No texto anterior, há algumas considerações sobre o uso das teleobjetivas e seus impactos na linguagem fotográfica. Pretendo aqui fornecer um exemplo simples que permite compreender porque isto ocorre.
Fiz um teste simples. Fotografei três vezes uma rosa, usando três distâncias focais (ou níveis de zoom) diferentes com uma câmera digital compacta. Contudo, nas três fotos, mantive o tamanho da rosa no quadro constante. Para isso, me aproximei ou me afastei conforme variava a distância focal.
Nesta primeira foto, usei uma distância focal de aproximadamente 36mm, considerando o valor equivalente numa câmera de filme 35mm. Essa distância focal se encaixaria a lente na categoria das grande angulares, embora com o ângulo de visão ainda não tão amplo.
Pode-se perceber como a rosa está bem contextualizada, ou seja, o fundo está relativamente nítido e tem parte importante na foto.
Já na segunda foto, foi utilizada uma distância focal equivalente a 112mm. Dei alguns passos para trás para manter a rosa ocupando a mesma porção do quadro.
O que se percebe é que já se vê muito menos do fundo, que também já está menos nítido.
Na última foto, usei uma distância focal equivalente a 280mm, ou seja, uma tele longa. Tive que me afastar ainda mais para manter a proporção da rosa.
Verifica-se que o fundo presente na primeira foto foi praticamente todo elimiando pelo corte. Além disso, o desfoque é maior.
Concluímos que a distância focal que usamos não se refere apenas ao quando queremos nos aproximar ou nos afastar do objeto fotografado. Na verdade, ela interfere diretamente no resultado da foto, permitindo uma contextualização entre figura e fundo ou um corte que praticamente elimina o fundo, valorizando o ojeto.
A forma como os planos serão representados também são afetados. Na primeira foto, os tijolos aparecem muito menores do que a flor, e a distância entre eles é visível (talvez até um pouco acentuada pela grande angular). Já na última, os tijolos são muito maiores, e já não é possível perceber a distância entre os planos; é o efeito de “achatamento” das teles.
Portanto, quando se pensa na ligação entre os aspectos técnicos da fotografia e a linguagem decorrente, verifica-se que a distância focal é um dos pontos centrais. Ao interferir na representação dos planos, no corte do fundo e na profundidade de campo, a distância focal determina como o conteúdo da foto será percebido. Além disso, a questão da distância focal acentua a percepção de como a fotografia é um meio maleável, sofrendo manipulações na própria captura que podem alterar a impressão que temos da realidade que cada foto representa.