Fotografia Conceitual

Ao contrário de outras artes visuais, a fotografia não é construída integralmente e a partir do zero por uma pessoa. A construção existe na seleção do assunto, na forma de operar a câmera e em detalhes como o enquadramento e a manipulação posterior da imagem. As fotos sempre tem um início naquilo que estava na frente da câmera.

É difícil dizer que uma fotografia expressa um conceito maior do que a mera existência do que foi fotografado a menos que o autor o tenha trabalhado na foto — ou, inconscientemente, tenha fotografado uma cena que expressa uma determinada idéia. Este trabalho pode ser realizado através da construção fotográfica convencional, baseando-se em uma cena “real” e atuando através do enquadramento, do corte etc. para realçar uma determinada impressão ou através da manipulação deliberada do que está na frente da máquina.

Quando Phillipe Halsman fotografou Salvador Dali, toda a cena foi trabalhada a fim de que o surrealismo dos trabalhos do pintor estivesse conceitualmente presente na imagem. É uma fotografia surrealista, mas antes de mais nada conceitual, pois o que se sobressai não é a estética, o registro ou outro aspecto (embora esses também estejam presentes), mas sim o conceito do surrealismo.

Salvador Dali
Phillipe Halsman

O que pode ser dito é que toda fotografia tem ao menos um significado: de que aquilo, em algum momento, existiu e foi visto daquela forma pela câmera. Novas camadas de representação podem ser adicionadas de acordo com o valor simbólico da cena. Na fotografia conceitual, o significado é a camada mais aparente, e o conceito é trabalhado antes da foto, através de preparação em estúdio ou após via manipulação por software ou laboratório. Algumas vezes, o resultado até se afasta da fotografia “pura”; vale tudo pela idéia.

Alguns fotógrafos do Flickr vem apresentando alguns bons exemplos de trabalhos conceituais. A seguir há alguns exemplos selecionados.

Broken Heart
Gabriela Camerotti

Ralph Gibson
Ralph Gibson

Right Down the Line
ConfusedVision


aPhasia
Esther_G

A fotografia conceitual é uma das modalidades que mais se aproxima da arte, especialmente quando trazem jogos estéticos interessantes. Ao serem feitas principalmente para expressão de idéias, impressões e sentimentos do autor, elas abrem uma imensa porta de possibilidades para os que buscam maneiras de dizer aquilo que não pode ser descrito através de palavras.

24 comentários em “Fotografia Conceitual”

  1. Muito bons os exemplos, todos bem produzidos, visualmente atraentes e contendo uma mensagem. Acho que existe o ‘bom conceitual’ e o ‘mau conceitual’, sendo este último o que não contém qualquer traço de criatividade ou estética e deixa tudo por conta do espectador.

  2. Puxa, Rodrigo, não sei se vou conseguir achar um exemplo na rede disso que estou falando, mas imagino por exemplo coisas como uma foto totalmente em branco ou com apenas um risco no meio (sem muito impacto visual, um risco, simplesmente), ou com um ponto preto no meio do quadro, e pra piorar, sem título. Coisas que podem ser qualquer coisa a partir do momento que são rotuladas de conceituais.
    Vou ver se acho algo e volto mais tarde… :o)

  3. Não tem a ver com o artigo, mas há um problema na visualização dos comentário aqui no IE6 com WinXP SP2: a quarta linha aparece cortada e as linhas seguintes nem aparecem.

  4. De qualquer maneira acaba-se caindo invariavelmente naquela questão do contexto, que estamos sempre discutindo… Esse último exemplo aí, estive pesquisando há pouco, é de um autor bastante famoso e até mesmo considerado um dos precursores do Minimalismo. O título PostWar tem tudo a ver com o vermelho escolhido e o ‘rasgo’. Enfim, reconheço que a coisa não é tão simples…

  5. Lilian,

    É muito complicado julgar esse tipo de produção sem levar em conta o momento histórico, as obras do autor e os aspectos de comunicação e valorização das obras, que são particulares na arte contemporânea. Geralmente, não é apenas a obra em si que determina o seu alcance. Esses valores podem ser questionáveis, mas é preciso olhar a coisa como um todo para não correr o risco de ser superficial.

  6. Rodrigo:
    Esta armadilha de pedir pra descrever em palavras uma imagem-chave para um preconceito genérico (que por sí só é um disparate) fez a Lilian buscar uma das obras-chave da arte moderna, representada naquele conceito proposto por Fontana: ele é um marco da arte ocidental, que nem vou ter a pretensão de falar aqui. Outro cara que fez escola seria o 1º exemplo da obra que foi por alto “descrita”, a foto totalmente em branco existiu de fato, e é uma obra-manifesto suprematista perpetrada pelo grande Severino Malevitch em 1918.

