Como escolher uma câmera

Câmeras fotográficas estão se tornando um produto de nicho. Como hoje todo mundo fotografa com os celulares, que têm câmeras cada vez melhores, a fabricação e venda de equipamentos exclusivamente fotográficos está caindo. É possível que, em breve, apenas profissionais e apenas amadores muito entusiasmados continuem comprando câmeras.

Enquanto esse dia não chega, ainda existe a preocupação sobre como escolher uma câmera. A nossa forma de tentar, a partir do nosso pensamento cartesiano, é fazer uma lista de opções e comparar números. Megapixels, velocidade, abertura da lente, tamanho da tela, peso, número de botões e tudo o mais. Também incluímos os termos criados pelos departamentos de marketing para falar de especificações que prometem grande resultados.

O problema é que prestar atenção demais no equipamento atrapalha a boa fotografia. Para fotografar bem, é preciso construir uma relação íntima e significativa com aquilo que estamos fotografando. Desenvolver um “ver” que que esteja conectado ao assunto, seja ele qual for. E aí, se a câmera entra no meio, essa relação se perde. A câmera precisa desaparecer.

Foto: Holy [K]
Foto: Holy [K]
Se você concorda com isso, entenderá, então, que os critérios para escolher uma câmera não devem ser números, tampouco o raciocínio de conseguir a melhor câmera pelo dinheiro que você tem. O critério será ter uma câmera que possa sumir enquanto você está fotografando. A partir disso, podemos pensar em três pontos práticos:

Escolha uma câmera que você não terá medo de usar

Se você tiver um equipamento muito caro e sofisticado, provavelmente se preocupará com quedas, quebras, assaltos. Isso pode deixar você tenso na hora de fotografar. Tenha um equipamento com o qual você não precise se preocupar, que não causará muito prejuízo ou falta caso você o perca ou ele se quebre. Assim você poderá fotografar onde quiser e poderá realmente usar sua câmera. Sua fotografia ficará mais livre.

Escolha uma câmera que você possa operar sem ter que pensar

A operação da câmera deve ser automática. Sempre existe um tempo de aprendizado, mas depois disso, se você precisar pensar no que vai fazer, ficar procurando opções em menus e uma miríade de botões, sua fotografia perderá espontaneidade e sua atenção não estará naquilo que importa.

Escolha uma câmera que não deixe você deslumbrado

É natural se animar com a câmera no início, mas se você fica deslumbrado com suas possibilidades, com sua qualidade, sua atenção também não estará no assunto. O equipamento é uma ferramenta, um meio, e não um fim. A menos que o seu propósito seja realmente apenas brincar com o equipamento.

Em suma, não escolha uma câmera da qual você se orgulhe, que chame sua atenção, que faça você querer ficar brincando com ela mesma. Escolha uma câmera que você possa esquecer.

 

Foto do topo: Toffee Maky

Minimalismo fotográfico

Há alguns anos, cheguei a ter sete câmeras fotográficas em casa. A maior parte era de máquinas analógicas: reflex, telemétricas e compactas. Uma delas era médio formato, as outras usavam filme 35mm. As digitais eram duas, sendo uma compacta avançada e uma reflex. Havia também uma boa quantidade de lentes e adaptadores, que me permitiam usar as lentes das câmeras analógicas na reflex digital.

Todo esse equipamento “pedia” uma série de acessórios, que também fui adquirindo ao longo dos anos. Tripé, dois flashes, um scanner para os negativos, mesa de luz, impressora, computador de mesa, HD externo, fotômetro, filmes, filtros, tanque para revelação, químicos. A maior parte desse material, novo e usado, foi comprada de várias fontes —desde lojas de rua até o eBay, passando por lojas em viagens para o exterior — num período de três a quatro anos, em que minha paixão pela fotografia teve seu pico.

