Digipix se recusa a imprimir portfólio de Gal Oppido

A Digipix, empresa que atua no ramo da impressão fotográfica, com destaque para a produção de fotolivros, se recusou a imprimir 200 fotos do portfólio do fotógrafo Gal Oppido, por conta do conteúdo das imagens, que contém nus. A informação é da coluna de Monica Bergamo, da Folha de São Paulo:

Ditadura
Depois de ter exposto suas obras no MAM, no MIS, na Pinacoteca e no exterior, o fotógrafo Gal Oppido teve suas imagens -muitas delas com corpos nus- censuradas. O veto veio da Digipix, contratada para imprimir cerca de 200 fotos do artista em um livro-portfólio, que seria apresentado a galerias de Nova York. A empresa se recusou a entregar o trabalho por considerar as imagens de ‘conteúdo indevido’, que poderia ‘ser considerado ofensivo, pornográfico, obsceno (…) que venha a ferir a ética, a moral, os bons costumes’. E afirma que ‘não analisa as imagens com base em critérios artísticos’.

INQUISIÇÃO
Oppido, que teve de viajar sem seu portfólio impresso, avalia o ocorrido como ‘um evento com tons medievais, lembrando a malfadada aventura inquisitória’.”

Esse é um acontecimendo que causa estranheza por três motivos: primeiro, é curioso ver que uma empresa do ramo de impressão fotográfica, que passa por um momento de crise, se recusa a fazer um trabalho. Parece que a Digipix anda bem das pernas, provavelmente pelo sucesso dos fotolivros, que tem garantido a sobrevida desse setor. Não sei até que ponto existe algo na legislação que obriga a empresa a atender o cliente, mas essa é uma questão menor. O segundo motivo de estranheza é a seleção prévia pela qual passam os trabalhos enviados à empresa, no qual aparentemente se verifica se o conteúdo do fotolivro é condizente com os padrões morais da Digipix. É uma situação no mínimo desconfortável, para um fotógrafo, ter que submeter o seu trabalho a um crivo que dirá se ele é digno ou não de virar um fotolivro. O terceiro motivo é a afirmação de que a Digipix “não analisa as imagens com base em critérios artísticos”. Ora, a fotografia é uma arte, e para se trabalhar com arte é preciso ter sensibilidade suficiente para entendê-la, em vez de julgá-la. E isso porque estamos falando do trabalho consagrado de um fotógrafo de renome. Essa sensibilidade significa entender também que a imposição de padrões morais é incompatível com produção artística — e isso deveria ser sabido especialmente por quem lucra com ela.

Felizmente, existe a concorrência. Vamos esperar que outras empresas que trabalham com fotografia a tratem com o devido respeito.

Atualização (15/1/09): resposta da Digipix publicada no Portal Photos

“Sobre a nota “Ditadura” (Mônica Bergamo, Ilustrada, 9/1), a Digipix esclarece que se dá o direito de não produzir material que possa ser considerado pornográfico, como claramente descreve o termo de uso com o qual todos os clientes são obrigados a concordar antes de contratar seus serviços. Para isso, são adotados critérios objetivos, um dos quais prevê a não produção de imagens com genitais expostos. A Digipix não analisa as imagens com base em critérios artísticos, função que não lhe cabe, e não se trata de censura, já que não fica impedida a exposição ou a produção por terceiros de tais imagens. Por operar on-line, a Digipix adota antecipadamente critérios claros de atuação e só tem acesso ao conteúdo dos materiais após eles serem processados. Ao contratar o serviço, a representante de Gal Oppido, Kátia Kuwabara, manifestou-se ciente e concordou explicitamente com o termo de uso da empresa, que apenas o fez valer.”

Atualização (16/1/09): depoimento de Ignácio Aronovich (do Lost Art) no BrFoto:

“Postei uma mensagem na lista Fototech em 09/01 reproduzindo a nota na coluna da Monica Bergamo sobre o caso do Gal, que não pode imprimir o seu livro na Digipix.

Na semana seguinte li inúmeras mensagens e posts em listas e foruns de pessoas manifestando-se sobre o assunto.

O que mais me chamou a atenção é que *ninguem* ligou para a Digipix para ouvir o lado deles da história.

