Passagens é uma série de fotografias feitas com foco no livro Sentido Vago. Ela tem como objetivo abordar o movimento dos pedestres durante o dia no centro de São Paulo. Embora esteja relacionada de certa forma a questões contemporâneas e tenha tido sua base nas brincadeiras de fotografia cubista e no movimento da câmera, uma das principais influências que utilizei não tem nada de nova: as fotografias da São Paulo do início do século.
Se tomarmos algumas imagens de São Paulo do início do século passado, como as abaixo do livro São Paulo de Piratininga, de autoria de José Alfredo Vidigal Pontes e editado pelo Grupo Estado, percebemos que em muitas delas há o registro do movimento dos passantes como borrões. Não sei se pela baixa sensibilidade dos filmes da época ou se pela necessidade de fechar bem o diafragama para ter profundidade de campo em câmeras de grande formato, o fato é que era comum o uso de baixas velocidades, mesmo com a luz do dia. Isso fazia com que sempre aparecessem pessoas borradas pelo movimento nas fotos. Veja alguns exemplos:
Ao fotografar no centro de SP, às vezes estamos nos mesmos lugares em que as fotos do livro foram feitas, 80, 90 ou 100 anos atrás. Nas fotos que fiz exagerei o efeito e usei como recurso estilístico algo que antes era uma limitação técnica. Na série Passagens, o preto-e-branco ligeiramente amarelado e o grão remetem a essas fotografias antigas. As imagens que estão no ensaio que foram para o Sentido Vago estão abaixo.
Essa última ficou excelente.
[…] foto preterida foi uma da série Passagens, que fiz sob o Viaduto Boa Vista, num sábado pela manhã. É uma imagem meio borrada de uma mãe […]