Sempre se fala que, para fotografar bem, é preciso conhecer a técnica e desenvolver o olhar. Costumo me perguntar: o que é este olhar? Qual a sua real importância no ato fotográfico? Saber olhar é suficiente?
Este olhar fotográfico é aquele que consegue perceber boas oportunidades de composição, de organização de elementos, de detalhes interessantes. O bom olhar é aquele que vê mais, ou seja, encontra possibilidades estéticas onde em geral não se vê nada. As formas, as cores, a luz e o movimento são explorados para criar essas cenas que mostram o que é evidente mas passa geralmente despercebido.
Obviamente, não se trata de um olhar puro e simples, como se fosse algo só do olho. Vemos com o cérebro, na verdade. E o ato de olhar não é passivo, e sim uma atividade intensa em que vasculhamos o que está em nossa volta, selecionamos pontos de interesse, percebendo elementos e desconsiderando outros. Por isso, o bom olhar envolve treino, num treinamento que pode ser mais ou menos consciente, seja pela prática de exercícios de composição ou pelo contato com artes visuais e outros tipos de estimulação.
Essa importância atribuída ao olhar serve a um tipo específico de fotografia: a de registro, ou seja, aquela que não interfere na cena, apenas a contempla e recorta o que é de interesse. É o fotojornalismo, a fotografia de paisagem ou a fotografia de rua produzida por Cartier-Bresson, por exemplo. Ele mesmo diz que a fotografia envolve essa sensibilidade às cenas que se apresentam, sendo o papel do fotógrafo conseguir extrair a relevância e a beleza do mundo que se coloca frente aos olhos.
Contudo, como nós sabemos, esse é apenas um ramo da fotografia. Há muitos outros que envolvem outros elementos no processo criativo. Na fotografia autoral, por exemplo, os artistas freqüentemente criam assuntos no estúdio ou através de manipulações. Tudo isso para que a obra funcione de acordo com o que é pretendido pelo autor. A intenção do fotógrafo, nesse caso, tem muito mais peso do que o referente. Dentro dessa área, tão ou mais importante do que ter um olhar apurado, é necessário desenvolver conceitos, transformá-los em objetos e produzir resultados finais consistentes com a proposta.
O treino, então, faz-se importante, não só no aspecto visual das artes, mas na compreensão de contextos, idéias e intenções presentes na obra. Isso envolve perceber também as próprias impressões no contato com o trabalho de outras pessoas e a elaboração textual de conceitos. Uma atividade bastante diversa daquela de aprimorar o olhar.
O olhar é importante para a fotografia, da mesma forma que é importante dominar técnicas e o equipamento. No entanto, para desenvolver uma identidade e uma linguagem dentro de uma produção, é preciso ir além, trabalhando com os aspectos submersos nas obras — e que os olhos não vêem de imediato.
Foto: Philippe Ramakers
Adorei a diferencia??o entre o olhar e a forma??o de id?ias em torno de uma imagem (olhar invis?vel, talvez?). Muito bom mesmo.
Ol?, Rodrigo, vim hoje pela primeira vez ao seu C?mera Obscura.
Tenho a certeza de que terei muito a aprender aqui, seja por coment?rios t?cnicos (mas n?o muito, porque s? consigo perceber at? um certo ponto), seja por artigos como este Al?m do Olhar.
Um abra?o.
Ana L?cia
Ana,
Seja bem-vinda. Espero que suas visitas lhe sejam proveitosas, pois para mim ? ?timo contar com sua presen?a.
Um abra?o,
Rodrigo