Liguei e conversei hoje com a Sandra Bizutti (11_ 3612-5730), da area comercial da Digipix.

Ela me explicou que:

-o pedido do Gal entrou dia 24/12, com prazo apertadissimo e não foi feito por ele, mas por uma assistente dele (livro Super A3)

-o livro foi barrado na produção, por conter genitália visível, o que vai contra os termos de uso da política da empresa.

Como o livro não ficou pronto, e não há havia prazo hábil para produzir outro, o Gal foi prejudicado.

De acordo com a Sandra, não há nada de subjetivo na política da Digipix: se genitália aparece, o livro não será impresso.

Perguntei se eu poderia publicar um fotolivro com fotos minhas de Florença, onde aparece uma imagem da escultura de Davi, de Michelangelo, onde genitália está visível. A Sandra alegou que eu estava comparando “alhos com bugalhos” e que trata-se da genitália humana, mas que a foto da escultura poderia ser impressa em fotolivro.

Sandra explicou, “arte tem nu, é natural, nada esta sendo questionado, o problema é pessoa juridica é uma opção da Digipix não aceitar publicar imagens de genitália visível, mas pode passar, se tiver uma ou duas fotos no meio, é possível que passe.”

Perguntei se eu poderia publicar um fotolivro com o trabalho “Second Skin” da minha esposa, Louise Chin, que fotografou modelos nuas em estudio e depois convidou 33 artistas para pintarem prints de seus corpos nus. Em algumas fotos os artistas cobriram parcialmente a genitália, em outros não, mas trata-se de um trabalho claramente não pornográfico e que foi exposto em galerias (SP e Italia) sem qualquer tipo de restrição de idade/acesso.

http://www.lost.art.br/2ndskin.htm

Sandra explicou que “se for algo coberto, que nao apareca, tudo bem”, perguntei se havia como consultar, a Digipix ANTES de entrar com os arquivos, e ela disse que “nunca alguem fez esse questionamento. é passivel de ser barrado, depende do conteúdo”.

Perguntei se ela poderia receber imagens para avaliação ANTES do pedido, para ver o livro seria aceito ou não, e ela me explicou que poderia verificar caso a caso se houvesse alguma dúvida, para evitar os problemas de prazo que ocorreram com o Gal.

Perguntei se ela poderia me indicar outro lugar para imprimir fotolivros com nudez/genitália visível e ela não soube me indicar.

A Sandra explicou que os termos de uso são claros, quem envia material aceita os termos, e que não entende porque tanta polêmica, que “seria como ir a um restaurante vegetariano e pedir carne, a regra é clara e vale para todos.” “Tem agencia que nao faz publicidade de cigarro e nao vai fazer e pronto, é a postura da empresa.”

Perguntei sobre a postura da Digipix em relação a quem usa MAC. A Sandra disse que em reuniões com fotógrafos sempre “é trucidada por não ter versão para MAC.”

Explicou que ainda estão tentando aperfeiçoar e melhorara o sistema para PC, que se existe um plano para atender quem usa MAC é para longo prazo, e que todo mundo que usa MAC consegue enviar os arquivos via PC. Perguntei se haviam instruções para quem usa MAC no site da Digipix e ela me disse que não.

Perguntei se havia algo no site explicando o ocorrido com o Gal e ela me disse que não, mas que existe uma resposta enviada via e-mail para o Gal e para a Folha de S. Paulo.

Sandra concluiu dizendo que “nao acho que um fato pontual possa manchar que fizemos em 5 anos.”

A descrição acima não é nada “oficial”, trata-se apenas de um relato meu após ver pessoas manifestarem-se há dias sobre algo ocorrido sem dar-se ao trabalho de checar a fonte.

Tentei falar com o Gal mas não consegui (acho que esta em NY), mas a versão dele (e-mail) já está disponível em inúmeras listas e foruns.

Da minha parte, NUNCA usei serviços da Digipix, porque uso MAC. Costumamos trabalhar com produtores gráficos que utilizamos regularmente para as nossas necessidade de impressão.

Se tiver alguma dúvida adicional, sugiro ligar para a Sandra.

abrazos,

ig”

Atualização: 21/1/09 – Resposta do Gal Oppido ao e-mail da Digipix

UM CIDADÃO INDEVIDO

É exatamente como me sinto, após a interdição de meu acesso a produto intelectual gráfico de minha autoria, portanto de minha responsabilidade, já pago e impresso pela empresa Digipix.
Desde as minhas primeiras experiências ligadas à expressão por imagens, através de desenhos e/ou fotografias, sempre foi claro que estas ferramentas me possibilitariam discutir inquietações latentes que poderiam ser socializadas no sentido de fornecer mais critérios de análise, e deste modo me instrumentalizando mais para a prática da vida.
O corpo nu para mim funciona como uma folha em branco, pois cada traço que pousa nesta folha instantaneamente ganha significado, o mesmo acontece com o corpo na sua solidão cósmica e material, quando a ele se agrega vestes, intervenções cirúrgicas, a força da gravidade e outros acessórios instalados mediante um número infinito de ações e imposições; sejam elas de ordem moral, religiosa, de proteção orgânica, de ostentação de valor e poder, etc.
O corpo revela a história de sua humanidade.
Estes ensaios ora censurados, alguns deles, fazem parte da Coleção MASP- Pirelli, dos acervos do MAM e do MIS, foram expostos na França, Holanda, Alemanha, Portugal, Angola, Cuba e Colômbia representando o Brasil em mostras coletivas, mereceram o Prêmio APCA de Melhor Fotografia em 1991, participaram de publicações internacionais sobre fotografia Latino-Americana, foram motivo de palestras em universidades, fundações de ensino e espaços culturais, são expostos por TV educativas e foram objeto no último dia 06 de dezembro de 2008, de palestra e material didático para professores de arte da rede pública estadual.
Sou professor na área de artes visuais desde março de 1973 e há oito anos ministro curso de linguagem e conteúdo em fotografia no MAM; neste último semestre decidimos documentar os trabalhos desenvolvidos em formato de livro impresso similar ao produto da empresa acima citada.
Meus alunos compartilharam imediatamente da idéia sugerida pelo mesmo motivo que me levou a encadernar os meus primeiros desenhos: possibilitar desta forma dividir coletivamente as experiências desenvolvidas.
O livro pós-barrado e que há três meses estamos preparando sua edição foi o suporte escolhido para expor meu trabalho junto a galerias da cidade de Nova York.
O material foi enviado dia 23 de dezembro de 2008 com garantia de entrega dentro do prazo, até dia 2 de dezembro de 2008.
Fui comunicado da censura e intenção da destruição do mesmo na tarde do dia 30 de dezembro de 2008 pelo fornecedor, impossilitando assim de dar prosseguimento ao meu projeto, uma vez que viajo hoje dia 3 de janeiro de 2009.
Fica a questão:
Jerôme Bosch, Leonardo da Vinci, Pablo Picasso, Gustav Klimt, Egon Schiele, Jeff Koons, Robert Mapplethorpe e meus alunos teriam livros impressos pela Digipix?
É possível uma empresa que lida com imagens ter conhecimento tão limitado a respeito do universo a qual está inserida? Pois no momento em que ela julga e condena, presume-se que hajam critérios elementares sobre o objeto e autor em questão. Afinal para tal decisão seria plausível um mínimo de ponderação e consulta pois me atinge moral e profissionalmente.”
Gal Oppido

25 comentários em “Digipix se recusa a imprimir portfólio de Gal Oppido”

  1. Quase R$1000/livro… eles devem achar que é arte, sim. Mas dizem que dá pra mandar fazer nos EUA, onde, com frete, imposto de importação e isento de bisbilhotagem sai mais profissional (ôps, quis dizer mais barato!).

  2. Achei os termos Ditadura e Inquisição um pouco exagerado pelo ocorrido. Não ci porque tanta repercusão de uma empresa não aceitar um trabalho, por mais de renome que fosse.
    Fiquei imaginando se um fotografo que tenha alguns valores religiosos, que só faz fotos de casamento, fosse contratado para fazer fotos de Nu artistico, será que ele aceitaria ??? e nem por isso ele se tornaria alguem que nao gostasse de arte, ou tivesse um crivo ditador ou inquisidor.
    Se os donos da Digipix tiveres esses valores religiosos também porque eles são obrigados a aceitar ???
    Lembro quando a banda Midnight Oil veio para o brasil ela tbm se recusou em ter o patrocinio de Cigarro ou bebidas, isso pelo valor moral deles, e nem por isso também ninguem os chamou de Ditador ou Inquisidor….