A relação com a fotografia não parava nos equipamentos. Tive diversos livros, que comprei ou que ganhei de presente de pessoas que sabiam do meu interesse pelo assunto. Em um determinado momento, entre câmeras, lentes, acessórios e livros, toda a minha “coleção” de materiais fotográficos era relativamente grande.

Eram coisas que eu de fato usava. Nunca comprei nada que não fosse ser útil. Nos momentos de maior atividade, cheguei a fotografar com câmeras utilizando todo o equipamento, como o fotômetro externo, revelar filmes preto e branco em casa, escanear e tratar. Os livros que comprei e ganhei foram lidos, relidos e consultados. Sinto que aproveitei todo esse material.

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Com o tempo, no entanto, minha fotografia foi ficando mais simples. Não tinha o mesmo entusiasmo para carregar muita coisa, para fazer uma fotografia muito complicada, para revelar meus próprios filmes. Precebi que a maior parte das fotografias que eu fazia poderiam ser tiradas com qualquer câmera. Pouco a pouco, fui me desfazendo do equipamento. Doei os livros, o computador de mesa, algumas câmeras. Emprestei outras sem esperar que fossem devolvidas. Os flashes quebraram e não me preocupei em consertá-los ou substitui-los.

Em 2012 comprei minha última câmera: uma compacta avançada, usada, que cabia no bolso. Em diversas viagens e momentos significativos, levei apenas ela. Foi mais do que suficiente. Hoje tenho apenas essa câmera digital e mais uma de filme, com uma lente. Às vezes, quando vejo os equipamentos mais novos, fico um pouco tentado. Ao perceber isso, procuro valorizar aquilo que já tenho. Reconheço, aí, que essas duas câmeras que uso já são suficientes, se não forem excessivas. E, se restar algum impulso de comprar algo novo, é só lembrar do peso que é carregar uma câmera grande, preocupar-me de sair na rua com um equipamento caro, fora tudo aquilo que posso fazer com o dinheiro que seria gasto para comprar e manter um equipamento novo, que o resto de vontade logo desaparece. E fico em paz.

No ano passado, fui a Brasília para uma oficina de fotografia contemplativa no f/508. No dia da saída fotográfica, estava só com o celular. Foi mais do que suficiente para acompanhar a proposta do curso. Não sei se a fotografia que faço se tornou um reflexo do equipamento que levo ou o contrário. Talvez seja algo anterior: uma valorização do simples e do aqui e agora que precede ambos.

O impacto da fotografia no meio ambiente

“O futuro não é mais como era antigamente”, diz a música. De fato. Se nos anos 60, com os Jetsons e a corrida espacial o futuro parecia ser um lugar em que a humanidade atingiria seu ápice, conquistando o espaço, subjugando as dificuldades e obtendo grande conforto num ambiente limpo e minimalista, hoje as previsões são diferentes. As mudanças climáticas, a destruição de florestas e formas de vida projetam um futuro sombrio. Andando pelas ruas, vemos cada vez mais pessoas sozinhas trafegando com seus carros excessivamente grandes – e consequentemente devoradores de combustível – uma ilustração do individualismo estímulado pelo capitalismo e que poderá dificultar muito a vida das próximas gerações.

Será que paramos para nos preocupar o quanto os nossos hobbies são agressivos com o meio ambiente? O quanto a fotografia pode ter um impacto negativo para o planeta? Essa é uma pergunta que não pode ser varrida para debaixo do tapete, já que há poucas atividades tão universais quanto fotografar. Vamos olhar para isso com uma perspectiva ambiental.

Nesse aspecto, a fotografia analógica é um desastre. Os materiais usados para a fabriação e revelação dos filmes são altamente tóxicos. E você não precisa usar filme para ter problemas com o impacto da fotografia química. Se você manda suas fotos digitais para revelação num laboratório, estará utilizando os mesmos químicos cancerígenos na revelação do papel fotográfico. Uma atitude responsável do laboratório seria descartar essas substâncias utilizadas na revelação de uma forma adequada. Você já pensou em perguntar ao seu laboratório como eles fazem isso?

