Em uma época em que a originalidade deixou de ser sinônimo de qualidade e em que as imagens pasteurizadas e irreais são dominantes, parece difícil achar os caminhos para produzir algo significativo através da fotografia. Com a rede abarrotada de fotos, o novo e o espetacular são armadilhas que, na verdade, significam apenas mais do mesmo. Mais e mais vejo, em resposta a essa condição, fotógrafos voltando-se para os eventos rotineiros de seu dia-a-dia, de suas famílias, amigos e entes queridos, muitas vezes criando com sucesso uma fabulosa estética contemporânea.
Pode ser um simples viés em relação às fotos a que tenho acesso, mas tenho visto essa abordagem melhor trabalhada em fotógrafos de outros países do que entre os brasileiros — exceção feita ao Gustavo Gomes. Talvez seja por uma percepção diferente da rotina ou porque ainda estejamos mais presos em modelos publicitários e jornalísticos, que nos levam à tendência de travestir o cotidiano em espetáculo. A beleza do trivial não precisa de um traje de gala. Precisa, apenas, ser percebida.
Escolhi algumas fotos que traduzem esse movimento. E não acho que voltar-se para si mesmo leve a uma produção menos significativa. Até porque não há nada mais universal do que as particularidades de cada vida humana.