Como já comentamos antes, a operação da câmera deve ser subordinada às ideias e intenções do fotógrafo, para que o processo criativo envolvido na fotografia seja mais completo. A manipulação da câmera de acordo com o conceito permitirá obter os resultados esperados e é o que pode fazer do ato fotográfico uma forma de expressão. Conhecer a técnica é útil para construir um discurso eloquente através da linguagem característica das câmeras.
Podemos abordar, como exemplo, uma questão simples. As câmeras fotográficas têm uma forma particular de lidar com o movimento. Projetadas para construir suas imagens a partir de frações ínfimas de tempo, a fotografia tem, geralmente, a característica de congelamento, necessário para produzir fotos nítidas e fáceis de entender. Quando não há condições para esse efeito de congelamento (e.g. falta de luz suficiente), o que está em movimento aparece na fotografia como um borrão.
Embora isso possa ser visto como um defeito, para o fotógrafo criativo, cabe menos falar em certo e errado e sim em entender as possibilidades da linguagem. A forma como a câmera mostra o movimento é um dos aspectos dessa linguagem, que pode ser explorado de acordo com a intenção do fotógrafo. Tecnicamente, o procedimento é simples: basta aumentar o tempo em que o obturador fica aberto. Quanto mais tempo, mais fluídas parecerão as passagens perante a lente. Em câmeras com modo manual, basta selecionar o modo T ou Tv e especificar velocidades a partir de 1/30, dependendo da velocidade do movimento.
Como as imagens falam mais de mil palavras, podemos exemplificar, com algumas fotos, como é possível tornar essa característica da fotografia num elemento compositivo da linguagem. Nas imagens abaixo, a preocupação com a semelhança com a realidade é pequena. Por outro lado, percebe-se claramente o trabalho do fotógrafo na construção de uma mensagem visual, em que a técnica foi utilizada com esmero em função da sua intenção.
Colocações pertinentes no texto!
A questão do movimento na fotografia é um dos aspectos que me faz concordar com o Arlindo Machado quando ele afirma que a fotografia é muito mais um símbolo [construído] do que um índice [mero recorte da realidade].
Ao meu ver, é imprescindível ao fotógrafo conhecer a técnica fotográfica “correta”, para ter a liberdade de lançar mão das possibilidades da linguagem, como dito no texto.
Tereza,
Interessante a citação do Arlindo, pois foi nessa ideia dele que eu me baseei mesmo para pensar nesse pequeno texto com exemplos claros desse ponto que você ressaltou. A fotografia tem a sua própria forma de lidar com o movimento, que não remete em nada à realidade.