Há cerca de dois meses, estava em voga a discussão dos limites da fotografia. O que pode ser considerado ou não uma fotografia, o que se encaixa dentro do limite esperado para essa prática e até o que é ético ou não fazer ao processar uma imagem capturada pela câmera. Fiquei surpreso, na época, com a defesa firme, por parte de muitas pessoas, da fotografia “realista”, ou seja, da idéia de que são representações fiéis da realidade e de que essa característica deve ser respeitada no processo de criação de imagens fotográficas.
Decidi, então, abrir duas enquetes no BrFoto perguntando aos frequentadores quais imagens poderiam ser consideradas fotografias. A primeira enquete, que pode ser vista aqui, teve o foco no processo: uma mesma imagem em diferentes estágios e com diversas possibilidades de processamento. Coloquei como opções desde o negativo até a imagem final impressa, passando por conversões para PB, viragens, alterações pontuais e efeitos mais chamativos. O participante podia votar em quantas opções quisesse.
O resultado está apresentado nesse outro tópico. Como é possível perceber, a grande maioria das pessoas classificou todas as imagens como sendo fotografias. Algumas tiveram uma aceitação um pouco menor, mas que ainda assim não ficaram em nenhum momento abaixo de dois terços da amostra: a que tinha uma alteração pontual de cor, a viragem e outra com efeito de borrão. Em relação à viragem a verde, é curioso perceber que ela é menos aceita do que uma conversão em PB ou sépia, denotando que a classificação como fotografia não depende apenas de questões técnicas, mas também daquilo que é mais comumente visto como fotografia. Mais curioso ainda é que a foto impressa tenha tido a menor das aceitações, embora eu acredite que isso se deva ao fato de muitas pessoas terem achado que era um efeito computadorizado e não de fato a foto da foto.
A segunda enquete, com o tema conceito, pode ser vista aqui. Dessa vez, utilizei vários tipos de produção que usam a fotografia como insumo ou de forma “não-convencional”. Há montagens, duplas-exposições, light paintings etc. O resultado sobre o que era ou não fotografia para os participantes foi apresentado aqui. O item mais aceito foi a dupla exposição, mostrando novamente que a validade histórica pode ter um peso grande na forma de classificar as imagens. Curiosamente, a imagem 2, que é uma fotografia “normal”, do topo de um prédio com o céu ao fundo, teve baixa aceitação. Fica a dúvida se isso se deve à não identificação da imagem como tendo sido feita com uma câmera ou pelo caráter abstrato da fotografia colocá-la em outro tipo de categoria. É evidente, pelo resultado da enquete, que não basta que uma obra use a fotografia como insumo para ser considerada fotografia.
Essas enquetes, obviamente, não têm nenhum valor científico. Respondidas por cerca de 30 pessoas cada, foram apenas uma forma de prolongar a discussão que vinha tomando corpo. É interessante perceber que as diversas possibilidades dentro do processo fotográfico convencional, mesmo que alterem caraacterísticas da imagem “real”, são bem aceitas. A veracidade da fotografia parece não ser um tabu. Por outro lado, o uso da fotografia na produção de obras de arte com outros elementos, intervenções e composições já extrapola os limites e cai, pela visão dos participantes, em outras categorias.