  7. Preconceito genérico e justificado, diga-se de passagem. Uma tela em branco é uma tela em branco e uma tela vermelha com um rasgo no meio também é só isso, fora de seu contexto. E normalmente o contexto das obras costuma ficar restrito (inclusive há pessoas que acham absurdo ter que ‘explicar’ uma obra-de-arte conceitual, como se coubesse ao leitor arranjar-lhe uma justificativa imaginativa). Como estávamos discutindo no fórum, a menor parte de uma arte desse tipo está inscrito na obra em si. Olhando de forma ampla, no entanto, trata-se de uma enorme revolução.

  8. Fala Rodrigo, tudo beleza? Estava navegando e por acaso encontrei esse portal. Bela coincidência! Gostei do artigo. E como já nos conhecemos do Brfoto, imagino que já saiba o que penso sobre o assunto em questão.

    Abs.

  9. Olá! Gostei muito desta página, porque ela está me auxiliando em muito na monografia em Fotografia Conceitual.
    Bom! Talvez vocês gostariam de ver um fotógrafo surrealista, mas suas fotografias se assemelham em muito no contexto conceitual.(Phillipe Halsman) Ah! mais um detalhe ele não tinha auxilio digital na época, dão uma olhada.

  10. Desculpe-me mandei a mensagem errada.
    Agradeço pelo artigo e gostei muito dele, porque ele me auxiliou muito na minha mono. Amei a fotografia de Phillipe Halsman estou usando suas obras para referência e também tentarei fazer algumas usando o método dele, mas como teste, depois penso em colocar no orkut.
    Explicando a mensagem anterior era para colocar junto das fotografias que estou fazendo, mas acabei colocando aqui.

  11. Rodrigo.

    A fotografia conceitual não é a que mais se aproxima da arte… é a que mais se aproxima da ILUSTRAÇÃO.

    A fotografia conceitual é a ilustração de uma idéia através da fotografia. Isso é mais aparentado com publicidade do que com arte. Particularmente, não me comove. A fotografia do Phillipe Halsman seria feita hoje em dia com o Photoshop, não precisaria mais repetir duzentas vezes, porém é preciso dizer que o trabalho de um bom fotógrafo é sempre bom, e é uma boa fotografia. Mas, insisto nisso. Fotografia é uma prática que tem possibilidades únicas, e é tão mais fotografia quanto mais seja feita para desenvolver essas possibilidades, e tão menos fotografia quanto mais seja feita para cumprir metas que são metas de mera ilustração, cumpríveis de infinitas outras maneiras.

    O núcleo da fotografia não é o conceito, mas o referente. É quando o fotógrafo coloca-se em estado de adoração do mundo, da existência, que ele abre mão de “criar no lugar de Deus” e pura e simplesmente busca uma atenção Zen para fazer do mundo seu tema, é nesse estado que está mais próximo da fotografia em seu mistério e essência.

    Menos é mais. Ninguém pode criar algo tão maravilhoso quanto o mundo. Todo conceito é tolo diante do mundo. A fotografia conceitual, desculpe-me a franqueza, é tola. A fotografia como prática nos oferece um “caminho da atenção perfeita”, e não vale a pena desprezar esse caminho em troca de pueris jogos semânticos altamente codificados.

  12. O núcleo da fotografia não é o conceito, mas o referente. É quando o fotógrafo coloca-se em estado de adoração do mundo, da existência, que ele abre mão de “criar no lugar de Deus” e pura e simplesmente busca uma atenção Zen para fazer do mundo seu tema, é nesse estado que está mais próximo da fotografia em seu mistério e essência.

    Ivan,

    Esse trecho mostra o quanto você se refere à fotografia apenas como uma práxis e, além disso, uma práxis exclusivamente sua, própria. A fotografia não serve apenas para a indução a um estado mental ou ao aperfeiçoamento dos sentidos. Serve, também, à expressão. Você tem radicalizado nos últimos tempos por acreditar que a definição que encontrou do que é fotografia é suficiente. Mas não é, é frágil como qualquer conceito, como você mesmo diz.

  13. Rodrigo… esta foto da mulher segurando o coração que ilustra seu artigo… isto é o caminho? Isto é UM caminho? Esta foto da mão-marionete ao piano… Isto é o caminho? Isto é UM caminho que seja?