Philippe Leroyer
Philippe Leroyer

Se você revela filmes em casa, deveria saber que os químicos utilizados não devem ser descartados no esgoto, simplesmente. Entre outros problemas, eles contém uma grande quantidade de prata, o que contamina rios e cursos de água. Eu não sei como descartar esses materiais sem causar impacto na natureza. Entrar em contato com a secretaria de meio ambiente da sua cidade para saber como fazer isso é uma alternativa. Mas talvez o melhor seja simplesmente parar de revelar filmes em casa. Ou parar de fotografar com filme, simplesmente.

Agora, se você apenas fotografa com o sistema digital e não tem o costume de revelar fotos, também não está livre de causar um impacto negativo no planeta. Especialmente porque a fabriação das câmeras e eletrônicos em geral utiliza uma série de produtos químicos nocivos, como chumbo, além da grande quantidade de energia. O plástico e o metal dos eletrônicos não deve ser descartado no lixo comum e sim encaminhados para centros de reciclagem de eletrônicos. Outro problema das câmeras são as baterias, que contém materiais tóxicos como cádmio. É muito importante que as baterias de câmeras e celulares, assim como pilhas alcalinas, não sejam jogadas no lixo comum.

Embora a fotografia digital seja muito mais ecológica do que a fotografia analógica, isso depende muito dos nossos hábitos de consumo, pois o dano que ela provoca ao meio ambiente está na sua produção e descarte. A frequência e quantidade com que consumimos ou trocamos nossos eletrônicos determina o quanto contribuímos para esses ciclos. Os fabricantes tentam estimular ao máximo que troquemos nossos equipamentos, através de obsolescência programada ou percebida, dificultando consertos, deixando de oferecer peças para reposição. Cabe a nós ter crítica em relação ao consumo, não apenas pela preocupação com o ambiente, mas também com nós mesmos: não é nos bens materiais que vamos encontrar a felicidade que procuramos, por mais que as propagandas tentem nos convencer do contrário.

Comprar: a solução para todos os problemas

Costumo frequentar fóruns e listas de discussão sobre fotografia. É comum que as pessoas acessem esses espaços para tirar dúvidas sobre qual câmera comprar. Mas é surpreendente que mesmo aqueles que fazem outros tipos de pergunta possam ter como resposta uma lista de compras. Duas situações recentes: uma usuária pergunta: “o que posso fazer para tirar melhores fotos num ambiente com pouca luz?”. A resposta, simples: “compre outra câmera”. Outra pessoa quer entender porque a abertura de sua lente zoom não é sempre a mesma. De alguma forma, essa dúvida singela leva alguém a responder: “compre outra lente”. Como assim?

Comprar se tornou a solução para tudo. Trocamos de câmera sem sequer aprender a extrair todo o potencial que cada modelo descartado nos oferece. Há fotógrafos da agência Magnum que usam compactas, mas a maior parte dos amadores tem conjuntos com câmeras que vão muito além de suas necessidades. Você pode argumentar: “a pessoa pode fazer o que quiser com o dinheiro dela, isso não tem nada a ver comigo”. Será? O fato é que esse padrão de consumo desenfreado afeta a vida de muitas pessoas, inclusive a minha e a sua. O uso de recursos naturais para produzir o que consumimos vai muito além do que o planeta dá conta, além de levar a impactos sociais que talvez você nem imagine. O seu smartphone tem relação direta com o massacre de pessoas no Congo, por exemplo.

No Brasil, reclamamos muito dos custos de câmeras, lentes e outros aparelhos eletrônicos. Atacamos o governo pelos impostos que julgamos abusivos e tomamos o crescimento econômico como algo inquestionavelmente positivo. No entanto, as coisas já são baratas demais, pois os custos sociais e ambientais não são cobrados de quem compra, e sim das populações que sofrem com a extração de materiais e o desmatamento. Na verdade, as coisas deveriam custar muito mais. Desta forma, pensaríamos mais antes de consumir, usaríamos menos recursos e descartaríamos muito menos lixo. E o governo talvez devesse aumentar os impostos para frear o consumo, e não diminui-los. É claro que isso não acontecerá porque o nosso sistema não tem alternativa a não ser consumir sempre mais, até que devore a si mesmo.

