Há milhões de ótimas fotos na Internet. Fotos surpreendentes, bem trabalhadas, expressivas, contundentes. Basta procurar um pouco em qualquer galeria online. É admirável que, mesmo com tantas fotografias já feitas, ainda assim fotógrafos consigam criar ótimas imagens a cada dia, ou a cada minuto. Ao mesmo tempo em que percebo isso, pergunto-me porque a maior parte das pessoas que fotografam têm dificuldades para sair do lugar comum, para arriscar mais e deixar de usar as velhas fórmulas fotográficas: enquadramentos clássicos, fundos desfocados, nitidez no plano principal, exposição correta etc. Em geral, as fotos mas expressivas não se preocupam com a correção, com o método convencional. Reuno aqui alguns exemplos, descrevendo o que cada uma dessas fotos aponta sobre como fotografar bem, indo além das convenções.
1. Lembre-se: fotografia não é realidade
Portanto, não é necessário que ela seja parecida com o mundo que você vê. Essa é uma luta perdida, então nem tente. Em vez de buscar essa semelhança, sinta-se livre para fazer com que as suas fotos sejam parecidas com aquilo que você quer dizer, e não como o mundo parece ser. A foto acima mostra que as cores podem ser totalmente diferentes do “real”.
2. Trabalhe exaustivamente com as formas
As fotografias são meras representações bidimensionais inscritas em um quadrilátero. Sendo assim, as formas que as compõem são a base da sua qualidade. Fotografar é quase como desenhar, com a diferença que pegamos a materia prima meio pronta. A foto acima explora a irregularidade da sombra com a regularidade da janela e dos paralelepípedos, mostrando que trabalhar com as formas não significa necessariamente buscar repetições ou grafismos, que em geral são bastante enfadonhos.
3. Use proporções diferentes
Não há nenhuma razão pela qual devemos ficar restritos às proporções padrões das câmeras — em geral 4:3, 3:2 ou 16:9 nas mais novas. Qualquer programa de edição de imagens permite que cortemos as fotos da maneira que quisermos. Podemos até ter fotos redondas, se achamos que vale a pena. A foto acima mostra a opção do fotógrafo por uma proporção que manteve no quadro apenas aquilo que ele julgou essencial.
4. Busque novos ângulos
A foto acima mostra como uma simples sacada pode produzir um resultado interessante, tanto no plano formal como no simbólico. Uma das principais habilidades do fotógrafo é ver o mundo de maneira pouco convencional. Muitas vezes a surpresa pode estar justamente num ponto de vista inusitado, mas simples.
5. Não tenha medo de estouros e sombras
Muito do aprendizado em fotografia refere-se a obter a exposição correta na câmera. Procura-se preservar detalhes e informações ao máximo, tanto nas áreas mais escuras quanto nas mais claras. No entanto, existem situações nais quais ocultar partes da cena com luz ou sombra pode ser essencial para uma boa foto, como no exemplo acima.
6. Vá além do quadro
A fotografia pode ser apenas um ponto de partida para outros tipos de criação. Colagens, montagens, justaposições são algumas das possibilidades usadas por diversos fotógrafos e artistas consagrados que não se limitaram a cada fotograma individual. O exemplo acima mostra como uma folha de contato pode se transformar numa obra.
7. Busque novas técnicas
Se nos conformarmos com as fórmulas clássicas para fazer nossas fotografias, tendemos a cair nos clichês. É preciso sair da zona de conforto e arriscar. Uma das formas de fazer isso é utilizando técnicas diferentes daquelas a que estamos acostumados. Se usamos filme, fotografar com digital. Se fotografamos com digital, tentar o filme. Se usamos os dois, tentar filme instantâneo, ou um celular. O ponto é variar, pois a variação é a chave para a criatividade.
8. Preocupe-se menos com aspectos técnicos
A preocupação técnica, como por exemplo a nitidez, pode ser um entrave na busca por fotos significativas. O exemplo acima é de uma pinhole. A foto não é nítida, tem borrões e áreas completamente escuras ou muito claras. Ainda assim, é bastante expressiva. Por vezes, abandonar o preciosismo técnico é determinante para conseguir dizer algo mais através das fotos.
9. Explore o humano
O retrato é o tipo de fotografia mais expressiva que existe. Mas, para serem bem feitos e fugir dos clichês, é preciso se aproximar e ver a pessoa como tal, não como objeto. Esqueça saídas fáceis e usadas à exaustão, como bebês e crianças sorridentes ou closes de idosos a fim de mostrar o rosto enrugado. As pessoas são muito mais do que isso. A foto acima mostra como, em um bom retrato, uma pessoa sem contrair um músculo da face pode ser mil vezes mais expressiva do que outra com um sorriso forçado.
10. Mantenha a coisa simples
A fotografia é uma atividade extremamente simples. Basta apertar o botão em uma câmera. Temos apenas um quadrilátero para encher com algo que represente aquilo que vivemos ou o que queremos dizer. Hoje a grande maioria das fotos é vista em miniatures, em uma fração de segundo. Não adianta querer ser pretensioso, falar ou mostrar mil coisas de uma vez. Seja claro, objetivo, direto. A foto acima mostra isso: é incrivelmente banal, mas é justamente a sua simplicidade que a torna impactante.
O trabalho do fotógrafo é dar ao mundo que vê um recorte e uma representação através da sua câmera. Fotografar é descrever, contar, narrar, sugerir. Tal qual nos livros, se a história estiver cheia de clichês, repetições e saídas fáceis, ela será desinteressante. Fotografar bem significa aprender a linguagem da fotografia e usá-la para criar em vez de repetir as velhas fórmulas.
Rodrigo, no meio desse bombardeio de imagens, cliché é a menor das preocupações. Aliás, qualquer lista vai cair no cliché. Claro, sua palavras tem uma direção específica.
Como expectador que vê toneladas de fotos diariamente, concluo que só existe uma regra: pode-se seguir as sugestões acima ou qualquer conjunto de fórmulas, ou não, mas antes de mais nada, deve-se ter como meta ver-se espelhado nas fotos. Em outras palavras, mostrar quem se é pelas imagens que criamos. Afinal, indivíduos não são clichés e criar algo seu é o melhor caminho para imprimir-se nas fotos.
fantástico isso.
Adorei ver que a primeira sugestão de mudança de atitude foi a lembrança de que a fotografia não é a realidade. Essa é uma frase que repito exaustivamente nas minhas aulas, para que os futuros designers gráficos compreendam a incrível ferramenta criativa que eles podem usufruir.
[…] Artigo tirado do blog Câmara Obscura […]