    Mas é sempre o ponto de vista de cada um ….

    1. Claudio, concordo. Também acho exagero. Se essa moda pega vai faltar jornal para publicar toda reclamação de empresa que tem politica interna de oferecer ou não um serviço ou produto.
      Eu prefiro Coca-Cola. Fui numa pizzaria famosa que só aceita vender Pepsi. Posso também ter a mídia me defendendo contra essa “Ditadura”?
      E vejo que quem contratou o serviço não conhece o correio brasileiro. Afinal tinha um prazo de entrega para dia 2 e viagem marcada para o dia 3? Nem Sedex 10 tem entrega confiável… não me faltam registros de rastreamento com falhas e atrasos dos correios para provar (e isso só das minhas remessas enviadas e recebidas). Parece-me irresponsável contratar algo para entrega 1 dia antes de viajar com o material (cadê a margem de segurança?).
      E, como cliente da Digipix, sei que de fato ela tem termos a serem aceitos e que no fechamento do pedido tem a advertência de que o pedido está sujeito aos termos… Não ler os termos com os quais concordamos embora um erro comum, não deixa de ser um erro.
      Enfim, tudo que envolve nudez sempre está sujeito restrições (seja de idade dos visitantes em uma exposição, da postagem em rede social, da hospedagem de um site com o material ou, como vimos, da produção de um fotolivro).
      Mas fiquei com uma dúvida. Porque tão renomado profissional, com tão artístico material não teve seu livro publicado por uma editora convencional? Por que usar a Digipix que tem o foco em unidades avulsas de “álbuns de fotos”? Quantidade de material comercializável normalmente é produzido em editoras que além de imprimir fazem a distribuição e mesmo divulgação do produto.
      Não discordo que possa ser arte. Mas ser arte não isenta obriga a ser aprovado, admirado ou produzido. Pela nossa legislação, ninguém pode ser obrigado a nada senão em função da lei… e espero que não façam uma lei a obrigar empresas a produzirem algo contra seus princípios (ainda que errados), senão estaremos vivendo uma “ditadura artística”.

  3. Claudio,

    Seu ponto de vista é totalmente válido e coerente. É difícil estabelecer os limites nesse campo porque envolve três áreas: mercado, valores e arte. Cada um tem regras próprias e a interação entre eles geralmente não é suave.

  4. Fui aluno do Gal Oppido e sou fotógrafo profissional. Estou com o mesmo problema em mãos, gastei aproximadamente R$ 5.000,00 em um ensaio de nu artístico, além disso, junto com o meu pedido foram pedido mais 2 outros livros com outros tipos de trabalho, venho a mais de uma mês tentando receber esses dois trabalhos e não consigo nem ao menos produzí-los!!! Estou sendo ameaçado judicialmente pelos meus clientes e nada!!
    Definitivamente, além de terem normas arcaicas não cumprem prazos (e esse não é o primeiro atrazo ou problema de impressão que tive com eles! Cheguei a receber 6 cópias de livros impressos errados).
    Depois desse episódio, andei pesquisando sobre problemas de usuários com a Digipix e para meu espanto, não é só o público profissional que tem problemas com eles também!
    Definitivamente, ainda terei alguns problemas com eles pois, por contrato, tenho alguns trabalhos para entregar no formato oferecido (mas não bem realizado pela Digipix) depois disso, nunca mais!
    Fernando Siqueira

  5. Em um primeiro instante fiquei chocado com essa estória. Mas avaliando bem, não há razões para tanto alarde. Não estou defendendo a Digipix, honestamente quero de eles vão para inferno. Mas não se trata de censura.

    Assim como qualquer site ou serviço online de publicação, existem questôes legais a serem verificadas. Não sou jurista, mas o empresa que presta o serviço tenta em seu contrato cobrir qualquer possibilidade de ser eventualmente ser acionada juridamente por alguma coisa que tenha impresso. Se entrarmos no site http://www.blurb.com essas condições são delineadas na pagima de termos e politicas. Não precisa ser nenhum advogado especializado para entender o que a empresa tenta se proteger legalmente, embora existam lacunas.