Meliha Tunckanat

Mesmo com os preços dos nossos equipamentos e carros muito mais altos dos que, por exemplo, os dos americanos (que inveja deles!), não abandonamos a nossa sede de consumo. Felizmente podemos tomar dívidas e usar nossos cartões de crédito para comprar coisas de que não precisamos e que acabam com os recursos que serão necessários para a sobrevivência das próximas gerações. E, para pagar nossas dívidas, podemos sempre trabalhar mais. Abrir mão de férias, fins de semana, fazer hora extra. Para sustentar nossa fixação por coisas, vendemos a única coisa que de fato temos: o nosso tempo, que poderia ser gasto com nossas famílias e entes queridos, em atividades que não envolvam gastos.

Mas isso não é interessante para as corporações que, através da publicidade, convencem-nos de que vale a pena deixar de viver para ter. Com o esforço dos anúncios e do incentivo a um estilo de vida voraz parece absurda a ideia de optar por trabalhar menos, ganhar menos, crescer menos (enquanto país) e ter menos. Afinal de contas, ter se tornou quase uma medida universal na nossa sociedade. O seu sucesso é medido pelo quanto você tem. O seu amor é medido pelo valor do presente que você dá. Se no Natal você der um presente barato, ou pior, apenas um cartão ou um abraço para alguém com quem se relaciona, essa pessoa pode achar que você não gosta ou não se importa com ela. Mas dê algo caro e ela não terá dúvidas do seu sentimento.

De alguma forma, comprar se tornou uma grande resposta. A fotografia é um prato cheio para os consumistas – para alegria dos fabricantes de câmeras – pois há sempre novas necessidades a serem criadas e novos equipamentos a serem vendidos. Afinal de contas, tem sempre aquela foto perfeita que buscamos e nunca conseguimos. Mas espere! Com o novo modelo que faz 50 fotos por minuto, fotografa com luz negativa e detecta o sorriso de uma ave a um quilômetro de distância, você conseguirá obter a sua foto perfeita. Apesar do nosso entusiasmo inicial, lá no fundo percebemos que já ouvimos essa promessa antes, muitas vezes. E sabemos que ela não foi cumprida. Será que algum dia vamos acordar?

P.S.1: Antes que você pergunte, tenho a mesma Pentax K100D, de seis megapixels, desde 2007. E ainda assim, de tempos e tempos, me questiono se não foi uma compra desnecessária.

P.S.2: A ótima foto que ilustra esse post foi feita por Meliha Tunckanat com uma Olympus Trip 35 e filme Kodak Gold.

Razão e emoção na fotografia

Vivemos em uma cultura que valoriza a razão, o pensamento, a ordem, em detrimento da emoção, da intuição e tem dificuldades em lidar com a natureza caótica das coisas. Quando nos envolvemos com uma atividade, como a fotografia, tentamos organizá-la, mentalmente, utilizando os recursos racionais que empregamos diariamente para lidar com o mundo. Isso nos leva a priorizar a forma, os números, as regras e o método.

Consequentemente, nos vemos apegados aos aspectos técnicos das imagens, às especificações das câmeras, aos números, ou seja, a tudo que possa ser organizado e quantificado. Queremos saber quantos megapixels tem o sensor, quão nítida é uma lente, quantas fotos são feitas numa viagem ou num evento, quanto tempo dura uma bateria. Continue lendo “Razão e emoção na fotografia”

Câmeras e fogões

Na última sexta, eu e minha amiga Paula Porto andávamos pelo centro de São Paulo, na região da Rua Sete de Abril, famosa por reunir diversas lojas de material fotográfico. Estávamos indo até o laboratório do sr. Ogava, na Rua Barão de Itapetininga, para deixar alguns rolos de Tri-X para revelar. Paula tem um blog de culinária bastante conceituado, o …de Salto Alto na Cozinha. As fotos dos pratos que ela apresenta no site são feitas pelo seu marido, Ricardo. Passando pelas lojas cheias de câmeras e lentes nas vitrines, começamos a conversar sobre equipamentos, fotográficos e culinários.

