A técnica é provavelmente um dos assuntos mais discutidos entre fotógrafos, especialmente os amadores. No entanto, esse termo engloba muito mais do que os ajustes da câmera, alcançando um status quase mítico entre aqueles que se debruçam sobre a fotografia. Mas o que é, afinal, a técnica? E como ela se relaciona com outros aspectos da produção de imagens?
A técnica é o input, ou seja, o conjunto de instruções que damos ao equipamento, a forma de operar a máquina. Essa máquina pode ser a câmera fotográfica, um equipamento de iluminação ou um computador realizando o pós-processamento. Geralmente, quando se fala de técnica fotográfica, o assunto é a manipulação da câmera, notadamente ajustes de abertura, velocidade, ISO, distância focal, entre outros.
O que eu percebo é que a técnica é vista de forma distorcida, de diversas formas. Uma delas é a sobrevalorização. Acredita-se que saber fotografar é igual a dominar o input, ou seja, a apertar os botões. Confunde-se o domínio da operação do equipamento com o domínio da fotografia como um todo, e frequentemente o fotógrafo amador se frustra ao conhecer todos os aspectos técnicos mas ainda assim não conseguir produzir fotografias de qualidade. Geralmente os cursos, sites e fóruns de fotografia destacam muito o desenvolvimento da operação do equipamento, deixando de lado outros aspectos do fazer fotográfico que são tão ou mais importantes do que a técnica.
Outro aspecto no qual ocorre distorção é a dicotomia entre técnica e criatividade. Acredita-se que existe uma técnica correta, única, e portanto limitadora de um fazer mais criativo. Algumas pessoas valorizam a não-técnica como uma expressão mais livre. No entanto, se há fotografia, é porque houve input. Se há input, há técnica. Mesmo que o input seja apertar o disparador segurando a câmera numa determinada altura virada para uma determinada direção, há algum técnica. Não se pode fugir disso.
Uma vez que a falácia da técnica correta é amplamente difundida, é natural que alguns fotógrafos busquem fugir disso, usando técnicas “erradas”. No entanto, essa é uma armadilha e o resultado provavelmente será tão inócuo quanto os obtidos pelos fotógrafos esmerados em produzir uma foto tecnicamente perfeita. Continua-se obedecendo cegamente a um preceito técnico, só que de forma inversa.
Se considerarmos que: a) sempre existirá uma técnica; b) não há técnica correta e c) a técnica não é é limitadora da criatividade, qual o real lugar da técnica na fotografia? A técnica, o modo de fazer, a operação, o input, são importantes, mas devem ser secundários e subordinados à intenção do fotógrafo, à ideia, à motivação que leva ao ato fotográfico. A técnica deve ser aliada do desejo do fotógrafo em expressar algo que está no mundo.
Se a ideia é apenas mostrar algo que existe, aquilo que é tido como técnica “correta”, que faz com que a fotografia seja bastante parecida com a realidade, é suficiente. Se a ideia é mostrar bagunça, movimento, então pode-se usar procedimentos para gerar fotos borradas, sobrepostas. Sensações de amplitude ou achatamento são obtidas através do uso de distâncias focais mais curtas ou longas. Subexposições ou superexposições são úteis para criar certas atmosferas de escuridão ou grande luminosidade. Ou seja, a fotografia apresenta uma enorme gama de possibilidades de expressão. Para isso, no entanto, o carro não deve ser colocado na frente dos bois, e os recursos técnicos não podem ser vistos como fim em si mesmos. Quando se consegue estabelecer um processo criativo em que se sabe o que quer e a técnica é bem empregada a fim de se obter aquilo que quer, os resultados são melhores e a fotografia se torna um processo mais completo e integrado.
[…] This post was mentioned on Twitter by Henrique Ribas, Rodrigo Pereira. Rodrigo Pereira said: E essa tal de técnica? no Câmara Obscura – http://shar.es/a9npN […]
Muito bom o texto, bem expicativo. E essa imagem do Akshay Mahajan que ilustra o texto é perfeita.
Olá! Que gostoso de ler esse texto, seguramente pelo impulso que me deu de continuar a estudar.
É estranho se sentir abandonada pela “criatividade”, deixar de sentir satisfação pelo meu trabalho depois de abrir os livros e sítios sobre fotografia, como é isso ?
Esse é o momento do ame-o ou deixe-o e textos como esse relaxam. Abraço.
Adorei! pena que saiu um pouco depois da minha defesa de TCC… teria sido lindo usar seu texto na apresentação. Linkei no meu blog, tá?
[…] deixei programado para hoje e nesse meio tempo, achei o blog Câmara Obscura, cujo post E essa tal de técnica? ajuda justamente a responder algumas das dúvidas que vinham comigo desde a primeira revelação […]