    A Digipix não publica esses termos claramente – burrada número um. Eles dizem que existe um contrato onde é especificado o que pode ou não pode. Nu frontal autorizado não pode. Mas como o Fernando Siqueira postou acima, bunda provavelmente pode. Ou seja dois pesos duas medidas. Burrada numero dois. Ou é tudo ou nada, uma empresa séria não pode se dar ao luxo de ficar no meio termo querendo abocanhar o mercado ao mesmo tempo tentando se proteger.

    É só um caso do entendimento legal. Quanto ao Gal Opido, aposto que em duas ligações por telefone ele consegue quem imprima isso em Nova Iorque sem as mesmas preocupações a um custo muito menor.

    Um abraço

    1. Eduardo, também não sou jurista, mas em relação a bunda acho que tenha a explicação.
      Pelo que lembro (estudei o tema a uns 20 anos atrás) a lei trata realmente bunda como não sendo nudez. Por exemplo, mostrar a bunda não seria atentado ao pudor por não tratar-se de genitália (por isso não pode-se prender as mulheres de fio dental na praia ou mesmo mostrando os seios em manifestações). Assim como sexo não consentido que não envolva a genitália não pode ser classificado como estupro (teria outra definição).
      Então acho que tratar com diferença nú frontal segue essa linha legal e não vira uma incoerência ou fragilidade dos termos (um jurista conseguiria fundamentar o mesmo muito melhor que eu e justificar a diferença).
      E concordo contigo. Já que seguia para NY, podia já ter impresso lá, com qualidade e preço mais interessantes. melhor que brigar ou tentar contraria os termos (que também nunca leio antes de aceitar) da empresa brasileira.

  6. O trabalho de Gal Oppido já foi pras paredes (em espaços culturais civilizados, morais e éticos) e seu conteúdo não é ilegal, portanto não há nada lá que ensejaria demandas judiciais contra quem faria um serviço derivado como a impressão para um porfolio pessoal.
    Pra mim está mais do que claro que:
    1º O cliente foi prejudicado moral (com ilações descabidas sobre a sua moral) e patrimonialmente (danos emergentes e lucros cessantes) ; Aposto que ele vai deixar passar.
    2º A empresa fez sim, não sei com que expertise, avaliação artística (com ou sem aspas): modelo profissional não pode, escultura em mármore de 5 metros sim.
    Vou me ater ao 2º ponto: Um dos princípios mais elementares de todas as constituições e —em especial— a normas éticas mais antigas dos laboratórios fotográficos (desde imemoriais tempos analógicos) é o direito à privacidade. Apesar do termo ‘aquário’, ninguém olhava o seu negativo (em público), e suas cópias eram entregues no envelope lacrado. De onde saiu esse novo auto-proclamado direito ao desfrute desavergonhado (não quero nem cogitar o porquê de tanto interesse…) do trabalho alheio? Ninguém paga gráfica pra pensar nadinha além do necessário e muito menos pra sentir pudores, arquivos bem feitos são enviados fechados (em linguagem PosScript) para, entre outros motivos, evitar dores de cabeça técnicas. Até agora ninguém supunha que estavam em jogo questões morais também.

  7. Fernando Aznar, como mencionei, a falha deles é não deixar o politica de empresa clara e ficar tentar ficar em cima do muro: se for um peruzinho bonito, não há problemas.

    Daí é segunda burrada que mencionei, passa-se a advogar em favor do pode ou não ser considerado contrualmente aceitável. Em função de uma clausula de contrato, passa-se a julgar o conteudo.

    Aí pouco importa se o trabalho do Gal Opido circulou pelas paredes mais moralistas, nesse aspecto, frente aos olhos deles não é aceitável.

    O problema é isso tem sido colocado por aí é que empresa tem sido colocada com advogada de moral e bons costumes, e que a seguir colocará uma estrela amarela em trabalhos julgados como inadequados.

    Numa visão macro, essa falha, como você menciona propriamente, de fato houve esse julgamento moral. Mas para mim, trata-se de um erro na aplicação de uma clausula contratual feita por gente de competencia duvidosa.