Ela me contou que tinha alguns amigos que também gostavam de fotografia. Ela explicou que o padrão que eles apresentavam era de aquisição de uma grande quantidade de material: lentes, mochilas, acessórios. Fazendo uma analogia com a culinária, ela falou, em tom divertido, sobre pessoas que tinham fogões e equipamentos de cozinha caros e sofisticados, mas que apenas os utilizavam para receitas extremamente simples, para as quais não havia necessidade de tanto. Constatamos que existe, muitas vezes, um fetiche pela manipulação da ferramenta como mais importante do que a criação de fato. Ou seja, há pessoas que gostam de usar a câmera, mais do que de fazer fotos; ou de usar o fogão, mais do que de cozinhar.

Sergey Podatelev
Sergey Podatelev

Enquanto esperávamos o elevador no antigo prédio a poucos metros do Teatro Municipal, perguntei se as pessoas sobre quem ela falou eram felizes fazendo isso. Ela disse que sim, que eles se divertiam muito tanto com suas câmeras como na cozinha. Respondi, então, que achava que não havia mal nenhum nisso e que, na verdade, era isso que importava. No fundo, o que todos queremos é fazer aquilo que nos faz bem, e me parece fora de lugar criticar alguém porque seu prazer está na operação dos equipamentos e não na criação de fotografias — ou pratos.

Chegamos ao laboratório. A sala em que o Ogava nos recebe estava no seu habitual caos, repleta de pacotes amarelos de filmes revelados, fotografias ampliadas, algumas câmeras antigas jogadas em um canto e a antiga TV de tubo sobre um móvel. A janela estreita e longa no fundo da sala, condizente com o alto pé direito, permitia a entrada da luz opaca, típica de um dia chuvoso de outubro. Deixei dois rolos de filme para revelação e pedi que ele ampliasse, em 30×40 cm, o retrato de um casal de amigos que se juntará em breve e que eu havia feito alguns meses antes: será uma espécie de presente de casamento. Conversei com ele sobre como fazer o corte para acertar o quadro na proporção do papel e fomos embora.

We Make Noise !
We Make Noise !

Embora eu já tenha sido muito crítico em relação a questão da supervalorização do equipamento — e provavelmente alguns dos textos mais antigos do Câmara Obscura refletem isso — hoje não me sinto à vontade para criticar a forma como as pessoas escolhem usar o seu tempo. Há uma espécie de paradigma, entre fotógrafos amadores-avançados e profissionais, que diz que as pessoas não podem simplesmente usar uma câmera e fotografar os momentos relevantes da sua vida. De acordo com essa concepção, elas têm que estudar fotografia, têm que saber como usar a câmera, têm que fazer cursos, têm que ler livros, têm que saber compor, e por aí vai. Mas, pensando a fundo, não consigo imaginar nenhuma boa razão para todas essas obrigações. A impressão que dá é que todo mundo é obrigado a produzir obras-primas o tempo todo. Essa concepção não é apenas ditatorial — é também impossível.

