Série Passagens

Passagens é uma série de fotografias feitas com foco no livro Sentido Vago. Ela tem como objetivo abordar o movimento dos pedestres durante o dia no centro de São Paulo. Embora esteja relacionada de certa forma a questões contemporâneas e tenha tido sua base nas brincadeiras de fotografia cubista e no movimento da câmera, uma das principais influências que utilizei não tem nada de nova: as fotografias da São Paulo do início do século.

Se tomarmos algumas imagens de São Paulo do início do século passado, como as abaixo do livro São Paulo de Piratininga, de autoria de José Alfredo Vidigal Pontes e editado pelo Grupo Estado, percebemos que em muitas delas há o registro do movimento dos passantes como borrões. Não sei se pela baixa sensibilidade dos filmes da época ou se pela necessidade de fechar bem o diafragama para ter profundidade de campo em câmeras de grande formato, o fato é que era comum o uso de baixas velocidades, mesmo com a luz do dia. Isso fazia com que sempre aparecessem pessoas borradas pelo movimento nas fotos. Veja alguns exemplos:

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Ao fotografar no centro de SP, às vezes estamos nos mesmos lugares em que as fotos do livro foram feitas, 80, 90 ou 100 anos atrás. Nas fotos que fiz exagerei o efeito e usei como recurso estilístico algo que antes era uma limitação técnica. Na série Passagens, o preto-e-branco ligeiramente amarelado e o grão remetem a essas fotografias antigas. As imagens que estão no ensaio que foram para o Sentido Vago estão abaixo.

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Ode ao Urbano

Uma notícia já antiga que deu na rádio ONU:

Em 2007, pela primeira vez, a população urbana ultrapassou a rural em níveis mundiais, de acordo com Anna Tibaijuka, diretora executiva Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, UN-Habitat. Tibaijuka encontra-se em Nairobi, no Quênia, participando de reunião do Conselho Administrativo do UN-Habitat.
No encontro, também foi divulgado um estudo indicando que, em 2030, dois terços da população mundial viverão em centros urbanos.

No Brasil, a população urbana superou a rural em 1970. Na América Latina, os centros urbanos já são bem mais populosos do que os campos. O que as estatísticas não são capazes de mostrar, no entanto, é o que significa viver na cidade para, agora, a maior parte da população mundial. Os impactos sociais e psicológicos da vida urbana talvez só possam ser compreendidos através de múltiplas formas de comunicação e de expressão, entre elas a fotografia.

Sendo assim, vamos ao Flickr e deixemos que as fotografias falem por si, proporcionando um entendimento que só os caminhos não verbais permitem. Um ode, sem palavras, à urbanidade.

Subway
Karran

F1000039
Lu Jack

Shadows
D.so

ascendancy
Mugley

puerta
Alberto Giron

Sem Título
Viewport

Dupla Exposição

O termo dupla exposição refere-se a um efeito obtido através da sobreposição de duas captura fotográficas em apenas um suporte. Pode-se falar também em múltiplas exposições quando a sobreposição envolve três ou mais imagens. A dupla exposição é uma herança da época do filme e, inicialmente, não era considerado um efeito e sim um defeito. Ela ocorria freqüentemente quando o fotógrafo esquecia de trocar a chapa ou avançar o filme entre duas fotos, gerando imagens combinadas. Logo as câmeras mais populares passaram a ter um mecanismo para evitar que isso ocorresse. O obturador travava e só era liberado novamente quando o filme era avançado. Geralmente a alavanca de avanço fazia as duas coisas simultaneamente. No entanto, era possível, em algumas câmeras, burlar o mecanismo. Em outras, mais modernas, havia seletores ou opções de menu para produzir duplas exposições. Ou seja, com o tempo, o que era indesejado passou a ser uma opção.

Atualmente existem diversos modos de produzir imagens sobrepostas:

  • Diretamente no filme: através de uma opção da câmera, realiza-se diversas exposições sem avançar o filme
  • No papel: é possível, a partir de capturas únicas, sensibilizar o papel fotográfico com diversas imagens diferentes, produzindo o mesmo efeito
  • Na câmera digital: alguns modelos de câmeras digitais, especialmente as reflex de alto desempenho, têm uma opção para fazer a câmera sobrepor as imagens captadas
  • No programa de edição de imagens: é possível sobrepor duas fotos digitais através de software, usando camadas e opções de mesclagem para obter um efeito similar ao conseguido com filme

Para aqueles que querem fazer a dupla ou múltipla exposição direto no filme, é preciso lembrar de compensar a quantidade de luz que entra. Se o filme vai ser exposto duas vezes, é preciso que cada uma das exposições use apenas metade da luz ideal, para que a foto não saia clara demais. Consegue-se isso diminuindo um ponto de luz (fechando o diafragma um ponto ou aumentando a velocidade em um ponto). Se idéia é fazer quatro exposições sobrepostas, é preciso diminuir dois pontos de luz para cada exposição (cada foto vai ser feita com um quarto da luz ideal).

Uma outra maneira mais simples de compensar é alterando o ISO da câmera. Se o filme é ISO 200, por exemplo, e se quer fazer duplas exposições, configura-se a câmera para medir como se o filme fosse ISO 400. Para exposições quádruplas, ISO 800.