    Tudo é muito bacaninha, mas não é mais que publicidade sem cliente. Mensagens diretas, se simbologia dura. O mesmo jogo jogado na publicidade.

    Não tenho radicalizado não, a atitude do fotógrafo não sou apenas eu quem a diz, mas você já a leu dita por muita gente melhor que eu, o Dann, o Bresson, o Capa, etc. E já observou inúmeros outros onde sem dizer é evidente a adoração ao mundo, como o Adams. Evidentemente, não é pelo fato de der sido dito por tantos, ou praticando por tantos, que é verdade, mas pelo menos não é, como dito por você, algo tão pessoal e próprio.

    E, sinceramente, prefiro a linha dos citados do que a mulher com o coraçãozinho.

    Toda fotografia tem um conceito, é claro, mas a fotografia que se resume ao conceito não é fotografia, mas uma ilustração feita com a câmera.

  14. Ivan,

    A fotografia tem muitos caminhos. Também acho que certos caminhos são mais relevantes, mais substanciais do que outros. Mas nem por isso me permito retirar dos caminhos que dentro do meu ponto de vista são menores, a qualidade de fotografia.

    Você tem cada vez mais restringido o conceito de fotografia àquilo que você faz. Eu ainda não consigo ser tão categórico no desmerecimento das opções alheias a ponto de dizer que isso ou aquilo não é válido, que é o que você está tentando dizer. É uma pena, porque aquilo que poderia ser uma conceituação sensata corre o risco de se tornar uma argumentação egocêntrica.

  15. Rodrigo, meu amigo; Pela segunda vez você ao invés de contra-argumentar diz ser minha argumentação egocêntrica. Eu respondi da primeira vez lhe mostrando não ser, pois sendo opinião partilhada por muitos, e até comum no meio fotográfico, não é egocêntrica.

    Mas deixa quieto. Só penso que argumentos não “ad homine” seriam mais interessantes.

  16. Ivan,

    Só acho que você tem estado mais intolerante com vertentes divergentes na fotografia. Eu entendo perfeitamente que você precise traçar limites para a sua prática, e concordo que esses limites podem favorecer a criatividade. Entendo também que, para você e para outros fotógrafos, de renome inclusive, esses limites sejam a essência da fotografia. Também reconheço a importância de aspectos da prática fotográfica que pouco têm a ver com o resultado mas que podem ser de fundamental importância para o fotógrafo.

    No entanto, tenho dificuldade em lidar com uma delimitação tão categórica sobre o que é ou não fotografia — coisa com que eu nem me preocupo tanto, mas sobre a qual acabo falando mais do que deveria e gostaria. Quando vejo tanta gente tentando achar essa definição e não conseguindo, é complicado simplesmente fechar a questão com uma resposta, sem questionamento.

    Além disso, você sabe que, nesse contexto, falar que algo não é fotografia é desvalorizar. Os exemplos desse artigo podem ser rasos, mas o são simplesmente para que o argumento fique claro. Mas você sabe que tenho muita resistência em fazer qualquer desqualificação do tipo “isso vale, isso não vale”. Tem muita coisa medíocre publicada, mas que nem por isso deixar de ser fotografia. Na verdade, a minha tendência é considerar fotografia tudo aquilo que é feito com a câmera.

  17. Rodrigo;

    Traçar limites é necessário, não é ato restritor mas sim libertador. No jogo das palavras, a mais precisa é aquela que indica uma só coisa, e aquela indicativa de muitas coisas decai de significação, fica vaga e fraca.

    Todas as práticas-artes têm limites conceituais. A fotografia não seria a única a não tê-los. O mero uso da câmera não pode ser critério, da mesma forma que o mero uso do pincel não faz a pintura. É um critério simples, uma resposta simples para uma questão complexa. As respostas simples e não custosas são atraentes, nos dão certo conforto pois custam pouca responsabilidade, mas não necessariamente são respostas profícuas no sentido de orientar o desenvolvimento da prática.

    Ao nos perguntarmos pelos limites do que seja fotografia, estamos escolhendo para onde dirigiremos nossa atenção no futuro. Estaremos guiados por essa definição, e, em meu entendimento, toda prática precisa de guia.

    Voltemos à foto da mulher com o coração. Não é possível negar haver nela muito de prática fotográfica. Ela foi feita com uma câmera -seu critério- e além disso foi cuidadosamente composta e iluminada, foi produzida dentro de um método de produção fotográfica. Uma fotografia publicitária seria produzida exatamente da mesma maneira.