Não deixo de pensar, no entanto, que para aqueles que de fato querem fazer fotos significativas — por opção, não imposição — que além de todo o estudo que realmente é necessário, é preciso utilizar o equipamento com racionalidade. Uma boa câmera compacta, ou uma reflex digital com a lente do kit (em geral 18-55mm), ou uma reflex analógica com uma lente de 50mm são mais do que suficientes para um fotógrafo inspirado, com boas ideias e disposição para procurar as melhores imagens. Até porque a “limitação” do equipamento ajuda no desenvolvimento de outras habilidades que são essenciais para a boa fotografia e não estão na operação da câmera (escolha do assunto, leitura da luz, ângulo, momento). Isto posto, posso até arriscar uma conclusão: se o seu prazer está na operação da câmera — e não há nada de errado nisso — você provavelmente está certo em ter o máximo de equipamento possível. No entanto, se a sua busca é por uma fotografia significativa no seu conteúdo, talvez seja uma boa ideia reduzir o equipamento ao mínimo possível.

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No post de hoje, abro uma exceção e, em vez de publicar um texto próprio, posto a tradução, feita por mim, de um post do blog mnmlist.com, de Leo Babauta. O artigo fala de consumo e da forma como lidamos com as marcas na nossa sociedade. Esse é um tema muito apropriado para alguns grupos de fotógrafos e suas comunidades, que tendem a valorizar mais o equipamento do que a criatividade. Que adoram entrar numa loja de câmeras, mas raramente vão a uma exposição de arte. Que adoram ostentar as marcas que defendem, mas cuja fotografia diz muito pouco.

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O minimalismo é uma contrapartida à tendência de transformar pessoas em puros consumidores, em commodities, em um mecanismo de mercado.

Perdemos a noção da simples verdade de que não precisamos de nenhum desses produtos que os marqueteiros e publicitários nos empurram. Continue lendo “Anúncios ambulantes”

A outra história da evolução das câmeras

A fotografia revolucionou a sociedade desde o momento em que foi inventada. Ao possibilitar o registro estático de cenas reais, permitiu a todos reter memórias de lugares, pessoas e eventos. A invenção da câmera tornou viável a realização dessa tarefa quase mágica que, antes disso, ficava apenas no imaginário. Vejamos como esse instrumento evoluiu, desde sua invenção até hoje, com destaque para os avanços tecnológicos envolvidos. Continue lendo “A outra história da evolução das câmeras”

Não se preocupe em melhorar sua fotografia

Praticamente todas as pessoas que começam a fotografar mais seriamente querem melhorar as suas fotografias. É muito comum nas listas de discussões ver tópicos como “quero tirar fotos melhores”, “qual o melhor equipamento?”,  “qual a melhor técnica para essa situação?”. Parece que é uma qualidade quase inerente do ser humano que uma atividade precise ser feita da melhor maneira possível. Dificilmente questionamos isso. Parece ilógico fazer algo sem querer fazer o melhor. Mas será que há lógica por trás dessa premissa?

É claro que quando se é um profissional, fazer o seu melhor é uma questão de sobrevivência. Mas quando se é amador, isso não é necessário. Pode-se fotografar como se bem entende. Vejo que o desejo de fazer o melhor do amador está ligado à visão da fotografia como forma de expressão. Poder melhorar, nesse caso, significa dar vazão à intenção fotográfica sem obstáculos técnicos. Isso é compreensível, mas isso não é necessariamente fazer fotografias melhores, e sim fazer fotografias que correspondam à intenção do fotógrafo. Se eu sugerir a abolição dessa preocupação em fazer fotos melhores, posso ser tachado de preguiçoso e de não incentivar a ânsia natural do ser humano pelo desenvolvimento. Então, em vez disso, podemos olhar para algumas possíveis armadilhas em que a vontade de melhorar as fotos pode nos fazer cair.


Michael Donovan

1. Comprar equipamentos excessivos ou desnecessários. A primeira coisa que você vai ouvir quando disser que quer melhorar suas fotos é que você precisa de uma câmera melhor. Não importa qual é a sua câmera, ela nunca será a ideal. E aí a tendência é trocar de equipamento na esperança de que o aprimoramento venha automaticamente junto com a nova máquina – ou a nova lente, o novo tripé. No entanto, a menos que você vá fazer um tipo muito específico de fotos, faz muito mais diferença saber usar o equipamento que você tem do que trocá-lo.

