena, para quem gosta de fotografia, experimentar a forma discreta, silenciosa e intimista das telemétricas, até por conta da altíssima qualidade das fotos que a maior parte delas proporciona. É mais uma forma de perceber, por conta própria, como diferentes equipamentos não são melhores ou piores, mas apenas possuem linguagens diferentes. E como uma imagem vale mais do que mil palavras, seguem algumas fotos feitas com telemétricas.

Fiky Hatta - Leica M7 - Ilford Delta 100
Fiky Hatta - Leica M7 - Ilford Delta 100
Sam A - Voigtlander Bessa 2 - Fujifilm Neopan 1600
Michael Pick - Epson RD-1
Michael Pick - Epson RD-1
Brian Liloia - Olympus XA
Brian Liloia - Olympus XA
Erik Gustafson - Yashica Electro 35 GSN - Kodak BW400CN
Erik Gustafson - Yashica Electro 35 GSN - Kodak BW400CN

Impressão de fotos em impressora doméstica com bulk ink

Recentemente, diminuí a quantidade de fotos próprias postadas na internet, tanto em galerias como o Flickr como em fóruns e outros espaços. Concomitantemente, passei a ampliar uma quantidade maior de fotos. Meu formato preferido é o 15×21, um tamanho razoável mas que ainda é fácil de transportar e manipular. Para fotos mais importantes ou para montagens em molduras e painéis, uso o 20×30. Para isso, costumava usar o serviço de um laboratório para o qual enviava minhas fotos pela Internet e as recebia de volta pelo correio.

Embora a cópia em papel fotográfico feita em minilab tenha resultado satisfatório em relação à resolução da imagem, esse processo tem alguns inconvenientes. O primeiro — e mais importante para mim — é a falta de controle no processo. Por mais que os bons laboratórios aceitem as solicitações para não alterar as imagens no que se refere às cores, contraste ou cortes, muitas vezes a própria calibração da máquina já leva a um resultado diferente do esperado. O segundo é o tempo que se tem para receber as fotos, ou a necessidade de levá-las e buscá-las fisicamente na loja. E o terceiro é o custo: ainda que pequeno quando consideramos quantidades reduzidas, pode se tornar alto quando fazemos da ampliação uma rotina. Para efeitos de comparação, podemos ter em mente o preço de um laboratório bom e barato: R$ 1,60 para a cópia em 20×30 e R$ 4,00 para uma ampliação em 20×30.

Nunca tinha pensado em imprimir fotos na minha multifuncional Epson CX4900, um modelo já velhinho, com quatro cartuchos (ciano, magenta, amarelo e preto), até que um amigo me enviou pelo correio algumas de suas fotos, impressa uma Epson da mesma geração. Os resultados eram surpreendentes em termos de resolução e bastante vívidos no contraste e nas cores. Resolvi fazer o teste. Comprei algumas folhas de papel especial para impressão em alta resolução (que é chamado de papel fotográfico para impressoras jato de tinta) e mandei alguns arquivos digitais para a multifuncional. Mesmo sem nenhum tipo de calibração, as impressões me surpreenderam. Boa nitidez, cores e contrastes ótimos. E o melhor de tudo, sem ter ninguém interferindo no meu processo: fotos feitas diretas de arquivos Tiff de 16bits geradas a partir de RAW. Nada de compressão de JPEG pelo caminho.

Rapidamente fiz mais de 10 fotos em folhas A4, que é quase o tamanho de uma cópia em 20×30. O software que vem com a impressora permite escolher o perfil de cor ou selecionar simplesmente o modo Adobe RGB para calibração das cores. Tentei algumas fotos PB, que saíram um pouco colorizadas. Usei uma opção de usar apenas tinta preta, que resolveu a questão da cor, mas gerou fotos muito escuras. Foi preciso alguns ajustes e algum tempo até acertar o nível de contraste que levava a impressões mais fidedignas. Felizmente é possível ajustar níveis de brilho, contraste e de cada cor da impressora individualmente e salvar os resultados dentro do seu próprio programa. Todo esse processo pode ser um pouco frustrante, mas de forma geral é divertido, pois passamos a buscar o resultado quase de forma alquímica. É quase a mesma satisfação de ampliar quimicamente as próprias fotos e conferir o resultado surgindo no papel.

