Como é natural para quem se interessa por fotografia, gosto de tirar fotos. Gosto de mexer na câmera, entender a luz, apertar o disparador, ouvir o “click”. Mas percebo que ao longo do tempo, tenho me interessado cada vez mais por ver fotografias do que fazê-las. O fazer é ativo: é construção, criação. O ver é receptivo: é contemplação e abertura. No fazer há controle; no ver, entrega.
Olhar fotografias de outras pessoas é mais interessante do que ver as minhas. Cada fotógrafo abre, através das imagens que cria, uma janela para seu mundo. Para mim, esse é o maior valor da fotografia: poder olhar dentro da vida de alguém. Com a Internet e redes de compartilhamento como o Flickr, esse potencial é quase infinito. Milhões de janelas e mundos à espera do olhar. O único porém é a melancolia de se ver tantos mundos que não poderei habitar e aos quais resta apenas resignar-me a olhar, de longe.
A imersão na fotografia alheia desafia a maneira conceitual de ver o mundo. A partir do momento em que se atravessam os julgamentos técnicos e estéticos que nossa mente apresenta em forma de palavras, podemos olhar para as fotografias na sua pureza. Na verdade, é a nossa percepção, ao transcender as palavras, que pode se tornar pura. Fico me perguntando se, a partir dessa percepção não podemos construir, a partir da imagem, um significado mais genuíno. Olhar para uma fotografia pode ser como um espelho: ao descobrir o que ela gera em nós, nos percebemos, nos descobrimos. É um olhar para fora que é rebatido e se torna olhar para dentro.
O fazer fotográfico, da mesma maneira, também apresenta uma relação entre o olhar para dentro e para fora. A fotografia que faço pode ser uma revelação ao ser vista pelo outro. Dentro, há a minha escolha do que fotografar, do que considero importante, da forma como o faço. Apresento isso ao mundo de que forma? Em função do julgamento alheio? De peito aberto, sem medo? Aceito me expor através da fotografia ou apresento uma versão pasteurizada de mim mesmo? É preciso coragem para se fazer uma fotografia transparente.
Embora ao fazer e ver fotografias não pensemos nisso, o fato é que tudo aquilo com o que nos envolvemos, especialmente de uma forma afetiva como fazemos como a arte e a criatividade, diz muito sobre nós. Como enxergamos o mundo, como construímos os seus significados, como nos apresentamos a ele. Se pararmos para trazer à tona essas reflexões, podemos não só nos aprofundar na nossa relação com a fotografia como também usá-la como instrumento de autoconhecimento.
A nossa relação com a fotografia, as palavras e os significados serão tema da oficina O Nome das Coisas, a ser realizada nos dias 28, 29 e 30 de agosto de 2014 no Espaço F/508 de Fotografia, em Brasília.
Foto do cabeçalho: Nuno Dantas.
Muito bacana o texto, e sim é preciso ver mais e discutir mais sobre a fotografia. Parabéns!
Sérgio, muito obrigado pela visita e comentário. Um abraço.