A fotografia é uma atividade que envolve uma série de processos mentais. Pensamos no que fotografar, em que ângulo, com que luz, qual lente, que abertura, velocidade etc. Com isso, ao fotografar, temos em nossas mentes uma série de filtros, regras, expectativas e concepções. Tudo isso ocorre porque fotografamos querendo um certo resultado. A partir dessa expectativa, elaboramos todo um quadro mental de como obter esse resultado. Geralmente, acreditamos que temos que buscar algo fora do comum, que seja impressionante, impactante, chocante.
Embora seja necessária quando se fotografa profissionalmente, quando a fotografia é apenas um hobby toda essa atividade mental pode nos fazer facilmente perder o contato com o momento. Nos voltamos demais para dentro das nossas mentes, o que nos impede de viver de fato. Há uma proposta, entretando, que vai justamente na contramão desse estado de espírito ao fotografar: a fotografia contemplativa.
Percebi que eu estava sempre pensando sobre o que era bonito ou impactante e então tentava captar numa fotografia aquela imagem bonita ou impactante. Eu olhava para tudo através de filtros, tantos filtros mentais que eu não conseguia perceber nada de forma direta, clara ou imediata. Esses filtros eram feitos de tudo que eu sabia e moldados por julgamentos, opiniões, medos e velhas memórias. (…) A fotografia Miksang é como meditação — observar seus pensamentos e deixá-los ser como são, sem criar histórias ou manipulá-los.
Dan Morris
Quando pegamos uma câmera, uma série de concepções sobre a fotografia surge no mesmo momento. Pensamos no que já fizemos que levou a bons resultados, em elogios e críticas que recebemos. Toda a nossa história fotográfica emerge quando nos propomos a fotografar. Isso é natural, pois funcionamos dessa forma com tudo o que fazemos. Mas e se pudéssemos fotografar conectados com o momento presente e não com toda essa bagagem passada de técnicas, sucessos, fracassos e cobranças?
O ponto da fotografia contemplativa é ajudar as pessoas a enxergarem, ajudar as pessoas a terem experiências diretas em vez de experiências pensadas ou inferenciais sobre o mundo.
Andy Karr
Na fotografia contemplativa, há uma diminuição da importância dos aspectos técnicos e da beleza daquilo que é fotografado; em vez disso, percebe-se a beleza daquilo que é banal e ordinário, como um detalhe, uma luz, uma textura. Mas, mais importante que a fotografia, é o que a precede: um momento de contato total com o presente, sem julgamentos ou filtros, uma experiência direta das percepções. A fotografia contemplativa é o retrato desse momento — mesmo que apertar o botão da câmera rompa, inevitavelmente, essa experiência meditativa.
A busca pela meditação em conjunto com a fotografia nos afasta do fascínio com o extraordinário e nos leva a uma redescoberta do ordinário. Assim como eu cheguei a esperar atingir uma transcendência mística através da meditação, eu assumi que lugares exóticos e objetos incomuns eram os assuntos ideais para a fotografia. Em vez disso, eu descobri que a consciência meditativa é uma compreensão mais ampla dos eventos concretos da existência diária. Da mesma forma, a prática da fotografia me ensinou a prestar mais atenção àquilo que eu vejo à minha volta diariamente. Algumas das fotos que me deixaram mais satisfeito foram de coisas das redondezas de onde vivo e trabalho.
Stephen Batchelor
Num mundo em que temos avalanches de imagens ultraestimulantes e em que corremos o risco de precisar sempre de algo mais chocante para romper nossa insensibilidade, parece uma saída interessante nos voltarmos para o real e o trivial. Além disso, deixamos de nos pressionar por valores externos e podemos descobrir a beleza da nossa própria vida, por mais comum que ela possa parecer.
Para saber mais (em inglês):
http://miksang.com/
http://www.rebelbuddha.com/2011/10/contemplative-photography/
http://www.stephenbatchelor.org/index.php/en/photography-and-meditation
Gostei muito da camera obscura e de seu artigos e fotos. Os trabalhos são de alta qualidade.
Parabéns..
Valeu!
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