Mas, quando conseguimos obter a qualidade desejada na impressão, surge a questão dos cartuchos. Esses da Epson tem apenas 7ml de tinta e, como é possível imaginar, não agüentam muitas folhas A4 cobertas de tinta em qualidade máxima. E com cada cartucho custando cerca de R$ 25, esse sistema não seria muito econômico, além de pouco prático. Passei então a pesquisar formas alternativas.

Um sistema de tinta contínua (continuous ink system), também chamado de bulk ink, parecia ser a solução para os meus problemas. Pesquisei e comprei um desses industralizados, com chips que enganam a impressora e apontam estar cheios independentemente da quantidade de tinta nos cartuchos. Os recipientes não têm as esponjas dos originais e são alimentados continuamente pelos reservatórios que ficam ao lado do equipamento, através de mangueiras de silicone. A instalação foi um pouco suja, e a parte de puxar a tinta para os cartuchos com a seringa, com cuidado para evitar a entrada de ar é a mais complicada.

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Impressora com bulk ink instalado

Logo depois de instalado, o sistema parece falho: as impressões não saem 100% e aquele teste de impressão de linhas para verificar a necessidade de limpeza não fica bom, por mais que se faça o procedimento de limpeza das cabeças. Após um ou dois dias e algumas impressões depois, a coisa fica muito boa. Imagens perfeitas e sem falhas. Parece que é preciso de algum tempo para a tinta “assentar” ou para algum resquício de ar ser eliminado.

No entanto, para a impressão de fotos, há dois aspectos importantes com os quais a preocupação é contínua: a tinta e o papel. Há dois tipos de tinta, a corante e a pigmentada. A corante tem cores mais vivas, mas diz-se que desbotam com o tempo. Fala-se que a pigmentada é mais resistente, mas pode entupir as cabeças de impressão. Em ambos os casos, há fabricantes afirmando que suas tintas corantes não apagam com o tempo e suas pigmentadas são finas o suficiente para não causa entupimentos. Minha experiência não permite dizer se isso são mitos ou verdades. Estou usando tinta corante Formulabs, que é uma das marcas com maior referência de qualidade. É importante que o fornecedor seja idôneo e de fato entregue a tinta que promete. Desconfie de preços muito baixos.

O papel também é fundamental. Há diversos tipos e qualidades, de forma que o uso pode determinar qual tipo comprar. A gramatura é um ponto importante: quanto maior, mais denso é o papel, portanto mais firme e geralmente mais espesso. Geralmente há as opções de glossy (brilhante) e matte (fosco), mas esse último é diferente do fosco que estamos acostumados em laboratório, que se assemelharia mais ao semi-glossy para impressão em jato de tinta. Há outros com texturas e acabamentos especiais, como o canvas. Há material desenhado especialmente para fine art e portanto com valor compatível. Eu optei, para o uso diário, pelo Studiolab 270 g/m² e acabamento semi-glossy. O custo é relativamente baixo (R$ 1,45 por folha A4) e a qualidade é boa, recebendo bem a tinta. Papéis mais baratos dão a impressão da tinta estar depositada em blocos sobre o papel, enquanto nesse a tinta parece estar incorporada, parecida com uma fotografia por processo químico.

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Fotos 15×21 impressas com o sistema

Considerando que 400ml de tinta saem por R$ 40 (enquanto um cartucho original sai por R$ 25, com 7ml) e se estimarmos, bem por alto, que com isso dá pra fazer pelo menos umas 100 fotos (embora deva ser bem mais), podemos estabelecer um custo de R$ 0,40 por impressão. Ou seja, temos um gasto de R$ 1,85 por foto A4 em qualidade máxima, contra R$ 4,00 de uma ampliação 20×30 no laboratório. Tenho feito também muitas impressões em 15×21, colocando duas fotos em uma mesma folha A4 e depois refilando com estilete. O custo, nesse caso, é de no máximo R$ 0,92 por impressão.

Quando se altera o papel ou a tinta, pode ser necessário refazer o acerto de cores e de contraste, de forma que é interessante salvar as preferências de acordo com os tipos de insumo utilizados para não perder tempo a cada mudança. O ideal é manter o mesmo tipo de papel e o mesmo fornecedor de tinta para não se preocupar com isso.

É importante ressaltar, no entanto, que na Internet há muitos relatos de pessoas que não se deram bem com o sistema. Impressões de baixa qualidade, problemas nas cabeças de impressão e até mesmo inutilização dos equipamentos. O bulk ink invalida a garantia da impressora, então é melhor instalar apenas após o período coberto pelo fabricante. Há algumas empresas que fazem a instalação do sistema e dão garantia do mesmo, o que pode ser uma boa alternativa para quem quer diminuir os riscos.

A conclusão é de que a impressão caseira, mesmo em impressoras simples, atinge um nível de qualidade suficiente para a maior parte das aplicações. Tenho pensado que as fotos devem ser objetos e não permanecer apenas na tela do computador, como fotos “fantasma”. Essa experiência muda a concepção que temos sobre a própria produção, pois só uma foto viva, em suporte físico de tamanho razoável permite dizer se de fato o que estamos fazendo é bom ou não. E o sistema de tinta contínua é um ótimo caminho para que isso possa ser feito rotineiramente sem a preocupação com os gastos com tintas originais. A qualidade pode ser ainda maior com modelos mais novos e robustos de impressora, que empregam 6, 8 ou até mais cartuchos. A fotografia digital permitiu que o fotógrafo assumisse grande controle sobre as suas obras, e a última parte do processo, a impressão, também pode também fazer parte do seu fluxo de trabalho, propiciando a cada foto um sentido de autoria ainda maior.

Agradeço aos amigos Ivan de Almeida e Fernando Aznar pelas dicas e conversas sobre o assunto durante as últimas semanas.

Trocando o despolido da K100D

O despolido (ou focusing screen) é uma peça presente nas câmeras reflex responsável pela visualização do foco e pelas marcações que se vê no visor. Antigamente, as câmeras reflex tinha visores grandes e despolidos com recursos para auxiliar no foco, uma vez que muitas lentes não possuiam foco automático. Com a automatização os visores passaram ser menores, já que as câmeras são responsáveis pelo foco. Não é mais preciso conferir no olho se está tudo perfeitamente focado.

Com as câmeras digitais reflex mais simples, isso piorou bastante. Ficamos na total dependência do foco automático. Para quem gosta de usar lentes manuais, as Pentax até oferecem uma boa compatibilidade e o sistema de foco da câmera avisa quando o objeto está focado. Só que esse sistema não é muito preciso, ainda mais quando estamos usando grandes aberturas, que levam a uma profundidade de campo reduzida. Como tenho 3 lentes claras de foco manual, estava sofrendo muito com isso.

Resolvi então comprar um novo despolido, vendido no eBay por 28 dólares (incluindo frete). A peça vem de Hong Kong já com o material necessário para que o próprio usuário realize a troca, como mostram as fotos abaixo.

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Para fazer a instalação, é preciso remover a presilha metálica que suporta o despolido, como pode ser visto na foto abaixo. Para isso se utiliza a pinça de metal.

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Depois que a presilha é liberada, o despolido fica solto. Basta usar a pinça plástica para retirar um e colocar outro. Não se deve usar a pinça metálica pois ela pode riscar a peça.