    Contudo, uma fotografia publicitária SERVE a algo. Não é autônoma, não é fotografia no sentido de ter vida autônoma, MOTIVO autônomo, em resumo: motivo fotográfico. Não é a fotografia aquilo que interessa, é o reclame publicitário, e para produzi-lo usa-se a fotografia e depois ela é cortada, retalhada, transformada, mostrando sua natureza de mero insumo.

    Por que apresentar aqui esses argumentos? Pois bem, ao escrever esse artigo, você não está defendendo a fotografia publicitária -nem ela precisa dessa defesa. Você está porpondo como caminho de desenvolvimento fotográfico autoral a vertente conceitual, aqui exemplificada de forma a ser uma articulação de ícones (imagens se signficado definido). Ora, vejo que na defesa de um caminho de fotografia autoral, você vem defender algo que exatamente caminha através de uma motivação não autonômica, ou seja, uma motivação não fotográfica, mas quando muito semiótica, jogo de ícones. E o resultado é o que? É um jogo de ícones, meramente, onde a fotografia não tem importância nenhuma. Não tem importância porque eu poderia desenhar aquela mão tocando a mão que toca piano, e o significado seria exatamente o mesmo da fotografia. O fato de ser fotografia nada acrescenta.

    Essa é a questão, Rodrigo. Quando o fato de ser fotografia nada acrescenta, não é uma fotografia, é apenas uma ilustração feita através da fotografia. Particularmente, eu preferiria desenhar.

    Meu critério sobre o que é fotografia é simples: fotografia é algo que só pode existir como fotografia. Quando isso acontece é porque o autor usou os instrumentos únicos da fotografia para criar, e obteve deles coisas únicas que só a fotografia dá.

    Contrariamente a você, sinto necessidade de mover quase uma cruzada contra a fotografia feita de ícones. É uma das maiores pragas da fotografia atual, é uma articulação simbólica fraca, primária, os ícones são primários na grande maioria das vezes, e o signficado da imagem parece uma daquelas “cartas enigmáticas” que havia nas revistas de passatempo de antigamente:
    http://blogauladeportugues.blogspot.com/2009/03/carta-enigmatica.html

    Fotografia conceitual, nos termos descritos, é Carta Enigmática. É um negar da fotografia em seu mistério único.

  18. Preciso de ajuda na análise de uma obra, que creio ser conceitual. O artista dividiu um objeto em partes iguais, separou uma parte, fotografou o restante num fundo negro e depois da foto pronto em foramato de tela ele colou a parte que foi retirada. Preciso situar essa obra em um movimento.Por favor como faço p/ enviar a imagem e alguem me ajudar nos cometarios. Obg.

  19. Boa noite,
    Ivan e Rodrigo, li o debate de idéias acima e não pude deixar de me manifestar. Afinal, alguém que lê sobre fotografia conceitual às 3h e 30 min de uma sexta feira está no mínimo interessado no assunto ou com alguma patologia psíquica… rs.
    Bom, acredito que a diferença de opiniões entre vocês esteja na diferença entre a fotografia dos fotógrafos, o fotógrafo-artista e o artista. Contemporaneamente, a capacidade de expressão da fotografia foi o que possibilitou uma transformação dos valores e estruturas no campo da arte e foi promovida por uma desterritorialização dos valores técnicos e culturais da fotografia. Devo acrescentar que não possuo uma opinião formatada a respeito da arte contemporânea, apenas estou buscando compreendê-la, mas, penso que a arte, tanto quanto a fotografia, ainda não se recuperaram da ruptura com modernismo. Houve uma expansão e junto com ela uma certa confusão, isto é, a coisa degringolou em certos aspectos.
    Este regime de comunicação a q vc se refere Ivan, passou a ser um dos elementos que compõe a arte e não se pode negá-lo. Aqui, a dificuldade está em aliar a percepção de mundo com o conhecimento, mas, como tudo anda tão superficial, a quantidade de porcarias que nos aparece acaba dificultando um pouco à compreensão deste fenômeno, ainda que exista bons trabalhos por aí.
    No momento estou pesquisando sobre a Cindy Sherman, ainda não consegui dicernir se ela é uma artista ou uma fotógrafa-artista, mas, o trabalho dela é um bom exemplo de que a fotografia conceitual pode ser muito boa se bem executada, ultrapassando este mero caráter de fotografia sucedida e penetrando em algo mais substancial.
    Parabéns pelo site, esta abertura ao diálogo me parece ser sincera assim como a paixão pela fotografia. Fico feliz. Obrigado e até a próxima disfunção psíquica… haha

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