Limitações à fotografia

Toda forma de criação tem suas especificidades e qualquer bom trabalho criativo envolve ultrapassar certas limitações, sejam elas circunstanciais ou inerentes ao instrumento utilizado. A fotografia tem três limitações fundamentais, na minha visão.

1. Só se pode fotografar aquilo que existe.
A essência da fotografia é mostrar aquilo que existe. Infelizmente, ela não pode mostrar o que não existe, como pode uma pintura, uma música ou um livro. Não se pode simplesmente transformar uma idéia numa foto. É preciso que o que foi imaginado aconteça, para que só então seja fotografado. Isso limita muito as possibilidades, ainda que possamos criar algumas cenas que imaginamos.

2. Só se pode fotografar aquilo com o que se tem contato.
Mesmo que você seja uma pessoa muito rica e passe a vida viajando pelo mundo, você provavelmente só conhecerá uma reduzida parcela dele. E o mundo é muito pequeno. Existem seis bilhões de pessoas no nosso planeta. Pode-se fotografar centenas, até milhares de pessoas em uma vida. Nada comparado à soma total. Mais uma redução de possibilidades.

3. Não se pode controlar a captura fotográfica.
Antes de fotografar, podemos fazer uma série de escolhas. Optamos por um filme, por um assunto, por um ângulo, um foco, uma abertura. Depois, escolhemos como revelar, como manipular, como ampliar. Mas naquele momento infinitesimal em que o obturador se abre, o fotógrafo é impotente, omisso. Ele só pode esperar a luz fazer seu trabalho e torcer para que ela colabore com o que ele tinha em mente.

Parece desanimador. Mas há maneiras de melhorar as nossas possibilidades. A primeira é perceber que não precisamos de muito para desenvolver um estilo, um significado. Não é preciso mais do que um objeto, uma pessoa, uma parede vazia ou um pedaço de céu. Não é preciso viajar, conhecer milhares de pessoas ou lugares.

A fotografia tem um poderoso aliado: o tempo. Com uma câmera, podemos fazer uma hora se dividir em centenas de momentos. Podemos eternizar um centésimo de segundo. Podemos estudar o tempo ou usá-lo em prol da nossa imaginação. Isso aumenta as possibilidades.

Na verdade, não é difícil driblar essas limitações. Basta perceber as inúmeras possibilidades que se tem em volta, mesmo sem viajar, sem conhecer milhões de pessoas, sem poder fotografar nada de outro mundo. É possível conciliar idéia e referente, fazendo sua imaginação trabalhar com a realidade, buscando o que já existe ou criando, na realidade, o que se busca. Depois, basta abrir o obturador e deixar a luz fazer seu trabalho.

Foto: Phillip Jackson

Postado originalmente no Multiply.

Um comentário em “Limitações à fotografia”

  1. Bel?ssimo texto amigo.
    Particularmente, estou lendo todos seus artigos aqui postados, tenho muito o que aprender com rela??o ? fotografia, digamos que me apaixonei pela arte de fotografar.
    Novamente, parab?ns pelos artigos, s?o ?timos.
    Abra?os!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *