Vamos considerar uma pessoa que usa a fotografia no seu cotidiano, sem dedicar a ela importância especial. Para ela, a fotografia é uma forma de registrar um determinado momento ou acontecimento de sua vida. Ela fotografa pessoas de quem gosta, eventos importantes, lugares em que esteve. O sentido da fotografia é dizer: “vivi este momento”, “estive aqui”, “estive com esta pessoa” ou “possuo esta coisa”. Pode-se dizer que um dos aspectos dessa fotografia descompromissada com a fotografia em si, que é a que a maior parte das pessoas pratica, é totalmente voltada para o conteúdo. A única preocupação que a pessoa que fotografa tem em relação ao equipamento ou à maneira como as fotografias são processadas é se elas representam de forma adequada o conteúdo que elas desejam mostrar.
Agora, tomemos como exemplo uma pessoa que gosta de fotografia, que a estuda, que tem a fotografia como profissão ou como atividade amadora séria. A tendência é que as pessoas que têm esse perfil passem a enfatizar mais a forma ao conteúdo. As preocupações se voltam para aspectos como composição, iluminação, nitidez, cores, desfoque. A partir dessas preocupações, surge o interesse por equipamentos novos, como câmeras, lentes, filmes, programas de edição de imagem, a fim de ter mais domínio sobre a forma.
Entretanto, não é incomum que a ênfase na forma se torne o único foco da fotografia, levando a uma busca pela aparência perfeita de uma imagem sem conteúdo. Isso acontece, em parte, porque o caminho para a forma perfeita é mais visível e conhecido; ele se dá pelo estudo e aquisição de técnicas e equipamentos. Por outro lado, desenvolver o conteúdo não é tão simples. É mais fácil saber “como fotografar” do que “o que fotografar”.
A forma não se relaciona com o conteúdo em termos de ou, mas sim de e. Se você reparar bem, perceberá que bons fotógrafos são aqueles que conseguem trabalhar bem esses dois campos em suas fotografias. E, mais do que uma forma de fotografar previamente concebida como boa, a forma da boa fotografia é aquela que dialoga com o conteúdo. Portanto, vale a pena refletir sobre como anda, na nossa fotografia, o equilíbrio entre essas duas áreas. Às vezes, quando se depara com uma estagnação na nossa produção fotográfica, uma saída pode ser buscar maneiras de desenvolver a que tem recebido menos atenção.
Vale ressaltar, também, que esses conceitos são puramente didáticos. Na verdade, forma é conteúdo e conteúdo é forma. Cada fotografia é uma coisa só. O que mostramos e como mostramos são apenas perguntas que fazemos para direcionar o nosso olhar, mas o fazer fotográfico é um só.
A busca do significado na fotografia — na forma, no conteúdo, no fazer e no olhar — é tema da oficina O Nome das Coisas, que será realizada em agosto de 2014 no Espaço f/508, em Brasília.
Foto do cabeçalho: Paul Aningat
Ola, o blog é muito bom, mas senti falta da meios de acompanhar vcs, como fanpage, twitter e etc..
Olá, Jaques, obrigado. No rodapé da página tem uma opção de receber os updates por e-mail.
Parabéns pela página. Realmente é encantador o modo que trata da fotografia, e tenho o mesmo olhar nesse sentido, estou acompanhando todas as publicações. Tais peculiaridades tem a mesma essência que a minha. Continue com este trabalho maravilhoso e riquíssimo. Abraço!
Muito obrigado pela visita e pelo comentário, Gabriel. Grande abraço.