A dupla exposição é uma das técnicas que mais uso quando fotografo com filme. A idéia vai desde a produção de figuras geométricas até a criação de algumas atmosferas da noite urbana, como mostram as fotos abaixo.

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Os sete pecados capitais da imagem técnica

A fotografia é uma imagem técnica. Portanto, é uma área em que cabe ao operador do equipamento um papel mínimo, sendo sua função criar condições para que a máquina trabalhe corretamente, ou seja, produza uma imagem fiel à realidade. Quando o fotógrafo, devido à incompetência, a um erro ou a uma interferência inadequada no processo de captura de uma imagem, desvia-se de sua função e atrapalha o funcionamento da câmera, diz-se que ele cometeu um pecado técnico-capital.

Com o intuito de ajudar aqueles que ainda têm dificuldade em operar o equipamento sem interferir no processo, reuni os sete principais pecados técnico-capitais abaixo, com uma frase explicativa e uma foto de exemplo. Essas fotos foram feitas por autores inconseqüentes que, ao usar a câmera incorretamente, perderam a chance de produzir imagens adequadas e estão agora ardendo no inferno técnico.

Falta de nitidez
“A fotografia precisa ser nítida e legível”

Ken Douglas
Ken Douglas

Superexposição
“A fotografia não deve conter brancos estourados”

~fernando
Fernando

Subexposição
“A fotografia não deve ser escura demais”

Stuart Boreham
Stuart Boreham

Distorção
“A perspectiva deve sempre ser respeitada”

Stefan Sonntag
Stefan Sonntag

Enquadramento
“Sempre use a regra dos terços”

Stefano Arteconi
Stefano Arteconi

Cores
“As cores devem ser fiéis à realidade”

Valentina Cinelli
Valentina Cinelli

Contraste
“O alto contraste é essencial para uma boa experiência visual”

Sighthound
Kevin (Sighthound)

Tenho certeza de que, a esta altura, você já percebeu que esse artigo é uma sátira. Os autores das fotos utilizadas aqui são justamente o inverso do que foi dito nos primeiros parágrafos. Embora eles de fato possam estar no inferno das imagens técnicas, estão no céu da Fotografia. Todas as imagens publicadas têm licença Creative Commons (assim como este texto).

Slideshow Ausências

Meu amigo Fernando E. Aznar criou um slideshow com os dípticos da sua série Ausências. As fotos fazem parte da seleção do Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre, em sua edição de 2008. A montagem eletrônica conta com trilha de Andrea di Carlo.

As fotos mostram diversas faces da passagem humana pro diversos lugares, e o jogo entre a presença e a ausência daqueles cujas atitudes dão significado às imagens, como os bancos vazios, as placas enferrujadas e os bilhetes deixados nas portas.

Quem for ao festival terá uma ótima oportunidade para ver esta série em tamanho grande. Para ter um gostinho com o vídeo, basta acessar esta página do Croqui de Luz.

São Francisco do Sul, por Adriana Füchter

Adriana Füchter é uma fotógrafa que nos leva em suas viagens, a cada vez que coloca uma nova galeria em seu site. A expressividade delicada de suas fotos faz com que se sinta um estar-nos-lugares em que ela esteve, guiados pelo seu olhar, e como se no último momento ela nos desse licença e concedesse a nós a sua visão privilegiada.

A nova galeria mostra os detalhes, as luzes e as sombras de São Francisco do Sul, a terceira cidade mais antiga do Brasil.

Clique aqui para visualizar a galeria ou acesse a página principal do site de Adriana.

Uma foto: texto e contexto

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A foto ao lado foi feita pela fotógrafa Ana Ottoni, da Folha, e divulgada pelo Uol, numa das galerias de fotos que compõem a cobertura jornalística da São Paulo Fashion Week. A série, chamada de Avesso, retrata os bastidores do evento, tendo como enfoque as modelos fora da passarela. Para acessar o álbum, clique aqui. A foto em questão chama-se “Caminhos”.

A foto não me chamou a atenção pelo que a legenda sugere. O texto ao lado da foto diz: Modelo estuda “complexo” esquema de entrada na passarela do desfile da Zoomp. A idéia é que o que a modelo faz é simples e o esquema, desnecessário. As fotografias sempre mostram uma realidade desprovida de contexto, e qualquer análise superficial falha em devolver a ela a significância do que a imagem transmite. Nesse caso, olhando-se com calma, pode-se perceber que há uma série de folhas, talvez cada uma com um caminho diferente. Além do mais, a passarela não é tão simples quando parece. Imagino que não tenha sido a fotógrafa a dar a legenda, até porque pode-se dizer que é tão simples uma modelo andar na passarela quanto é apertar o botão de uma câmera fotográfica. O texto, então, dá uma interpretação fora de contexto, a partir de uma impressão simplista e preconceituosa.

A foto me chamou a atenção porque, através da mesma falta de contexto que levou ao texto da legenda, é possível perceber uma simplicidade quase surreal, ao imaginar um olhar atento que percorre as setas, da mesma forma que o nosso próprio olhar faz ao ver a foto. Por um momento, somos a modelo e buscamos decifrar um caminho simples mas cuidadosamente delineado. É uma imagem que tem uma força própria mesmo fora da série, do evento. Isolada, é surreal e minimalista, quando se permite olhar para ela prescindindo do texto e aproveitando-se da falta de contexto que cada fotografia, quando sozinha, carrega.