Fotografia e operação da câmera

Quando olhamos para o programa de um curso básico de fotografia, percebemos que os conteúdos mais explorados são relativos à manipulação da câmera, como abertura do diafragma, velocidade do obturador, ISO e conceitos resultantes dessa operação, como profundidade de campo. Alguns adicionam outros conteúdos operacionais, como o uso do flash ou luzes de estúdio.

Pode-se dizer que a pessoa que passa pelo curso aprendeu a fotografar. Mas o que, de fato, ela aprendeu? A manipular a câmera, que quase se resume a acertar a exposição, o foco e a profundidade de campo, além de alguns efeitos como borrões e congelamentos. Fica claro aí que a pessoa está apta a produzir fotografias tecnicamente corretas, mas será que isso dá conta do que é, de fato, saber fazer fotografias?

É possível que, para muitas aplicações, esse conhecimento seja suficiente. Muitos ramos da fotografia profissional se sustentam sobre conceitos simples, especialmente quando não há por parte do fotógrafo grandes preocupações em ser inovador ou acrescentar à sua fotografia pontos de vista particulares.

Pode-se compreender, portanto, porque a operação da câmera assume um papel predominante na área do conhecimento fotográfico. No entanto, algumas vezes a importância dessas habilidades são excessivamente estimadas, em detrimento de outros aspectos que podem ser tão ou mais importantes.

Essa supervalorização é percebida quando se fala que um bom fotógrafo é aquele que consegue obter a foto direto da câmera, que não precisa manipular as imagens ou que só fotografa no modo manual. Em outras palavras, o bom fotógrafo seria aquele que conseguiria fazer boas fotos com uma câmera manual de 1950, sem fotômetro, usando cromo.

Esse tipo de discussão não é apenas um contra-senso numa época de inúmeros avanços tecnológicos. É inadequada porque discutir qual é a melhor forma de operar a câmera resulta num afastamento dos elementos que fazem uma boa fotografia e tem pouco ou nada a ver com o uso do equipamento. Alguns exemplos:

1. Composição
Saber distribuir os elementos numa cena, “ver” as coisas como a câmera vê é uma habilidade essencial. E isso tem muito mais a ver com saber se posicionar, estudar a perspectiva do que com a máquina em si.

2. Aproveitamento da luz
Outro aspecto fundamental para a boa fotografia é entender a luz. O tipo de luz, a sua temperatura, o direcionamento são alguns dos aspectos incluídos nessa compreensão. Mais uma vez, isso não se consegue através da câmera, e sim pelo olhar.

3. Abordagem
Especialmente quando se fotografa pessoas, a forma como ocorre a abordagem é fundamental. Pede-se que posem para um retrato? Fotografa-se às escondidas? Fica-se próximo, longe, participa-se da cena?

Esses são apenas algumas variáveis; existem diversas outras, algumas listadas no artigo Maneiras não ortodoxas de melhorar suas fotos. Todas elas envolvem pontos que podem ser trabalhadas pelos fotógrafos e que têm a ver mais com sua formação cultural do que com a operação de equipamento. Penso que tê-las em mente significa não apenas tirar um pouco o foco do aspecto técnico, mas, sobretudo, dar valor à fotografia como o que ela é, uma atividade de expressão humana.

2 comentários em “Fotografia e operação da câmera”

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