    Questiono a competencia deles, por que uma empresa séria não cairia nessa armadilha. Reforço, não estou defendendo a referida empresa. Não uso e pelo visto nunca usarei dos serviços deles.

  8. Apesar de entender que Digipix é uma EMPRESA e como tal se rege por patrões comerciais, e que comercialmente tem o direito de avaliar qual trabalho lhe renderá frutos extra econômicos e qual não -como por exemplo uma ampla difusão de sua marca-, fica claro que neste caso Digipix extravasa sua razão comercial para localizar-se no plano de censor moral.
    Neste sentido encontro muito acertada a apreciação do Fernando Aznar de que o cliente foi prejudicado com ilações descabidas sobre a sua moral. E isto é o mais preocupam-se neste caso.
    Que Digipix se reserve o “direito de admissão”, como o fazem diversos restaurantes e centros noturnos é uma coisa e que se adjudique o papel de juiz sobre a moralidade de um fotógrafo, apoiando-se no estilo ou tema de sua obra, é outra muito distinta.
    Evidentemente Gal Oppido foi prejudicado, comercial e moralmente. Sendo objetivos, talvez o maior dano seja comercial, pois a submissão moral que Digipix faz da obra do Gal não passará de ser visto como um extravasamento ético, ou como a manifestação de uma absurda postura moral, que produzirá um efeito bumerangue, quer dizer, voltará-se contra a própria Digipix.
    Ao fim e ao cabo, depois disto, quantos fotógrafos profissionais que trabalhem com nu recorrerão ao Digipix para imprimir seu portfólio?

  9. Holas

    Bem, após o episódio ocorrido, tivemos que solucionar de forma urgente o livro do Gal.

    O Blurb acabou de entregar neste final de semana exatamente o mesmo conteúdo “indevido” impresso em 4 dias úteis, direto em NY.

    O termo de uso deles? Semelhante.

    Além disso, disponibilizam automaticamente um preview para venda em sua bookstore:
    http://www.blurb.com/books/536723

    Abaixo, o texto-resposta do Gal na época do ocorrido:

    “Sobre e-mail enviado por Sandra Bizutti – Digipix
    para Gal Oppido por Conteúdo Indevido

    UM CIDADÃO INDEVIDO

    É exatamente como me sinto, após a interdição de meu acesso a produto intelectual gráfico de minha autoria, portanto de minha responsabilidade, já pago e impresso pela empresa Digipix.
    Desde as minhas primeiras experiências ligadas à expressão por imagens, através de desenhos e/ou fotografias, sempre foi claro que estas ferramentas me possibilitariam discutir inquietações latentes que poderiam ser socializadas no sentido de fornecer mais critérios de análise, e deste modo me instrumentalizando mais para a prática da vida.
    O corpo nu para mim funciona como uma folha em branco, pois cada traço que pousa nesta folha instantaneamente ganha significado, o mesmo acontece com o corpo na sua solidão cósmica e material, quando a ele se agrega vestes, intervenções cirúrgicas, a força da gravidade e outros acessórios instalados mediante um número infinito de ações e imposições; sejam elas de ordem moral, religiosa, de proteção orgânica, de ostentação de valor e poder, etc.
    O corpo revela a história de sua humanidade.
    Estes ensaios ora censurados, alguns deles, fazem parte da Coleção MASP- Pirelli, dos acervos do MAM e do MIS, foram expostos na França, Holanda, Alemanha, Portugal, Angola, Cuba e Colômbia representando o Brasil em mostras coletivas, mereceram o Prêmio APCA de Melhor Fotografia em 1991, participaram de publicações internacionais sobre fotografia Latino-Americana, foram motivo de palestras em universidades, fundações de ensino e espaços culturais, são expostos por TV educativas e foram objeto no último dia 06 de dezembro de 2008, de palestra e material didático para professores de arte da rede pública estadual.
    Sou professor na área de artes visuais desde março de 1973 e há oito anos ministro curso de linguagem e conteúdo em fotografia no MAM; neste último semestre decidimos documentar os trabalhos desenvolvidos em formato de livro impresso similar ao produto da empresa acima citada.
    Meus alunos compartilharam imediatamente da idéia sugerida pelo mesmo motivo que me levou a encadernar os meus primeiros desenhos: possibilitar desta forma dividir coletivamente as experiências desenvolvidas.
    O livro pós-barrado e que há três meses estamos preparando sua edição foi o suporte escolhido para expor meu trabalho junto a galerias da cidade de Nova York.
    O material foi enviado dia 23 de dezembro de 2008 com garantia de entrega dentro do prazo, até dia 2 de dezembro de 2008.
    Fui comunicado da censura e intenção da destruição do mesmo na tarde do dia 30 de dezembro de 2008 pelo fornecedor, impossilitando assim de dar prosseguimento ao meu projeto, uma vez que viajo hoje dia 3 de janeiro de 2009.
    Fica a questão:
    Jerôme Bosch, Leonardo da Vinci, Pablo Picasso, Gustav Klimt, Egon Schiele, Jeff Koons, Robert Mapplethorpe e meus alunos teriam livros impressos pela Digipix?
    É possível uma empresa que lida com imagens ter conhecimento tão limitado a respeito do universo a qual está inserida? Pois no momento em que ela julga e condena, presume-se que hajam critérios elementares sobre o objeto e autor em questão. Afinal para tal decisão seria plausível um mínimo de ponderação e consulta pois me atinge moral e profissionalmente.”
    Gal Oppido

