O formato RAW

Fotografias digitais, como qualquer outro arquivo eletrônico, são formadas por milhões de bytes que, por sua vez, são combinações de dígitos. Ou seja, em última instância, suas fotos digitais são apenas uma gigantesca série de 0 e 1. Se antigamente a qualidade de uma foto era determinada pelas características do papel e das reações químicas, agora ela reflete as características da informação que a forma.

A fotografia continua sendo um processo físico, no que se refere à captura da luz pelas lentes. No entanto, quase toda a etapa química — sensibilização e revelação do negativo — foi substituída por um processo eletrônico, que transforma a luz em sinais elétricos que são armazenados na forma de dados binários. Discussões sobre qualidade à parte, o interessante disso é que, se você tiver um computador e um programa de edição de imagens, pode modificar toda a informação contida na foto, o que é uma ferramenta fantástica e acessível. Antes, para se produzir efeitos que se consegue hoje com poucos cliques do mouse, era preciso gastar horas no laboratório — caso você tivesse acesso a um e soubesse como usá-lo.

A câmera digital captura a luz que passa pela lente e a transforma num arquivo eletrônico, que é a informação pura captada pelo sensor. Posteriormente, a partir dessa informação pura, é gerado um arquivo de imagem que segue um padrão comercial e é lido por qualquer editor de imagem ou navegador, que é o JPEG. O JPEG é um formato popular e comum de arquivo, que pode ser “entendido” por qualquer plataforma recente. Por isso, com o JPEG você pode visualizar suas fotos assim que as transfere do computador para a câmera, pode imprimi-las diretamente na sua impressora ou no laboratório e também colocá-las diretamente em qualquer site da web. Até o seu DVD player reconhece esse formato. O JPEG, então, é um pau-para-toda-obra que facilita muito a vida de quem não quer se preocupar com editar suas fotos.

No entanto, há algumas desvantagens. A principal delas é que se trata de um arquivo com compressão. A sua praticidade se deve a tamanhos reduzidos de arquivo que aceleram o tempo de transmissão, mas esse tamanho reduzido significa que o arquivo passou por um processo de compactação que, quanto mais agressivo, mas perde dados. Isso significa que, caso a compressão seja muito extrema, muitas das informações captadas pelo sensor no momento em que a foto foi feita são descartadas, a fim de tornar o arquivo menor. Geralmente é possível escolher, na própria câmera, entre modos de compressão mais ou menos agressivos, que aparecem nos menus como “qualidade da imagem” e geralmente as opções são normal, fine, extra-fine ou algo do tipo.

Se as fotos são utilizadas pra fins que requerem arquivos pequenos, como a internet, pouca diferença será vista entre os diversos níveis de compactação. No entanto, se a imagem for ampliada — tanto na tela como no papel — em um tamanho grande, a discrepância é notável, sendo que os efeitos visíveis são geralmente imagens pixelizadas, com pouca nitidez e transições menos suaves de tons.

Para aqueles que costumam mexer em suas fotos com freqüência e que usam suas fotos para fins nos quais a compressão do JPEG é um problema, uma opção é usar o arquivo RAW (pronuncia-se WRÓ). O RAW é um arquivo que tem aquela informação “pura” do sensor, sem nenhum tipo de compressão. Na verdade, o RAW nem é um arquivo de imagem propriamente dito, e por isso não é “entendido” por programas como navegadores da web, por exemplo. Para abrir e editar um arquivo RAW você precisa de programas específicos para esse fim. Além da compatibilidade restrita, o RAW é um arquivo grande, pela ausência de compressão e também enfrenta outro problema: cada fabricante tem o seu. Por isso, um software para editar RAW precisa ser compatível com o formato de cada fabricante. A Adobe vem tentando implementar seu formato de RAW, o DNG (digital negative) como padrão, mas ainda sem sucesso.

Com tantas desvantagens, ainda vale a pena usar esse tipo de arquivo? Se você quer maximizar as possibilidades na edição de suas fotos, a resposta é sim. O RAW é um arquivo com muito mais informações do que o JPEG, que tem uma profundidade de cor limitada e o problema da compressão. Por isso, é possível fazer alterações que não seriam viáveis em outro formato. Por exemplo, pode-se recuperar áreas de “estouro” ou descobrir detalhes nas sombras que seriam perdidos para sempre no JPEG. Consegue-se aplicar curvas de contraste mais agressivas sem deteriorar tanto a imagem. E há muito mais flexibilidade no trabalho com as cores. Depois de editar a imagem, pode-se gerar um JPEG ou um TIF para a aplicação que se deseja. Mas o arquivo RAW nunca é alterado: as modificações são salvas em um arquivo à parte. Portanto, você terá sempre o original e pode gerar quantas “cópias” com tratamentos diferentes quiser.

Os programas de edição que suportam RAW — ou que são feitos exclusivamente para esse fim — têm aumentado em número e em possibilidades. A Adobe oferece duas opções: um plug-in para o Photoshop (suportado a partir da versão CS2), chamado Adobe Camera RAW ou o Lightroom, que tem recursos poderosos e vem sendo festejado como uma das opções mais completas para fotógrafos profissionais e amadores. Mas quem não quiser abrir a carteira pode procurar programas que têm versões gratuitas, como o Capture One e o Silkypix. Além disso, os softwares de edição que vêm com as câmeras também lêem e editam arquivos RAW.

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Tela do Adobe Photoshop Lightroom

E aí talvez venha a decepção para alguns dos leitores: só as câmeras digitais de nível intermediário ou superior têm a opção de salvar arquivos RAW. A maior parte das câmeras compactas salva apenas em JPEG. E isso é dessa forma apenas por uma questão mercadológica, já que salvar ou não em RAW é uma característica do software, e não de hardware. Os fabricantes, para segmentar o mercado, deixam alguns recursos de fora dos modelos mais comuns.

A possibilidade de manipular as próprias fotos de maneira simples e acessível é um dos maiores ganhos da tecnologia digital. No entanto, as escolhas que se faz no momento da captura determinam se o leque de opções no momento da edição. O RAW é uma das opções que tornam o leque do processamento muito mais amplo, embora com o custo de arquivos maiores e menos práticos, e simplesmente não existe para os donos de compactas cujos fabricantes optam por subestimar, ao retirar recursos por questões de mercado.

6 comentários em “O formato RAW”

  1. Gostaria de saber como salvar o raw no cs3 em tiff para n?o perder a qualidade? no meu programa depois que trabalho a foto n?o aparece salvar em raw.

  2. Olá Rodrigo,

    Estou pesquisando sobre Raw X Tiff. Além do tamanho que é pelo menos 3x maior, no que o tiff perderia para o formato raw ?? Já ouvi dizer que o tiff não perde informação de imagem nenhuma, mas ninguém dando um parecer sobre o assunto.

    Um abraço,
    Roberto

  3. Roberto,

    A questão principal é que o Tiff é um arquivo de imagem, ou seja, pode ser aberto e manipulado por programas de edição de imagem, impresso, visualizado etc. O RAW não é um arquivo de imagem, e sim um arquivo bruto de dados que, para ser utilizado, precisa antes ser convertido por um programa como o Lightroom ou o Adobe Camera RAW. Não dá pra comparar os dois em termos de tamanho ou qualidade por serem tipos diferentes, um de uma imagem processada e outro não.

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