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Em seguida, é só pressionar a presilha com o despolido de volta para o lugar com o dedo.

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A instalação está pronta. A nova peça não atrapalha o autofoco e permite um foco manual bem mais preciso, pois contém microprismas e um bipartido, que permitem conferir o foco. Veja como é o aspecto da peça instalada.

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E um teste prático. Fazendo o foco…

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E o resultado, foto com foco preciso mesmo usando uma lente manual em f/1.4.

Teste compacta X DSLR

Há algum tempo, entrei em uma discussão sobre a suposta superioridade, em termos de qualidade, das reflex digitais (DSLR) sobre as compactas. Ouve-se dizer, com muita freqüência, que as fotos feitas com câmeras reflex são melhores. Antes de mais nada, é preciso contextualizar esse tipo de afirmação. Uma foto boa é uma foto que tem um conceito forte, uma boa composição, uma narrativa, uma boa exploração da luz. Nada disso tem a ver com qualquer aspecto técnico ou de equipamento. Portanto, a afirmação de que as DSLR produzem fotos melhores só podem ser consideradas dentro do aspecto técnico, que é apenas um detalhe da construção de fotografias.

Ainda assim, eu não entendo as diferenças entre os dois tipos de câmeras como sendo expressas em termos de qualidade de arquivo. Para mim, o que há é uma diferença de programas. O “programa”, no sentido que lhe dá o Flusser em Filosofia de Caixa Preta, é o modo de funcionar no aparelho, ou seja, tudo aquilo que ele foi construído para fazer. Obviamente, compactas em reflex têm programas diferentes — mas isso não quer dizer que um seja melhor do que o outro.

Uma compacta, por não ter espelho, ter lente incorporada e enquadramento pelo visor de cistal líquido, permite uma série de aplicações. É fácil de levar a qualquer lugar, é discreta, silenciosa. Já uma reflex, com o espelho móvel visualuzação através do visor ótico, sensor maior, permite outras aplicações, como fotos mais limpas com pouca luz, uso de lentes par aplicações específicas etc. A maior parte das aplicações se sobrepõem: com ambos os tipos de câmera é possível fazer fotos com luz do dia ou com flash, por exemplo.

E, mesmo quando entramos no mérito da tal qualidade das fotos, se usarmos cada um dos tipos dentro de seus respectivos programas, veremos que não há essa diferença gritante que se costuma ouvir. Por isso fiz as fotos abaixo, uma com uma Nikon 8700, que tem um sensor de dois terços de polegada e uma Pentax K100D, que tem um sensor mais de duas vezes maior (e que no imginário do pessoal que adora equipamento produziria fotos bem melhores). Você saberia dizer qual foto foi feita com qual?

Câmera 1

Camera 1 crop

Camera 1 inteira

Câmera 2

Camera 2 crop

Camera 2 inteira

Pois é, depois de algum tempo eu mesmo já não lembrava mais qual era a foto de cada câmera. Dá pra ver claramente que não existem diferenças gritantes de qualidade e a dúvida ao olhar os exemplos comprova isso. Portanto, não faz sentido dizer que há tipos de câmeras melhores do que outros, mesmo quando vamos direto aos aspectos técnicos. Também não é verdade quando dizem que para fazer fotos melhores, é preciso ter uma câmera reflex. Se você entender a programação da sua câmera, ou seja, compreender o que ela faz bem, você terá um terreno incivelmente fértil para boas fotografias. E, no fim das contas, como falei lá em cima, a última coisa que importa ao fazer boas fotografias é a tal “qualidade” do equipamento.