    Abraços a todos,
    Katia Kuwabara

  10. Parace que estamos na época da ditadura isso é simplesmente ridiculo em épocas de democracia mas foi valido o alerta pois assim vou verificar melhor para quem irei dar meus trabalhos para a confecção pois se fazem isso com pessoas conhecidas o que dira com as outras como exemplo do ridiculo cito que um medico então não pode fotografar genitalia com cancer por exemplo para mostrar aos alunos o desenvolvimento de tal doença ridiculo mas já que é norma da empresa melhor trabalharmos com outra empresa pois basta de ser humilhado neste pais

  11. Não sei porque esta discussão toda.
    Com tantas opções para impressão de livros no Brasil,
    o trabalho pode facilmente ser feito em outros locais.

  12. Cheguei meio atrasado nesse discussão, mas vou opinar. Acho que o Gal Oppido cometeu apenas um erro nesta história toda: ele achou que estava mandando suas fotos para um laboratório de fine art. A Digipix não é laboratório de fine art, o negócio deles é fotolivro e fotoproduto. Eles querem imprimir fotografia de criancinha e de casamento em albinhos bonitinhos com decoração Disney. Daí o moralismo. Não quero defender ninguém nesta história, mas acho que o Gal tentou pedir filé mignon no McDonald’s.

    Quanto à Digipix, já enviei algumas fotos para lá e tive boas e más impressões. Eles são bons para fotos domésticas ou para fotos onde a exigência do cliente não é das mais elevadas, mas para um portfólio, prefiro procurar um lugar mais sério. Não vou crucificá-los dizendo que fizeram censura, não chega a tanto, acho apenas que eles têm regras engessadas (pode ser que tenham sido criadas para evitar a impressão de pornografia ou pedofilia, sei lá) que não permitem distiguir o que é arte e o que é baixaria.

    No Brasil, são poucos os locais que fazem o serviço que o Gal precisa. O melhor seria procurar uma gráfica que faça fine art, ir até o local pessoalmente, conversar com os responsáveis pela gráfica, ver o equipamento que será usado e tomar as rédeas do processo de impressão das fotos. Uma conversa franca, do tipo “olho no olho” evitaria essa confusão toda.

  13. Um tanto exagerada essa repercussão.
    No lugar da Digipix eu imprimiria pelo valor artístico, mas cada um tem suas regras e, mesmo que medievais, precisam ser respeitadas.

  14. enviei um livro recente a eles e me enviaram um texto gigante falando que não imprimem genitalias e pelos pubianos, sendo que eu ja imprimi muitos peitos e pelos pubianos, acontece que a genitalia era de uma transsexual, e é claro que o preconceito foi maior ainda, as fotos podiam estar belas, sensuais e artisticas, nada pornográfico, mas apareceu a genitália eles ja vao te classificar como pornografia, empresa escrota, parece que é de evangélicos da idade média. melhorem!

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