2. Virar um obcecado pela técnica. A segunda coisa que você vai ouvir é que para melhorar suas fotos você deve fazer um curso ou comprar um livro. Aumentar o seu nível de conhecimento parece – e é – uma sugestão lógica e benéfica. O grande problema é que 80% dos cursos e 90% dos livros vão focar em duas coisas básicas: transformar você em um aprendiz de engenheiro que sabe tudo sobre câmeras fotográficas e criar a impressão de que fotografar é simplesmente acertar a exposição. Você saberá tudo sobre máquinas, lentes, abertura, velocidade e ISO. Mas aprenderá pouco sobre a parte difícil da fotografia: a composição, os conceitos, como criar uma imagem significativa visual e textualmente.

3. Fazer uma fotografia padronizada. Quando se fala em fazer melhores fotografias, inevitavelmente se cai na questão do que é uma fotografia boa ou ruim. E aí, você corre o risco de cair numa série de padrões e clichês que são tidos como exemplos de boa fotografia para a maior parte das pessoas. Isso pode levar você a inibir sua criatividade, sua capacidade de experimentação e de expressar a sua visão através da fotografia – que era o motivo pelo qual você quis ser melhor, em primeiro lugar.


Marina Rocha

4. Tornar-se competitivo. A ânsia de querer ser melhor pode nos levar a atitudes mais competitivas, como buscar a validação através de concursos ou ser excessivamente crítico em relação aos outros. Num mundo em que há milhões de fotografias feitas a cada instante, ser competitivo é dar um tiro no pé. Ganhar um prêmio ou falar mal de uma foto não faz da nossa fotografia melhor. Ela continua sendo um testemunho pessoal, uma declaração de existência e de visão, um texto visual com a nossa caligrafia. Se formos olhar a fundo, talvez a tal boa fotografia simplesmente não exista. Há a fotografia, e pronto.

5. Depender demais da aprovação externa. Ok, você comprou uma câmera nova, fez um curso, aprendeu a fazer todo o tipo de clichê. Mas e aí, como saber se está indo bem ou não, se está na direção certa? Você precisará de alguma referência, que geralmente significa apreciação e aplauso dos outros. Sem perceber, você pode acabar fazendo fotografias em função dessa aprovação, e não daquilo que importa pra você. E aprovação é como uma droga: você sempre quer mais, ela nunca parece suficiente, o que pode levá-lo a uma descaracterização total da sua fotografia. Talvez seja necessário, para se preservar disso, aceitar que nem sempre será possível ter uma referência segura indicando o caminho certo. A incerteza faz parte do caminho solitário do fotógrafo – assim como o de qualquer artista.

Considerando esses aspectos, talvez seja útil, em vez de pensar em melhorar a sua fotografia, pensar no que você quer que ela seja. O que você quer dizer, mostrar, registrar, o que for. Ao entender melhor o significado da fotografia para você, haverá menos riscos de cair nessas armadilhas criadas pelo desejo genérico do melhor.

Fotografias que as digitais (baratas) não fazem

Uma pessoa pergunta num fórum de fotografia: “quando teremos uma câmera digital compacta com sensor full-frame”? Pois é. Câmeras compactas são as digitais mais comuns, pequenas, leves, não trocam lentes e são voltadas ao fotógrafo amador casual. Fotógrafos amadores avançados geralmente usam câmeras reflex, maiores, mais caras e pesadas e que trocam suas objetivas. Uma das maiores diferenças entre as compactas e as reflex é o tamanho do sensor, sendo que as últimas os têm maiores.

Quais as principais implicações de um sensor mais amplo? Primeiro, a qualidade de imagem tende a ser melhor, especialmente em fotos com pouca luminosidade, pois há uma concentração menor dos pixels que captam a luz para formar a fotografia. E o outro, que está mais relacionado à linguagem fotográfica, é que a profundidade de campo tende a ser menor, ou seja, é mais mais fácil desfocar o fundo de uma foto, por exemplo.

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