Todo ano, a Confoto organiza um concurso nacional de fotografia. Em formato de Bienal, há uma alternância entre edições com fotos coloridas e em preto-e-branco. Esse ano é vez de PB, no evento que será realizado dia 28 de junho em Blumenau, SC. Os fotoclubes de todo o Brasil brigam para conseguir um bom número de pontos e, conseqüentemente, uma boa posição na classificação final. Circula internamente em alguns fotoclubes um e-mail com as diretrizes de como se dar bem no concurso. Segue o conteúdo:
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“…Mas, como a Bienal P&B está muito próxima e não dá tempo para mudar a cultura fotográfica dos associados, gostaria de apresentar algumas sugestões que poderiam melhorar a classificação geral do grupo no concurso.
1) – pedir para trazerem o maior número possível de fotos coloridas e p&b. Evidentemente as coloridas de boa qualidade serão transformadas em P&B;
2)- criar um comitê, com pessoas de fora, para escolher as fotos que irão para a Bienal. Se a quantidade de fotos for boa, fazer a reclassificação pelo menos 3 vezes;
3)- pedir para um associado com capacidade técnica para tratar das imagens, não só cosméticas, mas com intervenções brutais, se necessárias. Competição é competição, o que interessa é o resultado final.
4)- localizar um bom laboratório para ampliar as fotos. Alguém do fotoclube deverá acompanhar de perto as ampliações para não terem problemas com o ‘fio’*. Como as fotos p&b são impressas em papel colorido, deverão primeiramente saber qual o tipo de luz que existe no local do julgamento lá em Blumenau. Com esta informação, fazer testes para acertar o filtro do Noritsu ou da Frontier, que compensará a cor na ampliação das fotos para não apresentar divergências no P&B, como normalmente acontece.
5)- aconselho, se possível, fazer as fotos em impressora jato de tinta e papel opaco, como o Velvet e o Textured, da Epson, o Infinity Matte, da Arches, o Fine Art, da Bergger e ainda, os sofisticados German Etching e William Turner, da Hahnemühle. Com estes papéis não haverá problema com qualquer tipo de iluminação;
6)- como as fotos serão julgadas isoladamente, elas deverão conter algo que atraia atenção dos membros do júri instantaneamente. Eles deverão julgar mais de 2.000 obras. Além da excelente impressão, que é um dos primeiros motivos para desclassificação, porque se o autor é relaxado na impressão de suas fotos, elas não merecerão maiores atenções, as fotos deverão transmitir emoção, curiosidade, exuberância, etc. etc.
7)- A melhor linha a seguir é fotografar gente. Retratos e ‘candid camera’, mas que conte alguma história que possa chamar a atenção do júri. Trabalhar muito com sombras, contra-luz, contrastes, e lá vem mais etc. etc.
Abraços
PS. ‘fio’ é o fio da p. que opera a impressora que custa Us$ 100,000.00 e ele ganha só R$ 340,00 por mes, portanto…”
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A mensagem é polêmica porque dá à “arte” fotográfica um caráter extremamente operacional e dirigido exclusivamente ao resultado da competição. Por outro lado, descreve muito bem a realidade dos concursos, que privilegiam um determinado tipo de linguagem. A pergunta que fica, no entanto é: que tipo de fotografia a maioria dos fotoclubes têm incentivado seus membros a produzir?
O pior de tudo é que participei da discussão lá no fórum a partir do comentário do Berner, e nem li a ‘receitinha’ para se dar bem, senão agora. Se eu soubesse destes detalhes naquela vez que mandei fotos para a Bienal talvez pudesse até ter sido classificada. Por outro lado eu me pergunto: ‘Não fui, e daí?’. Ninguém morreu e continuo seguindo meu caminho.
Quanto ao fotoclube, pelo menos do que participava, acho que receitas assim seriam mais do que bem-vindas, mesmo porque não tínhamos noção de nada nem acompanhamento algum. O triste é quando fica só nisso, quando há tanta coisa mais a ser explorada.
Lilian,
Dá pra entender que esse é um modelo, um formato. Esse formato incentiva um determinado tipo de produção. Será que os fotoclubes devem dedicar-se exclusivamente a isso? Ou será que organizadores de concursos não devem usar seu poder de delinear um formato para incentivar outros aspectos? É uma questão complicada.
“A mensagem é polêmica porque dá à “arte” fotográfica um caráter extremamente operacional e dirigido exclusivamente ao resultado da competição. Por outro lado, descreve muito bem a realidade dos concursos, que privilegiam um determinado tipo de linguagem. A pergunta que fica, no entanto é: que tipo de fotografia a maioria dos fotoclubes têm incentivado seus membros a produzir?”…
Tenho refletido sobre isso desde ‘sempre’…