A importância do equipamento e a Canon A620

Percebi que colocaram, no Digiforum, um link para o meu post A Importância do Equipamento na Fotografia, a fim de levantar um debate sobre o assunto. Antes de tudo, gostaria de agradecer pelo link, já que esse é o propósito desse site: levantar questões e servir como referência para debate.

Esse link foi colocado na sala de discussão das câmeras Canon A610 e A620. Essas câmeras são digitais compactas, câmeras pequenas, leves e que geralmente tem recursos limitados, como falta de controle de exposição. Dentro desse meio que valoriza mais o equipamento do que a fotografia, diz-se que ter uma câmera compacta é um fator limitador (em oposição a possuir uma Reflex digital, o Olimpo da fotografia tecnológica). Contudo, as Canon A610 ou 20 não carecem de recursos, como coloco mais adiante.

Como pode ser visto no texto original, eu defendo a idéia de que é possível fazer boas fotos com qualquer tipo de câmera, diminuindo a importância do equipamento. Além disso, posteriormente em outros textos, ainda abordei a questão do fato de cada câmera ter sua linguagem, e explorá-la completamente é algo que poucos fazem. De qualquer forma, fica clara que a idéia central pode ser entendida como sendo perfeitamente possível ser muito feliz com uma compactazinha.

Para minha surpresa, a maior parte dos donos dessas câmeras não concordaram com meu texto. Não costumo me importar com a discordância em relação àquilo que falo. Pelo contrário, acho que o questionamento é saudável e deve ser praticado e não me ofendo com isso de maneira nenhuma. O que me chamou a atenção foi a forma como foram colocado os contra-argumentos. Um forista disse que minha citação do Ralph Gibson, no fim do texto (dizendo que só precisa de uma câmera com uma lente de 50mm) foi infeliz, pois nem todos tem o mesmo “olhar apurado”, sendo portanto, necessário o equipamento. Eu, sinceramente, não entendo o que uma coisa tem a ver com a outra. A meu ver, se você não tem um olhar apurado, você deve treinar o seu olhar, então, não comprar outro equipamento que não ajudará em nesse aprimoramento.

Outra pessoa citou um texto que dizia que para fotos de pássaros era necessário, por exemplo, ter lentes de 500 ou 600mm. Percebi, então, que nesses casos, sempre se valoriza aquilo que não se pode fazer. Em vez de se pensar no que é possível, pensa-se: “se eu tivesse uma tele, poderia fazer tal foto”. Esse tipo de atitude é um prato cheio para os fabricantes, que exploram as necessidades e os desejos que as pessoas mesmas se impõem por acreditar que a grama do vizinho é sempre mais verde.

A Canon A620 tem 7 megapixels, uma lente equivalente a 35-104mm, modos automático, manual, prioridade de exposição, abertura, medição spot, central e evaluative, aberturas de diafragma que vão de F2.8 a F8, velocidades do obturador de 15s a 1/2500s. Ela é pequena, leve, silenciosa e discreta. Ela é capaz de tirar 95% das fotos que são possíveis de se fazer. No entanto, parece que há uma tendência a não se importar com esses 95%; em vez disso, economiza-se para pegar, no mínimo R$2000 para conseguir ter esses 5% restantes das possibilidades (que na verdade, abrirá um buraco de 30% de possibilidades fotográficas, mas isso é outro assunto).

Como exemplo, deixo a galeria de Arturo Fukuda, Images from Peru. As primeiras fotos, no fim da página, foram feitas com uma A620. Aparentemente, ele passou depois para uma Nikon D50. Só que as melhores fotos da galeria, que mostram as pessoas, foram feitas com a compacta. Será tão difícil perceber que as possibilidades e a qualidade da fotografia apenas tangenciam o equipamento?

Um comentário em “A importância do equipamento e a Canon A620”

  1. Caro Xará

    só pra dizer que concordo plenamente com as opiniões acima!!! Sempre é bom insistir nesse assunto de quem é que comanda os aparelhos… a gente sempre coloca a desculpa de nossa própria incompetência no equipamento.

    Só pra exemplificar, tenho como único equipamento uma Powershot A540 (após roubarem minha velha Nikon F3), e tenho feito com ela todas minhas fotos pessoais e artísticas (veja meu flickr aqui http://www.flickr.com/photos/ruriak/ )… inclusive acho que se possuísse um equipamento Pro e caro não teria feito nem metade dessas quase 2000 fotos; pois com essa maquineta portátil ando em qualquer lugar e não tenho medo de ser roubado e consigo ser muito mais discreto do que com um canhão cheio de recursos!

    Só para estender essa discussão em outros termos, recentemente descobri na net um software que se coloca no cartão de memória SD das PowerShots e assim passa-se a ter acesso à uma série de recursos (gravação em raw, scripts de detecção de movimento, longuíssimas exposições, etc, etc), que nem certas top de linha possuem. É o CHDK (Canon Hackers Developement Kit) http://chdk.wikia.com/wiki/CHDK que deu um fôlego novo para minha ‘obsoleta’ A540.

    Isso me faz lembrar o velho Flusser e sua filosofia da caixa preta (http://www.4shared.com/file/66430560/78e5e363/FILOSOFIA_DA_CAIXA_PRETA.html?dirPwdVerified=972ba27 ) (e por tabela o Arlindo Machado, que citas em outro post teu) que nos alerta de como somos condicionados pelos aparelhos (mas, como dizes também, são muitos poucos os que conseguem esgotar o programa) e de que ainda encaramos a fotografia com os olhos turvados de pré-conceitos e mentalidade de funcionários.

    Parabéns pelo ótimo site que vou guardar nos meus favoritos e ler atentamente.
    Abraços e não temas mesmo em expor tuas opiniões pois é afinal para isso mesmo que temos essa ferramenta maluca que é a Internet : mapa que reproduz a massa cinzenta global (e boçalidade também, infelizmente) !!!

    Rodrigo – primavera de 2008

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