Um amigo comentou há algumas semanas que a boa câmera é aquela com a qual desenvolvemos uma atuação cúmplice: é fácil de obter o que queremos e ela não atrapalha a execução de uma idéia. Mesmo quando se tem diversos aparelhos, eventualmente temos preferência por um, justamente por ser o mais adequado ao que fazemos. Embora eu tenha duas câmeras digitais, a máquina fotográfica com a qual consigo minhas melhores fotos é uma velha de guerra: a Nikon F2.
A câmera foi lançada em 1971, em substituição ao modelo clássico da marca, a Nikon F, que estava no mercado desde 1959. Pelo número de série da minha, parece ser um dos primeiros modelos, do início dos anos 70. É extremamente pesada para os padrões atuais: só o corpo tem mais de um quilograma. Com uma lente acoplada, pode passar de um quilo e meio, mesmo sem uma teleobjetiva grande. Embora isso possa parecer um grande problema, o seu peso favorece muito a estabilidade. A câmera fica muito firme nas mãos.
A F2 fez muito sucesso entre amadores e profissionais na época pelo fato de manter a compatibilidade com lentes Nikkor de modelos anteriores, pela precisão e pela imensa variedade de acessórios. De fato, é possível desmontar facilmente a câmera, tirando o visor e a tela de focalização, que podem ser trocados por outros modelos com funcionalidades diferentes. Existe até um visor tipo “capuchão” para fotografar a la médio formato, olhando por cima da câmera. Além disso, há outros acessórios como motor-drives, que avançam o filme automaticamente.
Mas é o trabalho de engenharia que atraiu admiradores do mundo todo, resultando numa câmera robusta, confiável e durável. A minha tem mais de 35 anos, nunca passou pela mão de um técnico e ainda funciona perfeitamente. Cada F2 tem mais de mil componentes. O visor tipo DP-1, que acompanha a câmera que uso, é responsável pela fotometria, única função que depende de bateria. A visualização engloba 100% do quadro, o que significa que o que você vê é exatamente o que vai sair no filme. Além disso, há no visor a informação da velocidade e da abertura, que permite fazer os ajustes enquanto se mantém o enquadramento. A alavanca de avanço do filme é acionada com um ou mais movimentos curtos. Em resumo, a F2 é um ícone da engenharia mecânica das máquinas fotográficas.
No entanto, toda essa prolixidade técnica não justifica o gosto pela câmera. Afinal de contas, gostamos de uma câmera não pelo número de peças que ela tem, mas porque fazemos boas fotos com ela. E, no fim das contas, podemos contar nos dedos os recursos que realmente são necessários para a nossa fotografia. No meu caso, os motivos pelos quais uso a F2 são: o visor 100%, o fato dela permitir realizar múltiplas exposições com facilidade e a compatibilidade com as duas lentes Nikkor antigas que tenho. Uma delas é uma 55mm f/1.2 e a outra é uma 24mm f/2.8. São lentes excepcionais, embora usar lentes fixas e com foco manual possa parece totalmente anacrônico atualmente. O fato é que com essas duas objetivas é possível fazer muita coisa, de forma que é praticamente impossível esgotar as suas possibilidades.
A grande maioria das câmeras digitais reflex (exceto as profissionais de primeira linha) destruiu um dos maiores trunfos técnicos que havia na fotografia até pouco tempo atrás: as lentes normais, de 50mm (ou com pequenas variações pra mais ou pra menos). Com essa distância focal, é possível fazer de tudo. Ou seja, temos um objetiva extremamente versátil, extremamente clara, extremamente barata e de extrema qualidade ótica. Só que isso só é possível no filme, já que uma 50mm “vira” uma 75mm numa reflex digital, o que acaba com sua versatilidade. Portanto, usar uma normal com câmera de filme, pra mim, é uma das poucas necessidades técnicas que tenho.
