Quando começamos a nos envolver um pouco mais seriamente com a fotografia, uma das primeiras coisas que pensamos é “quero ser um bom fotógrafo”. É natural, pois reconhecemos que as nossas fotografias, no início, não se parecem com aquelas que vemos em revistas, sites, jornais ou galerias de arte. A partir da percepção dessa diferença, imaginamos que há um caminho a ser percorrido, para que possamos criar fotografias tão impactantes e bonitas como aquelas que tomamos como modelo.
O problema é que na verdade não sabemos muito bem o que é um bom fotógrafo. Nós reconhecemos um bom fotógrafo quando vemos um, mas não sabemos muito bem por quê. Para resolver esse problema, tentamos estabelecer alguns critérios para entender porque fulano é um bom fotógrafo, de modo que possamos ter alguma ideia de como é esse caminho que devemos percorrer. Imaginamos que ser um bom fotógrafo é saber operar uma câmera, saber usar a luz, achar assuntos interessantes, ou até mesmo ganhar dinheiro com a fotografia, ser reconhecido ou ter suas fotos publicadas em algum local de destaque. Cada um de nós cria uma imagem do que é esse bom fotógrafo e se põe a perseguir esse ideal. Dependendo das qualidades que acreditamos que um bom fotógrafo possui, estabelecemos um método para tentar chegar nesse patamar.
Muitas pessoas persegue o caminho técnico, a partir da concepção de que um bom fotógrafo é aquele que sabe como mexer numa câmera. Para esses, a receita é saber usar o modo manual, comprar os melhores equipamentos, entender como usar os programas de edição de imagem.
Alguns outros irão pelo caminho do estudo da arte. Visitam museus, listam os movimentos da história da arte, conhecem os fotógrafos mais reconhecidos nesse campo. Fotografam conceitualmente, buscam ser originais e criar um estilo estético próprio.
Outros podem seguir o ideal jornalístico. Preocupam-se em encontrar eventos que sejam dignos de serem retratados. Estudam os melhores momentos e ângulos para transformar uma cena em uma imagem impactante.
Mais uma possibilidade é seguir o ideal publicitário. Fotografando objetos ou cenas de modo a embelezá-los, torná-los o mais atraentes possível. Geralmente focam na fotografia de estúdio, trabalhando com luzes, sombras, cores e formas. Têm como objetivo aquela fotografia perfeita e atrativa.
É claro que os exemplos acima são um pouco caricatos. As pessoas geralmente terão algum grau de mistura desses modelos, ou se identificarão com outros caminhos que não citei. Mas a intenção é apenas mostrar que estabelecemos mentalmente um caminho e acreditamos que lá no fim dele, onde o arco-íris acaba, estará esse pote de ouro, a “boa fotografia”.
A questão é que, lá no começo, quando pensamos “quero ser bom”, nós na verdade já caímos numa armadilha que pode nos afastar da criação, da expressão autêntica daquilo que somos e fotografamos. O “quero ser bom” cria um conceito, um ideal que é colocado lá na frente, e no momento em que passamos a persegui-lo, damos as costas para a alma da nossa fotografia, pois parece que tudo que fazemos antes desse momento futuro perde seu valor. Se tirarmos da frente esse conceito do que é bom ou ruim, percebemos que tudo aquilo que fotografamos é importante, bonito, significativo. Cada momento que passa torna-se inalcançável. E, enquanto nos preocupamos com os nossos próprios critérios para sermos bons, a vida, os momentos e as cenas escorrem pelos nossos dedos.
Nós não precisamos perseguir um ideal, nem nos preocuparmos com sermos bons. Por que desvalorizar o que se tem hoje para colocar lá na frente um objetivo, um dia milagroso em que seremos bons — em que só aí nossas fotografias serão dignas? Em vez disso, podemos focar em cada passo que damos nesse caminho, olhando para o agora e não para o futuro. Entrar em contato com o assunto, com a cena, com o momento. Fotografar como se cada fotografia fosse a única. Porque, se você pensar, não existe essa boa fotografia futura. Só existe, para sempre, aquela que você está fazendo agora.
Em primeiro lugar, permita-me chamá-lo de Prezado Rodrigo. Você prestou uma inestimável contribuição ao mundo da fotografia. Nem comecei… já estava desistindo. Espero um dia fazer algo semelhante. Você certamente é uma grande pessoa. Muito obrigado!
Obrigado, Luiz. Grande abraço.
Rapaz, muito legal seu artigo. Disse tudo! Tudo a ver com meu momento passado e atual na fotografia.
Comecei a fotografar por puro hobby no meio dos anos 90 com uma Praktica LTL e vivia com esse pensamento de querer ser bom. Após dezenas de rolos de filme cheguei a uma conclusão: não tinha talento. E não tinha mesmo, não é vergonha assumir as limitações. Tirei algumas boas fotos mas achava a grande maioria muito aquém do que queria almejar.
Por conta disso fui abandonando a fotografia e parei em 2004. A maquina foi para o fundo do armário e deu mofo na lente..
Em 2013 resolvi comprar uma digital melhorzinha para a esposa e acabou me despertando o desejo de fotografar de novo, mas dessa vez por pura diversão, pelo prazer de fazer registros sem auto-cobranças. Desde então me empolguei e até aprendi a revelar PB. Não passo uma semana sem bater fotos, por puro prazer de registrar e lidar com os momentos e as maquinas.
Agora olho para fotos antigas que desprezava e as acho ótimas pois representam momentos e sensações, e me despi da auto-critica excessiva. Não há sentido em inventar regras para o prazer. Talvez por isso creio que estou aprendendo muito mais agora do que na época que “queria ser bom”. 🙂
Adorei o texto. Grande abraço.
Mauro R.V.
Mauro, muito obrigado pelo seu depoimento, acrescentou muito ao artigo. Parece que com o tempo você mudou a sua percepção sobre o que era importante na sua fotografia e se permitiu apreciar mais o que a fotografia mostrava do que a forma como a fotografia havia sido feita.
Grande abraço.
Exatamente isso! 🙂
Um abração.