Percebo que há uma tendência por sempre se querer mais em termos de qualidade e informação nas imagens. Busca-se lentes que apresentam mais detalhes; sensores com maior resolução; formas de obter mais latitude, arquivos sem perda de qualidade. Ou seja, aparentemente a procura é por formas de ter fotos mais detalhadas, sem perdas de informações nas sombras ou nas luzes, nos maiores tamanhos possíveis.
Vejamos o caso da técnica do High Dynamic Range (HDR), por exemplo. O que se propõe é sobrepor várias imagens a fim de aumentar a faixa dinâmica, ou seja, não perder detalhes nas sombras ou nas altas-luzes. Imagino que posso contar nos dedos as vezes em que vi imagens produzidas dessa forma que tiveram um resultado interessante. Na maior parte das vezes, em que essa técnica é aplicada a uma só foto, o resultado não é muito diferente do que o obtido através do shadows/highlights do PhotoShop em níveis altos seguido de aumento no contraste.
O que eu vejo, no entanto, é que boas fotos muitas vezes vão na contramão dessa direção. Quando se utiliza de formas simples de composição ou aproveitamento da luz, geralmente obtêm-se um impacto maior e resultados que podem surpreender.
Uma das formas de fazer isso é o corte. Ao conseguir fazer um enquadramento com poucos elementos, simples e bem ordenados, pode-se obter uma imagem mais interessante do que com mais detalhes ou latitude. Algumas fotos de exemplo (depois que abrir a página, clicar na imagem para ver em tamanho maior):
Em algumas dessas fotos, é possível perceber como o uso da teleobjetiva pode ser empregado para favorecer uma linguagem: ao achatar e aproximar planos, o uso de uma distância focal grande pode ajudar a compor imagens explorando espaços vazios e padrões de forma.
Outra maneira de criar imagens de impacto é através da simplicidade dos elementos da foto, como em:
Entretanto, a forma de simplificar as imagens de que eu mais gosto é justamente aquela em que se escolhe deixar de mostrar alguns detalhes e deixá-los na sombra ou na luz:
Essas fotos são fantásticas pois usam a incapacidade do equipamento fotográfico em capturar diferenças extremas de luminosidade na cena como um determinante criativo. E não há nada mais importante na fotografia do que a leitura e o bom aproveitamento da luz, que se percebe, nesses casos, não ter uma fórmula correta, mas sim uma submissão à intenção do fotógrafo.
Quando nos deparamos com limitações ou quando criamos limitações como essas, estamos no meio de exercícios fotográficos importantes. Ao optar por perder detalhes nas sombras ou nas altas-luzes, ou ao decidir quais elementos entrarão no quadro, estamos escolhendo, testando nossas escolhas e, conseqüentemente, aprendendo. Quando tivermos equipamentos ou técnicas que nos permitam mostrar tudo, não teremos mais escolhas para fazer, e corremos o risco de deixar de criar.
Mais uma vez, Rodrigo, eu me remeto ? narrativa. Ela subordina tudo, e todos os recursos s?o t?o somente formas de se atingir o desejado. Outro dia eu li algo sobre o Tao. Dizia mais ou menos assim: O oleiro d? a forma ao jarro moldando suas paredes com argila, mas que d? usa utilidade ? o seu oco. De alguma forma, tudo o que h? na fotografia ? argila, mas h? algo que ? o oco, que ? transmitido pela narrativa, algo que ressoa em n?s para al?m do que conseguimos descrever, que pode ser descrito, ? claro, mas essa descri??o ser? necessariamente incompleta. A foto que voc? usou como exemplo de Sombra, a mulher olhando pela janela do vag?o. O que ela diz? Por mais que possamos falar dela, a espessura do clima n?o estar? dito, e ? exatamente essa espessura o cerne da narrativa.