Uma outra necessidade técnica é um fotômetro que me dê ao menos uma referência, e a F2 faz isso tranqüilamente quando acoplada ao visor DP-1. Não me lembro de nenhuma vez que alguma foto tenha saído com problemas na exposição. Obviamente, isso também é facilitado pela tolerância dos filmes negativos. No entanto, mesmo com cromo, que aceitam menos os erros, obtive bons resultados.
Um outro aspecto aparentemente menor mas que pode fazer a diferença é que a F2 é claramente uma câmera obsoleta e antiga, de forma que chama pouca atenção na rua. Dá pra fotografar sem a preocupação que temos quando se está com um equipamento digital de dois ou três mil reais. Fiquei surpreso de ver alguns anúncios no mercado livre em que o preço médio da câmera é de R$ 1000. Acho esse valor um pouco exagerado. Nas lojas do centro de SP é possível encontrá-las por R$ 600 ou R$ 700. Ainda assim, é um valor alto por ser uma câmera “clássica”. Há ótimas máquinas mecânicas por cerca de R$ 300, com lente.
Todo esse texto é um tentativa de explicar porque quando saio com uma idéia, escolho a F2 na maior parte das vezes. Estamos numa época em que precisamos nos justificar constantemente. No entanto, o fato é que me sinto bem usando a F2 e me sinto bem quando vejo os resultados que consigo com ela. É difícil acreditar que esse simples motivo não seja o único que realmente importa aqui. Como foi disso no começo, uma boa câmera é aquela com a qual nos damos bem. O fato é que, talvez pelas razões descritas ou talvez por outras que eu nem perceba, me dou bem com a F2, e é apenas isso o necessário para que eu diga que a considero uma boa máquina fotográfica.
[…] tenha um ?ngulo de vis?o menor no digital, cobrindo o equivalente a uma lente de 75mm. Com a minha Nikon F2 de mais de 30 anos uso duas lentes, uma de 24mm e outra de 55mm. Essas lentes numa digital seriam […]
Acabo de adquirir um nikon F2 As, creio ser o último modelo da série F2. Minha dúvida persiste; qual as vantagens deste modelo sobre os anteriores?
Uma informação adicional, a lente é Nikkor 50 mm e 1:1.2.
E começei com um filme preto e branco, 26 poses. Aguardo suas informações.
Atenciosamente,
Marcus Antonio.
A paixão por um equipamento é algo inexplicavel . Tenho uma F uma F 2 e uma F3 e sou apaixonado pelas tres cada qual com sua finalidade . O digitalismo do qual NÃO SOU adepto veio para ficar e para tentar acabar com as cameras mecânicas , verdadeiras maravilhas de engenharia e de precisão . Minha F jamais foi ao mecanico e muito menos a F2 ou a F3 . Elas foram feitas para serem eternas . Nada supera o prazer de fotografar com elas e apesar de meus 40 anos de fotografia , não tenho uma unica foto tirada com uma digital a qualeu possa dizer … é saiu o que eu queria … as Nikons da linha F foram feitas não apenas para os amantes da fotografia mas para aqueles que alem das fotos se deliciam com a arte , a tecnica e a finess de uma Nikon F .
Boa noite, comprei hoje minha F2 … comprei em Buenos Aires, fiquei namorando ela por 2 semanas … enfim … hoje decidi .. paguei o equivalente a R$ 350,00 … tá linda!!!!
Tenho uma F2 1978, mesma idade que eu, a ganhei de presente de um tio, quando tinha 20 anos, minha companheira e amiga de várias viagens, tenho algumas lentes, mas é a 50mm/f1.4 a minha escolha, essa lente nos leva ao nosso objetivo, enquanto as outras nos deixam preguiçosos,com ela faço as melhores fotos. O peso da câmera não me incomoda, o fotômetro é fantástico e o controle que ela nos permite é total. Hoje tenho uma D7000, apesar de toda a tecnologia, acredito que a F2 é melhor. Nikon F2 + Filme CROMO = Foto Perfeita. BOM POST!
Olá pessoal. Comprei hoje minha F2 em São Paulo. Consigo de alguma forma saber o ano de fabricação dela? Abs