Série de fotos com foco na fluência e estética dos movimentos da arte marcial. Feitas em filme pancromático 35mm Kodak Tri-X ISO 400, câmera rangefinder Canon Canonet QL17 GIII, distância focal de 40mm, com aberturas entre f/1.7 e f/2.8 e velocidade do obturador de 1/4 de segundo.
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Só para loucos
Recentemente, comentei aqui sobre uma fotografia aberta ao acaso, voltada mais a provocar impressões do que ser simplesmente representativa, e das dificuldades em se estabelecer os limites conceituais e práticos. Nas últimas semanas, continuei procurando fazer esse tipo de fotografia, experimentando especialmente as baixas velocidades do obturador e as múltiplas exposições.
Nos dois casos, há margem para o imprevisto. Ao usar baixas velocidades, não se sabe exatamente que efeito o movimento causará. Além dos borrões óbvios, os pontos em que o movimento é mais lento ou cessa ficam marcados no fotograma, multiplicando a presença do objeto.
Na primeira linha de fotos (coloridas), utilizei uma câmera reflex digital, ISO 200, modo de prioridade de velocidade, ajustado em cerca de meio segundo. A abertura variou de acordo com o programa da câmera, mas sitou-se em torno de f/11 e f/16, o que levou a um foco longo (que não se vê pelo movimento) e até ao destaque para as sujeiras no sensor.
Já no restante (preto e branco), fotografei com uma câmera reflex analógica, com filme ISO 100 e lente de 55mm. Configurei o fotômetro para ISO 200 no caso de duplas exposições, ou ISO 400 no caso de exposições múltiplas. Uma das fotos é a sobreposição de várias inscrições na lateral de um edifício. Em uma delas lê-se “só para loucos”, que me remeteu ao livro de Herman Hesse, O Lobo da Estepe, em que o personagem principal adentra o Teatro Mágico, que é descrito por essa expressão (e daí o título deste artigo).
As duas séries são bastante diferentes entre si e se afastam da fotografia convencional. São melhor definidas por imagens produzidas por câmeras fotográficas, utilizando recursos já programados nas máquinas, mas em contextos que levam a um resultado permeado de imprevisibilidade. Embora sejam técnicas pra lá de antigas, ainda há quem se surpreenda com os efeitos obtidos. É possível, a partir delas, manter a discussão dos limites da fotografia, ao se perguntar onde se situa tudo aquilo que a câmera fotográfica é capaz de fazer.
Técnica e linguagem: Movimento
Como já comentamos antes, a operação da câmera deve ser subordinada às ideias e intenções do fotógrafo, para que o processo criativo envolvido na fotografia seja mais completo. A manipulação da câmera de acordo com o conceito permitirá obter os resultados esperados e é o que pode fazer do ato fotográfico uma forma de expressão. Conhecer a técnica é útil para construir um discurso eloquente através da linguagem característica das câmeras.
Podemos abordar, como exemplo, uma questão simples. As câmeras fotográficas têm uma forma particular de lidar com o movimento. Projetadas para construir suas imagens a partir de frações ínfimas de tempo, a fotografia tem, geralmente, a característica de congelamento, necessário para produzir fotos nítidas e fáceis de entender. Quando não há condições para esse efeito de congelamento (e.g. falta de luz suficiente), o que está em movimento aparece na fotografia como um borrão. Continue lendo “Técnica e linguagem: Movimento”