Muito antes de Niépce ter fotografado o lado de fora de sua janela, em 1826, as câmeras já eram bastante utilizadas entre os artistas. A camera obscura, que podia ser uma pequena caixa de madeira ou metal ou até literalmente um cômodo inteiro, eram utilizadas para projetar imagens em seu interior. O princípio é simples: se houver um espaço, como uma caixa, totalmente vedada da entrada de luz e num dos lados dessa caixa se faz um pequeno furo, permitindo só ali a passagem da luminosidade, a imagem do que está do lado de fora do furo será projetada na parte interna da caixa.
A primeira descrição do funcionamento de uma camera obscura foi feita pelo filósofo chinês Mo-Ti, no século cinco antes de Cristo, conceito que também foi discutido por Aristóteles. Aparentemente, foi o estudioso islâmico Alhazen (965-1039) o primeiro a fazer experimentos com luzes fora de uma sala com um pequeno buraco na parede. Com o tempo, a camera foi diminuindo de tamanho, ganhando lentes para uma melhor projeção e tomando diversas formas.
A partir do século XVII, muitos pintores passaram a utilizar cameras obscuras portáteis para as locações em que compunham suas obras. A partir das projeções das imagens, eram feitos os desenhos como base para pinturas posteriores. Percebe-se, aqui, que todo o princípio ótico da fotografia já era utilizado. A diferença, era na maneira de fixar a imagem, pela mão do pintor, que tem todas as suas especificidades, ao contrário da “pureza” do sal de prata. Essa “pequena” diferença já é suficiente para criar uma grande distância metodológica e conceitual entre as duas práticas.
Um dos pintores que mais utilizaram a camara obscura foi Vermeer. Na pintura abaixo, “A moça com chapéu vermelho”, pode-se observar que há menos nitidez nos elementos aquém e além do assunto principal, por conta da profundidade de campo restrita das lentes. Um avô do desfoque tanto utilizado hoje na fotografia.
É interessante constatar toda a evolução tecnológica que resultou na fotografia e, especialmente atentar para o uso dessas tecnologia no campo das artes, como ocorreu com a camera obscura. E é ainda mais contundente pensar que mesmo as câmeras reflex atuais baseiam-se num princípio simples concebido há 2500 anos.
Há, ainda hoje, muitas câmaras escuras grandes, em forma de tenda, como pontos turísticos pelo mundo. As lentes, colocadas no topo, projetam em seu interior, através de espelhos ou prismas, a paisagem do entorno.
Fontes:
Brighton & Hove Museums (2006). Cameras obscuras in the UK. http://www.foredown.virtualmuseum.info/camera_obscuras/uk.asp
Discovery Centre (2003). Camera obscura. http://www.up.ac.za/academic/discover/camera/obscura.htm
Naugton, R. (2006). The camer obscura: Aristotle to Zahn. http://www.acmi.net.au/AIC/CAMERA_OBSCURA.html
Wikipedia (2006). Camera obscura. http://en.wikipedia.org/wiki/Camera_obscura
Wilgus, J., & Wilgus, B. (2004). What is a camera obscura? http://brightbytes.com/cosite/what.html
Postado originalmente no Multiply.