Uma pequena sátira sobre a compra de câmeras

O crescente número de opções em câmeras digitais, de diversos tamanhos e preços e com recursos variados acaba por confundir muito aqueles que não têm familiaridade com o equipamento fotográfico. Muitos potenciais consumidores não entendem porque existem câmeras de R$ 500 e outras de R$ 3000 e acabam buscando informações na internet, onde sempre há “especialistas” dispostos a ajudar. O que eles não sabem, no entanto, é que existe nos espaços virtuais um verdadeiro fetiche pelas DSLR, as reflex digitais, câmeras mais “avançadas” — além de caras — e que sempre haverá alguém tentando convencê-lo de como você precisa de uma máquina dessas. Vamos ver algumas possibilidades de diálogo entre compradores em dúvida e os “experts” tentando ajudá-lo.

Diálogo 1
— Queria comprar uma câmera. Alguém pode indicar um modelo?
— Compre uma DSLR. Elas tem mais recursos, você pode trocar lentes, são mais rápidas. Você vai se apaixonar.
— Mas será que eu preciso de tudo isso?
— Todo mundo precisa. Câmera de verdade é DSLR.

Diálogo 2
— Quero comprar uma câmera para minha avó. Ela só sabe apertar o botão.
— Compre uma DSLR.
— Mas ela só vai usar a câmera no automático total!
— Compre uma DSLR e deixe no quadradinho verde.

Diálogo 3
— Quero comprar uma câmera, mas só tenho trezentos reais.
— Compre uma DSLR.
— Mas eu só tenho trezentos! Essas câmeras custam dois mil reais!
— Junte mais mil e setecentos e compre uma DSLR.

Diálogo 4
— Quero comprar uma câmera compacta.
— Compre uma DSLR.
— Você entendeu o que eu disse? C-O-M-P-A-C-T-A.
— Compacta não tem ISO alto nem troca lente. Compre uma DSLR.

Diálogo 5
— Você não está me entendendo. Quero uma câmera pequena pra carregar na bolsa, sabe? Compacta.
— Compactas são péssimas. Já pensou fazer um casamento com uma compacta?
— Não sou profissional e nem quero “fazer casamentos”.
— Todo mundo quer fazer casamentos. E todo mundo quer uma DSLR. Compre uma DSLR.

Diálogo 6
— Quero comprar uma câmera de filme.
— Filme? Isso não existe mais. Compre uma DSLR.
— Mas eu quero usar filme!
— Tudo bem, mas então pelo menos que seja da mesma marca da DSLR que você vai comprar no futuro, para aproveitar as lentes.

Diálogo 7
— Já tenho uma DSLR e quero comprar outra câmera.
— Compre uma DSLR.
— Mas eu já tenho uma!
— Compre outra. DSLR nunca é demais.

Diálogo 8
— Quero comprar uma câmera para fazer fotos bem simples, como flores, pôr-do-sol, essas coisas.
— Compre uma DSLR. É ótima pra eventos.
— Mas eu não vou fotografar “eventos”. Vou fotografar flores e pores-do-sol.
— Compre uma DSLR. É ótima pra esportes também.

Diálogo 9
— Alguém pode me indicar um bom celular?
— Uma DSLR. Câmeras de celular são muito ruins.
— Mas eu quero um celular pra fazer ligações, não pra fotografar.
— Compre uma DSLR. Com uma câmera dessas, você não vai precisar mais falar com ninguém.

Diálogo 10
— Estou pensando em comprar uma DSLR, mas não sei se quero gastar tanto.
— Compre uma DSLR. E não é gasto, é investimento. Nós investimos em câmeras e lentes.
— Mas eu não trabalho com a câmera. Não ganho nada com ela. Os equipamentos só se desvalorizam. Como posso chamar isso de investimento?
— Fica mais fácil explicar assim pra esposa. E pro gerente do banco também, na hora de pedir o empréstimo. Compre uma DSLR.

Diálogo 11
— Ok, ok, aceitei o seu conselho e finalmente comprei uma DSLR. E agora?
— Agora você precisa investir em lentes, grip, bateria, flash, cartões de memória, tripé, filtros…
— Não, não quero comprar mais nada! Quero saber e agora, e a fotografia?
— Fotografia? Ah, não é comigo… Não sei nada sobre isso.